Montepio. José Félix Morgado, o obstinado

Montepio. José Félix Morgado, o obstinado


Quem o conhece aposta que o novo presidente do Montepio vai fazer uma política de terra queimada:crescer pela redução de custos.


Os amigos dizem na brincadeira que José Félix Morgado não chega a sair do sector do “papel” ao deixar a Inapa para regressar à banca. Mais a sério, garantem que é o homem certo para liderar a Caixa Económica Montepio Geral, sobretudo nos tempos conturbados que atravessa.

Afinal, Félix Morgado tirou a Inapa do vermelho. No BCP, onde exerceu funções na banca de investimento, era ele que acompanhava este dossiê e foi para a empresa em representação do banco, para seguir de perto a reestruturação da papeleira, com o acordo de Vasco Pessanha, presidente e dono da companhia. E foi aí que, nos últimos anos, acabou por desenvolver as aptidões de CEO (Chief Executive Officer).

Aí e, muito provavelmente, a liderar a sua pequena grande equipa. Uma equipa que funciona noutra esfera, mas que exige igual dedicação e uma liderança não menos afirmativa: Félix Morgado tem seis filhos.

Talvez por tudo isto – a par de uma formação que inclui a licenciatura em Administração e Gestão de Empresas pela Católica e uma especialização em Gestão de Activos e Passivos pelo INSEAD –, José Félix Morgado é tido como um homem obstinado. Competente e rigoroso, é de elogio fácil para quem acerta, mas implacável para quem falha.

E é neste domínio que surgem as maiores incógnitas. Algumas pessoas contactadas pelo i questionam quanto tempo irá durar o “namoro” entre Félix Morgado e Tomás Correia, que até aqui acumulava o cargo de presidente da Montepio Geral Associação Mutualista e da Caixa Económica Montepio Geral. Ambos têm personalidades bastante afirmativas e, se Tomás Correia se candidatar ao próximo mandato, como já disse que fará, e vencer, mais tarde ou mais cedo há quem receie uma luta pelo poder.

estratégia Para já, Félix Morgado está de férias, das quais não abdica no mês de Agosto. Em família. Pelo menos uma quinzena é passada no Algarve.

Mas o novo presidente do Montepio é um estratega. E há já quem lhe adivinhe os passos. Diz quem está habituado a trabalhar com ele que tem um estilo de liderança duro, muito focado nos custos. “É um homem duro na relação. E exigente.”

Acreditam que irá fazer uma política de terra queimada. “Tem um relação tensa, quando as empresas estão em dificuldades opta por uma estratégia pouco comercial, no sentido em que a recuperação faz-se pelo lado dos custos, o que é adequado aos tempos que correm”. 

Como no futebol de cinco (e, já agora, é sportinguista), que joga todas as semanas com um grupo de amigos empresários, Félix Morgado está habituado a finalizar. Por isso, os antigos colegas de trabalho antecipam-lhe os movimentos: reduzir participações para melhorar os rácios de solvabilidade, reduzir pessoal – primeiro através de reformas antecipadas –, e reduzir a rede de balcões.

Em breve saberemos, pois, embora não seja obrigatório, o i sabe que o Montepio quer apresentar publicamente os resultados do semestre. Talvez nessa altura Félix Morgado desvende parte da estratégia que irá concretizar com a ajuda de alguns ex-companheiros do BCP, que agora fazem parte dos órgãos sociais da Caixa Económica.

Uma coisa é certa, Félix Morgado é um nome a reter. Se assim não fosse, o ex-ministro das Finanças Eduardo Catroga, que se gaba de conhecer todos os “jovens de elevado potencial” – e não conhece este – não iria convidá-lo para almoçar em breve. E vai.