Há uma razão para os milhões de pessoas que fugiram dos seus países de origem no Médio Oriente e no continente africano nos últimos anos não terem procurado refúgio nos países mais ricos dessas regiões. Considere-se, por exemplo, a proximidade do próspero reino da Arábia Saudita de alguns dos países de onde mais gente tem fugido na última década. Partilha uma longa fronteira com o Iraque e outra com o Iémen, mas nem os iraquianos nem os iemenitas fogem para lá. Os afegãos que escapam ao jugo dos talibãs demoram menos tempo a chegar lá que à Europa. E os sírios estão mais ou menos à mesma distância do reino sunita que da Grécia ou de Itália. Mas quase ninguém procura refúgio na Arábia Saudita.
“Países como a Arábia Saudita ou o Qatar não são signatários da Convenção de Refugiados e são famosos pelo tratamento absolutamente horrível e pelas condições de escravatura a que sujeitam as suas populações de imigrantes”, explica ao i Martin Lemberg-Pedersen, do Centro de Estudos Avançados de Migrações na Universidade de Copenhaga. “Da perspectiva dos refugiados, não há grande segurança em ser sem–abrigo no deserto. Em segundo lugar, nos últimos anos os dois países têm seguido o modelo da União Europeia, construindo fronteiras militarizadas com regimes de controlo estrito para manter estas pessoas fora. Portanto é verdade que alguns países daquela região não estão a acolher migrantes. Mas, na verdade, se observarmos os actuais destinos dos refugiados, a maioria fica em países próximos.”
O caso mais notório é o da Síria: do total “estonteante” de 12 milhões de refugiados sírios, de uma população que totaliza 20 milhões de pessoas, 8 milhões estão deslocados internamente, enquanto 4 milhões estão nos países periféricos: 800 mil no Líbano, 1,4 milhões na Jordânia e 2 milhões na Turquia – contra o total de 250 mil sírios que chegaram à UE.
“A mesma tendência é observada noutras vagas de migração que não a síria”, aponta o especialista dinamarquês. Segundo dados compilados pelo centro onde Lemberg-Pedersen trabalha, entre 90% e 95% do total de pessoas que fogem a guerras e à repressão nos seus países ficam nas regiões de origem. Apesar de nem sequer considerarem a Arábia Saudita, o Qatar ou os Emirados Árabes Unidos como destino de fuga, outros países da região também estão a acolher migrantes. O caso do Egipto é dos mais notórios: no último ano acolheu 130 mil refugiados, sobretudo sírios, o que corresponde a mais de metade do total de pessoas que chegaram aos 28 estados-membros da UE.