Ferreira da Silva

Ferreira da Silva


O artista que correu atrás das melhores argilas.


Luís Ferreira da Silva, nascido no Porto mas há muitos anos a residir na zona Oeste, é hoje uma figura incontornável das Caldas das artes e da cerâmica. Mora no Alto das Gaeiras, lugar à saída da cidade, e é lá que o encontramos  perguntando de porta em porta, que o artista é um homem reservado. Delicado, interrompe o jantar para nos receber numa “sala de visitas” peculiar: a sua carrinha estacionada à porta de casa.

É impossível fazer cerimónias. Ferreira da Silva nunca larga o seu chapéu de palha e não gosta muito de fotografias, mas acabará por ensaiar uma pose para estas páginas. Mesmo assinar tem sido o cabo dos trabalhos: durante anos usou uma figura para cada fase do seu trabalho, explica. E hoje? “Assino F.S.” Aos 87 anos, divide-se entre a cerâmica, a pintura, o desenho, a escultura, a gravura e a aguarela, toda a arte. Do Porto mudou-se em jovem para Coimbra. Esteve no Bombarral, em Alcobaça e em Paris, sempre correu atrás das melhores  argilas, justifica.

Percebeu a vocação aos cinco anos, quando o pai lhe deu um lápis. “Comecei a fazer uns rabiscos e nessa noite até dormi com ele.” Não há uma inspiração. “O essencial é nunca parar de trabalhar”, diz. Fá-lo de manhã e ao entardecer. E às vezes se acorda a meio da noite. “Sonho e executo.” Não liga à crítica, que desde os anos 60 o tem premiado com galardões como o Prémio Nacional de Escultura Soares dos Reis. “O importante é que eu gosto.” A sua maior obra (em tamanho) é um passeio pedonal nas Caldas, mas já fez um pouco de tudo. Tem também painéis de azulejos no IPO de Coimbra.

“O artista não tem nada de especial, é como outra pessoa qualquer.” Quando à tradição das Caldas, atribui-a aos “altos costumes da humanidade.” E ao facto de estar em cima de uma barraria. “Sempre foi fácil a qualquer miúdo pegar no barro do chão e criar.”