Calais. Imigrantes descobrem código para porta do Eurotúnel

Calais. Imigrantes descobrem código para porta do Eurotúnel


Os cidadãos clandestinos terão conseguido decifrar o código depois de perceberem que havia botões mais usados que outros.


Os imigrantes em Calais estão a fazer do desespero um ânimo astucioso. O jogo de vida e morte passa por vencer as forças de segurança que impedem que façam a travessia do canal da Mancha, usando o Eurotúnel que liga o porto no norte da França ao Reino Unido. Após vários terem sido atropelados ao tentarem apear-se em camiões que fazem a ligação, as medidas de segurança estão a ser reforçadas mas houve alguns que conseguiram abrir uma passagem no complexo: uma porta trancada mecanicamente.

O que os imigrantes conseguiram foi dar a volta ao código de segurança da porta. Passaram algum tempo de volta do teclado da porta e perceberam que havia alguns botões mais sujos. Mais gastos significa que eram os mais pressionados.

Os números zero, dois e quatro, de acordo com o “Daily Telegraph”. Um repórter do diário britânico diz ter testemunhado o momento em que um grupo de 30 imigrantes resolveram o puzzle do código de uma porta que tinha mais uso que as outras.

Bruno Noel, do sindicato da polícia na área de Calais, contou ao jornal que aquele “muro estava ali há muito tempo e, como se sabe, quando se insere um código não se toca em todos os botões para apagar o rastro, por isso é normal que os botões que correspondem ao código estejam mais sujos que os outros”.

A entrada fica a quase 5 quilómetros da boca do túnel no complexo de Coquelles, que teve um reforço da segurança nas últimas horas. Entretanto, foi colocado um cadeado naquela passagem.

Apesar do seu engenho, a maioria dos imigrantes que se serviram desta entrada foram pouco depois apanhados por uma equipa de segurança. Não foram avançados detalhes sobre quantos terão ido até ao fim, chegando ao Reino Unido. Esse é o destino final com que sonham os milhares de clandestinos que têm chegado a Calais. Acreditam que do lado de lá do canal encontrarão uma vida melhor. Mas as autoridades britânicas têm feito de tudo para desfazer-lhes o sonhos, indo ao ponto de ameaçar cortar o subsídio semanal pago aos 14 mil imigrantes que já se encontram no país e que viram o pedido de asilo ser-lhes recusado.

O lapso de segurança foi revelado no mesmo dia em que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou que a primeira fase do reforço das barreiras estava concluída. Um porta-voz do Ministério do Interior adiantou que o “governo britânico investiu recentemente 7 milhões de libras (cerca de 9,9 milhões de euros) para melhorar a segurança à volta das plataformas do Eurotúnel, bem como outras cercas em redor do perímetro”.

Cameron referiu que “nos últimos dias muito foi feito para melhorar a situação, mas há ainda muito a fazer”. “Já temos mais barreiras, temos mais polícias, mais cães, mais guardas, melhor segurança, e estamos a fazer progressos”, congratulou-se. Até ao final do mês passado cerca de 3200 imigrantes tentaram entrar no país através do Canal da Mancha.

Já esta semana, em entrevista à Lusa, Vítor Rosa, investigador e funcionário da associação France terre d’asile, descreveu como um “drama humanitário” a situação em que vivem os clandestinos que se reuniram em Calais.

Quanto ao reforço da presença policial junto à entrada do Eurotúnel, Vítor Rosa considera que se trata de uma medida "ineficaz para combater todo este problema" já que "os imigrantes arriscam cada vez mais ao tentar a travessia para o Reino Unido", lembrando, porém, que a medida é solicitada pelo receio dos habitantes de "uma pequena localidade onde estão imensas pessoas que precisam de dormir, comer, etc".

O investigador explicou, ainda, que "como é muito difícil passar para o Reino Unido", muitos imigrantes ficam por Paris, onde vão surgindo campos de refugiados, como o que foi desmantelado "debaixo do metro La Chapelle", no 18º bairro da capital.