Regresso às origens. 42 bispos portugueses vão ao Vaticano contar como está o país

Regresso às origens. 42 bispos portugueses vão ao Vaticano contar como está o país


Visita “ad limina” acontece de cinco em cinco anos. Política deverá estar na agenda, em época de pré-campanha.


É uma espécie de regresso às origens da Igreja e acontece uma vez de cinco em cinco anos. Os 42 bispos portugueses – entre residentes, auxiliares e eméritos – vão viajar no início de Setembro até Roma. A visita “ad limina” começa no dia 6 e dura uma semana. É certo que o objectivo do encontro é discutir o estado e a evolução da Igreja em Portugal. Mas, este ano, a visita encerra uma particularidade: coincide com a época de pré-campanha eleitoral.

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Por isso, acreditam bispos e padres com que o i falou, temas como a política, a economia e o desemprego farão parte da agenda. Até porque estes encontros constituem um canal privilegiado para o Papa se inteirar do que vai acontecendo em cada nação.

Os bispos portugueses, ao que o i apurou, vão viajar em dois grupos distintos – todos de avião e em classe económica. No dia 4 de Setembro, parte o primeiro, do Porto e composto pelos bispos do Norte. No dia seguinte, saem de Lisboa os bispos da zona Sul. Já em Roma, o programa contempla, logo no dia 6, uma visita cultural. Em 2007, a actividade consistiu numa viagem ao mosteiro beneditino de Subiaco, onde morreu S. Bento.

Mas o tempo de passeio em Itália será de curta duração. No dia 7 de Setembro, às 9h de Roma, os bispos das províncias eclesiásticas de Lisboa e de Évora já estarão reunidos com o Papa Francisco. Duas horas depois, são recebidos os bispos da província eclesiástica de Braga (que engloba oito dioceses, entre as quais a maior do país, o Porto). Nestes encontros, Francisco fará um discurso, tendo por base o grande relatório que a Santa Sé recebeu, há seis meses, da Igreja portuguesa e em que é descrita a situação particular de cada diocese.

Todos os anos, até 15 de Março, as dioceses têm de enviar para Roma uma espécie de relatório estatístico, informando a Cúria dos dados mais relevantes sobre a sua vida – como o número de casamentos, funerais e baptizados celebrados ou o número de seminaristas e sacerdotes. Em ano de visita “ad limina”, como o actual, esse relatório é aprofundado e tem de chegar à Santa Sé pelo menos seis meses antes da visita ao Papa.

Do documento consta, de forma detalhada, toda a informação sobre a vida das dioceses, dos movimentos religiosos, das congregações e das comissões da Conferência Episcopal.

É a partir deste grande relatório, elaborado de cinco em cinco anos, que o Vaticano emana orientações, por forma a corrigir problemas encontrados ou a melhorar aspectos pastorais ou estruturais. Na última visita “ad limina”, por exemplo, Bento XVI pediu alterações à pastoral portuguesa e foi debatido o problema da desertificação das paróquias do Interior. O Papa emérito sugeriu que a pastoral fosse adequada a estas novas realidades demográficas.

Até ao dia 12 de Setembro, os bispos vão estar divididos em grupos especializados, consoante a sua área de trabalho habitual na Conferência Episcopal. Cada grupo irá ter encontros separados nos respectivos dicastérios, para apresentar e debater a actual situação em Portugal. Além dos temas religiosos e estruturais da Igreja, o debate estende-se, inevitavelmente, a outras questões – porque a Conferência Episcopal, onde têm assento todos os bispos, inclui comissões e secretariados especializados.

A Comissão da Pastoral Social e Mobilidade Humana, presidida pelo bispo D. Jorge Ortiga, por exemplo, debruça-se sobre temas como as migrações e questões sociais e económicas –  como o desemprego, a precariedade – , além da acção social da Igreja. Por isso, estes assuntos são incluídos no relatório enviado para a Santa Sé e, como tal, serão debatidos.  A meio da semana, na quarta-feira, os bispos portugueses voltam a encontrar-se com o Papa Francisco, na habitual audiência geral.

Mais para o final do ano, em Novembro, os bispos voltam a juntar-se, em Fátima, na habitual reunião da Conferência Episcopal, para debater os resultados das reuniões no Vaticano. Antes disso, em Outubro, arranca em Roma o sínodo da família, onde os bispos são chamados a pronunciar-se sobre temas polémicos, como o acolhimento de divorciados e gays.