Pragas


O leão Cecil pode ter morrido às mãos de um idiota, mas a Europa não está melhor nas mãos dos actuais dirigentes.


O drama do leão Cecil é a mais bela metáfora dos nossos dias. Quando diariamente, morrem dezenas ou centenas de migrantes que atravessam o Mediterrâneo, o mundo olha num misto de alívio e indiferença. Mas quando o mais popular dos leões do Zimbábue foi morto por um dentista norte-americano, o público manifestou-se (nas redes sociais) como se não houvesse amanhã.

Esta desproporção entre os valores da vida humana e da vida animal é, com todo o respeito para com os animais, uma evidência do egoísmo humano. Quero dizer, a morte bárbara de um animal em vias de extinção revolta-nos porque sabemos que aos poucos os leões estão a desaparecer da Terra e porque foi vítima de um caçador frívolo. Mas a morte diária de seres humanos que fogem da miséria ou de regimes insuportáveis já não nos incomoda ou então até (secretamente) nos tranquiliza, porque são menos uns que nos ameaçam.

Se alguém meter numa pequena arca de Noé uma meia dúzia de grandes mamíferos e outras espécies simpáticas no meio do Mediterrâneo e se ela se afundar, aqui del rei. Se encherem a mesma arca de negros ou muçulmanos e ela naufragar, já nem queremos saber. Mas não há nada a fazer, porque os leões acabarão por sobreviver apenas em zoos, enquanto os negros e os muçulmanos tomarão a Europa e transformarão a nossa civilização.

Estão à espera de quê? De erguer barreiras e arame farpado à volta de todas as praias da Europa e construir um gigantesco Muro de Berlim nas fronteiras do Leste europeu? E mesmo assim eles continuarão a vir – a pé, de barco, de avião – ao mesmo tempo que a Europa asfixia demograficamente, sem filhos que reponham as gerações.

O leão Cecil pode ter morrido às mãos de um idiota, mas a Europa não está melhor nas mãos dos actuais dirigentes. O drama das migrações não se resolve como se fosse uma “praga humana” (expressão do primeiro-ministro britânico), mas tapando o fosso entre pobres e ricos da Terra.

Escreve à sexta-feira

Pragas


O leão Cecil pode ter morrido às mãos de um idiota, mas a Europa não está melhor nas mãos dos actuais dirigentes.


O drama do leão Cecil é a mais bela metáfora dos nossos dias. Quando diariamente, morrem dezenas ou centenas de migrantes que atravessam o Mediterrâneo, o mundo olha num misto de alívio e indiferença. Mas quando o mais popular dos leões do Zimbábue foi morto por um dentista norte-americano, o público manifestou-se (nas redes sociais) como se não houvesse amanhã.

Esta desproporção entre os valores da vida humana e da vida animal é, com todo o respeito para com os animais, uma evidência do egoísmo humano. Quero dizer, a morte bárbara de um animal em vias de extinção revolta-nos porque sabemos que aos poucos os leões estão a desaparecer da Terra e porque foi vítima de um caçador frívolo. Mas a morte diária de seres humanos que fogem da miséria ou de regimes insuportáveis já não nos incomoda ou então até (secretamente) nos tranquiliza, porque são menos uns que nos ameaçam.

Se alguém meter numa pequena arca de Noé uma meia dúzia de grandes mamíferos e outras espécies simpáticas no meio do Mediterrâneo e se ela se afundar, aqui del rei. Se encherem a mesma arca de negros ou muçulmanos e ela naufragar, já nem queremos saber. Mas não há nada a fazer, porque os leões acabarão por sobreviver apenas em zoos, enquanto os negros e os muçulmanos tomarão a Europa e transformarão a nossa civilização.

Estão à espera de quê? De erguer barreiras e arame farpado à volta de todas as praias da Europa e construir um gigantesco Muro de Berlim nas fronteiras do Leste europeu? E mesmo assim eles continuarão a vir – a pé, de barco, de avião – ao mesmo tempo que a Europa asfixia demograficamente, sem filhos que reponham as gerações.

O leão Cecil pode ter morrido às mãos de um idiota, mas a Europa não está melhor nas mãos dos actuais dirigentes. O drama das migrações não se resolve como se fosse uma “praga humana” (expressão do primeiro-ministro britânico), mas tapando o fosso entre pobres e ricos da Terra.

Escreve à sexta-feira