Tenho quase a certeza de que a grande maioria dos portugueses não acredita numa só palavra do que alguns políticos dizem (e este não é só um caso português, pela Europa fora transbordam os casos semelhantes). Sobretudo em campanha eleitoral. Ninguém se esqueceu dos discursos ouvidos há uns anos e nas consequências a que os mesmos deram origem na prática. Se necessário fosse confirmar no dia-a-dia o provérbio “palavras leva-as o vento”, não seria necessário mais nada. Julgo que esse é um dos maiores problemas que as democracias ocidentais enfrentam: esta desconfiança galopante. Uma grande parte dos seus políticos perdeu completamente a vergonha e diz não importa o quê para agradar às plateias que os ouvem e depois vão votar.
Aliás, toda a organização das sociedades está a alinhar pelo mesmo. O que é importante é ter audiências, na televisão, no cinema, no teatro, nos supermercados, no futebol, na educação, na política. A tentação do mais fácil e do mais agradável aos ouvidos das grandes massas leva muitos a chafurdar no lixo mais básico, sem qualquer preocupação que não sejam as audiências, isto é, o lucro. Tudo pode dar lucro ou tudo tem de dar lucro. É o empreendedorismo económico! Para que tudo dê lucro, manipulam-se os dados, inventam-se razões, estabelecem-se estatísticas, tira daqui põe acolá, mais um cheirinho disto e outro daquilo, o resultado é sempre o desejado. Se não for, quem tem a culpa é o adversário, que não compreende a lógica deste raciocínio. Ou o ouvinte/leitor que, na sua ignorância, não atinge a beleza lapidar da congeminação.
Devo confessar que ainda acredito em alguns. Divididos por diversos partidos, acredito que, por caminhos diferentes, pretendam o melhor para Portugal e os portugueses. Cada um terá a sua via para a salvação, cabe-nos a nós escolher e ler nas entrelinhas o que nos parece mais adequado como terapia social. Agora todos defenderam o Estado social. Claro! Todos querem mais apoios para a classe média, redução de impostos para os mais desfavorecidos (sobretudo para os que já não pagam impostos, pois não recebem verba que o permita), mais isto, menos aquilo…
Tenho muitas dúvidas de que a maioria dos portugueses neles acredite. Mas fica-me uma outra dúvida, mais inquietante: será que eles próprios acreditam em si?
Escreve à sexta-feira