6 de Agosto de 1945. 8h15. O piloto americano Paul Tibbet voava pelos céus americanos ao leme do Enola Gay, o bombardeiro B-29 que tinha sido baptizado com o nome da sua mãe. A bordo seguia o primeiro engenho atómico – com o nome de código Little Boy – que seria largado na cidade de Hiroxima. A bomba causou de imediato entre 60 e 80 mil mortos. Nos dias seguintes o número subiria para 140 mil.
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Na viagem de volta, em direcção à base aérea de Tinian, o co-piloto do Enola Gay, Robert Lewis, rabiscava interrogações no seu diário de bordo. “Quantos japoneses matámos?”, “Meu Deus, o que fizemos?”. E continuava: “Voltei a olhar pela última vez para a nuvem em cogumelo e realmente acho que os japoneses vão-se render antes mesmo que aterremos.”
Lewis errou a estimativa. A rendição japonesa custou aos Estados Unidos mais uma bomba atómica, desta feita em Nagasáqui, três dias depois, e passados 14 dias o imperador Hirohito abanava os lenço branco. O Japão capitulava, a guerra terminava e estava paga a dívida de Pearl Harbor.
MANHATTAN PROJECT
Alguns anos antes de morrer, em 2002, Paul Tibbet deu uma entrevista ao “The Guardian”. O piloto revelou detalhes dos bastidores do projecto que culminou nos bombardeamentos de Hiroxima e Nagasáqui. Em Setembro de 1944, conta que foi chamado por um professor de Física Nuclear da Universidade de Columbia, Norman Ramsey, que o pôs a par da situação: “OK, nós temos aquilo a que chamamos o Projecto Manhattan. O que estamos a fazer é a desenvolver uma bomba atómica e chegámos ao ponto onde apenas precisamos de aviões para continuar.”
O projecto estaria a ser desenhado desde 1942, sob o comando físico Robert Oppenheimer e do general Leslie Groves. No início era suposto que as bombas fossem derrubadas algures na Europa e no Pacífico mas, após a rendição de Hitler, o alvo a abater tornou-se claro: o Japão.
ACTUALIDADE
Depois da destruição, o Japão com o auxílio dos (agora) aliados Estados Unidos, reergueu-se como uma fénix das cinzas. O segredo foram “os métodos de ensino, apoiados numa cultura disciplinada, que formaram profissionais altamente capazes, recrutados pelas indústrias”, explica Adriano Silva, mestrando de arquitectura da Universidade do Minho e autor da dissertação “Reconstruindo Hiroxima 1964-2004: um ensaio projectual sobre um organismo na cidade”.
Porém, a radioactividade persistiu e causou mortes incalculáveis nos anos seguintes. A verdade é que os próprios americanos, não teriam noção do “bónus” que a bomba atómica traria e dos efeitos colaterais da radiação.
Foi um mal necessário? Uma pesquisa do Pew Research Center, em Fevereiro, concluiu que 56% dos americanos consideram que o uso da bomba atómica foi justificado e 79% de japoneses pensam o contrário.
Editado por José Cabrita Saraiva