Ceuta


Faz por estes dias 600 anos que D. João I, juntamente com os filhos, terá passado em frente do sítio onde me encontro, vindo de Lisboa para atracar aqui mesmo ao lado, em Lagos, antes de seguir para Ceuta.


Da janela do quarto vejo a praia e o mar. É noite e a lua está cheia; é uma bola branca a iluminar a água calma, que mais parece uma superfície mole que se moldaria à nossa passagem. Faz por estes dias 600 anos que D. João I, juntamente com os filhos, terá passado em frente do sítio onde me encontro, vindo de Lisboa para atracar aqui mesmo ao lado, em Lagos, antes de seguir para Ceuta. Milhares de cavaleiros e soldados, dezenas de barcos que não terão passado despercebidos. Alguns poderão mesmo ter atracado neste sítio. 

São inúmeras as razões que conduziram a esta empreitada economicamente fracassada. Mas esta crónica não visa isso. Pretendo apenas salientar que há 600 anos, 30 depois de terminado o interregno de 1383-1385, Portugal iniciava um percurso que mudaria para sempre a vida em todos os continentes.

Há uns anos li “Empires of the Sea – The Contest for the Center of the World”, de Roger Crowley, que nos relata a guerra que marcou o Mediterrâneo durante o século xv. É muito interessante perceber como, enquanto os portugueses desciam o Atlântico, espanhóis e turcos se digladiavam pelo domínio de um mar que já não era central. 

Essa mudança fulcral foi feita em silêncio, dando o mínimo possível nas vistas para não chamar as atenções. Os grandes feitos são assim: discretos. Como talvez discretamente tenham passado aqui em frente desta praia os barcos a caminho de Ceuta. Seis séculos depois pouco mais nos resta que lembrar.

Advogado. 
Escreve à quinta-feira 

Ceuta


Faz por estes dias 600 anos que D. João I, juntamente com os filhos, terá passado em frente do sítio onde me encontro, vindo de Lisboa para atracar aqui mesmo ao lado, em Lagos, antes de seguir para Ceuta.


Da janela do quarto vejo a praia e o mar. É noite e a lua está cheia; é uma bola branca a iluminar a água calma, que mais parece uma superfície mole que se moldaria à nossa passagem. Faz por estes dias 600 anos que D. João I, juntamente com os filhos, terá passado em frente do sítio onde me encontro, vindo de Lisboa para atracar aqui mesmo ao lado, em Lagos, antes de seguir para Ceuta. Milhares de cavaleiros e soldados, dezenas de barcos que não terão passado despercebidos. Alguns poderão mesmo ter atracado neste sítio. 

São inúmeras as razões que conduziram a esta empreitada economicamente fracassada. Mas esta crónica não visa isso. Pretendo apenas salientar que há 600 anos, 30 depois de terminado o interregno de 1383-1385, Portugal iniciava um percurso que mudaria para sempre a vida em todos os continentes.

Há uns anos li “Empires of the Sea – The Contest for the Center of the World”, de Roger Crowley, que nos relata a guerra que marcou o Mediterrâneo durante o século xv. É muito interessante perceber como, enquanto os portugueses desciam o Atlântico, espanhóis e turcos se digladiavam pelo domínio de um mar que já não era central. 

Essa mudança fulcral foi feita em silêncio, dando o mínimo possível nas vistas para não chamar as atenções. Os grandes feitos são assim: discretos. Como talvez discretamente tenham passado aqui em frente desta praia os barcos a caminho de Ceuta. Seis séculos depois pouco mais nos resta que lembrar.

Advogado. 
Escreve à quinta-feira