Gente conhecida em Cuba? Há Ricardo Landum, autor de êxitos como “Afinal Havia Outra” e compositor de muitas das letras de Tony Carreira. Não anda pela vila, por isso sugerem-nos uma visita a Pedro “Malandro”. Este cubense de 98 anos nunca conheceu os holofotes, mas também foi artista.
Está no lar da Santa Casa e ficou conhecido pelo seu jeito de desencantar versos… e por chamar malandro a toda a gente, sobretudo se não estavam a trabalhar. “Até o padre me disse ‘só você para chamar malandro a um padre’”, sorri Pedro. Ainda lembra uns versos? “Senhora de Aires milagrosa/ Cada vez tem mais valor/ tem pouco campo ditosa/ Tem pouco campo ditosa/ para tantos milagres pôr” é o que sai primeiro. Mas os que tinham mais sucesso, e punham toda a miudagem a rir, não eram mais que a conjugação dos verbos que aprendeu nos bancos da escola. “Eu sou/ Tu és/ Ele é/ Nós somos/ Vós sois/ Eles são/ Eu vou/ Tu vais/ Ele vai/ Nós vamos/ Vós ides/ Eles vão”, exemplifica. “E perguntavam-me onde eu tinha aprendido aquilo!”, diz Pedro. Havia, por fim, os marotos. “A minha mãe chamou a Ana/ E ela ainda não veio/ Foi o filho da Mariana /Que a levou para o passeio/ Porque é que não respondes/ Com o filho da Mariana porque é que te escondes/” E ai a memória de Pedro a falhar, mas “terminava com a mãe a compreender, porque tinha feito o mesmo.” Isto do “sentido se estar a ir” é que chateia o cubense.
Trabalhou toda a vida no campo e recorda ainda as noites passadas ao relento a guardar as máquinas como se fossem rebanhos. Ainda deixou algumas coisas escritas em casa, mas a maioria dos versos perderam-se. Nos tempos livres acompanhava a banda filarmónica, mas nunca soube tocar, embora apreciasse. “Os do campo não tinham entrada na banda”, diz. Se pudesse, gostava de ter aprendido trompete.