Começam a ser conhecidos os programas eleitorais, lançadas as promessas, os projectos de cada um, mas o medo instalou-se no discurso político, agora como argumento para uma escolha que terá de ser livre. Nestes dias é impossível não nos vir à memória a velha história da mãe que fazia uma sopa intragável, mas lá assustava a criancinha na hora de a comer com o papão, que já estava a chegar à porta.
O menino comia, temendo o “bicho”, mas no dia em que percebeu que não havia papão, nunca mais quis saber de sopa nem da mãe. Teria sido mais fácil fazer uma bela e saborosa sopa, falando à criança das propriedades da cenoura e das couves, que até tornam os olhos mais lindos. Esses meninos, da boa sopa, cresceram a acreditar na mãe, confiantes no prato que ainda comem todos os dias. Têm convicções, procuram a competência, gostam de estar sempre ao lado dos melhores, odeiam corrupção e os que chegam ao que parece o topo sem mérito, vivendo apenas do que lhes dá a clientela. Esta é a altura de provar os pratos e perceber quem tem legumes frescos e variados e quem apenas nos quer fazer engolir mais uma receita sem saber nem sabor. Os políticos gostam de enaltecer a sabedoria dos portugueses na hora de escolherem mas, com a argumentação neste nível, não sei se há sabedoria que resista a tantos papões e fantasmas a esconder as verdadeiras intenções de cada um.
O futuro da Segurança Social será um desses temas que merecem um debate aberto e claro. Se a ideia é privatizar o sistema, ou parte dele, deve ser assumida, deixando uma margem de consciência bem larga aos que escolherem esta opção. Se não for esse o caminho, continuando as reformas a serem pagas pelo que conhecemos ainda hoje, teremos de perceber, sem ambiguidades, de onde virá mesmo o dinheiro. Estamos a falar do nosso futuro, dos dias em que já sabemos que não há papões, mas em que queremos ter uma vida tranquila, suportada pelo rendimento seguro de uma vida de trabalho.
Jornalista RTP. Coordenador Jornal 2 – RTP2. Escreve à sexta-feira