Caça. Dentista lamenta ter morto símbolo do Zimbabué

Caça. Dentista lamenta ter morto símbolo do Zimbabué


Palmer responsabiliza os guias pela morte do leão. Está arrependido, mas os defensores dos animais não lhe perdoam. Cecil “sofreu uma morte horrível” e agora são as suas crias que estão em perigo


Cecil era uma celebridade no Zimbabué. O leão destacava-se dos outros habitantes do Parque Nacional de Hwange pela imponência e a fama que chegaram aos quatro cantos do mundo. A juba negra, a sua marca distintiva, não deixava ninguém indiferente. No início deste mês, porém, o animal foi abatido durante uma caçada ilegal, pondo fim a um reinado de 13 anos. Agora descobriu-se o culpado: Walter James Palmer, um dentista norte-americano nascido no estado do Minnesota. 

A indignação pela morte de um dos maiores símbolos animais do Zimbabué foi imediata, mas ganhou outra dimensão quando veio a público uma foto em que dois homens ladeavam o corpo morto de Cecil. Walter Palmer jura que não sabia que a caçada era ilegal: “Lamento profundamente que uma actividade que eu adoro e pratico de forma responsável e legal tenha resultado na morte deste leão”, referiu em comunicado após a sua identidade ter sido descoberta. 

E ainda atirou as culpas pelo sucedido aos guias que o acompanharam e a quem pagou 50 mil dólares, cerca de 45 mil euros, antes iniciar a aventura. “Não fazia ideia de que o leão que matei, um exemplar querido pelos locais, tinha uma coleira GPS e estava envolvido num estudo, até ao final da caça. Confiei na experiência dos meus guias para me assegurar que a caça era legal”, podia ainda ler-se na mesma nota.

Cecil fazia também parte de uma investigação da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e era controlado por GPS, tendo por isso sido possível seguir os momentos finais da sua vida. Palmer terá supostamente arrancado a coleira ao animal com o intuito de eliminar as provas: “Só reparei que tinha a coleira e que fazia parte de um estudo quando a caçada terminou”, justifica o caçador. Walter James Palmer é agora procurado pela polícia do Zimbabué, mas não se sabe se já terá voltado aos Estados Unidos.

O leão terá sido atraído com um animal morto para fora do Parque Nacional de Hwange, acabando por ser atingido por uma flecha, um dos métodos que caracterizam o género de caça do dentista norte-americano. Este ataque contudo não foi suficiente para acabar com a vida do leão. Dois dias depois de terem deixado o animal ferido, os caçadores voltaram à carga. Ao encontrarem o leão fora do parque natural, Palmer atingiu-o com um disparo fatal. 

Quando o corpo de Cecil foi encontrado pelos guardas da reserva, estava decapitado e esfolado. “Sofreu uma morte horrível e dolorosa”, contou Johnny Rodrigues, um dos responsáveis pela conservação da vida animal no Zimbabué. 

Morte gera onda de indignação Emmanuel Fundira, presidente da Associação de Operadores de Safari do Zimbabué afirmou, citado pelo “The Guardian”, que Cecil era um leão protegido e que as regras são claras no Zimbabué: “Um animal protegido não pode ser caçado. Estamos a usar a caça como uma ferramenta de conservação, mas quando essa ferramenta é utilizada desta forma, destrói por completo o princípio.” 

Quando a identidade de Palmer foi conhecida, dezenas de petições surgiram na internet para que o dentista fosse extraditado e levado à justiça a fim de responder pelos seus actos . Um dos apelos, dirigido à administração Obama no site https://petitions.whitehouse.gov, já atingiu quase 50 mil assinaturas. Também personalidades como Sharon Osbourne, Juliette Lewis, Olivia Wilde, Ricky Gervais, Mia Farrow e Ricky Martin pediram que se faça justiça para Cecil. A associação PETA foi a mais radical e pediu para o dentista ser enforcado. Os cúmplices de Palmer já foram identificados e detidos. 

A clínica de Palmer também se viu forçada a encerrar temporariamente após os manifestantes terem afixado cartazes nas portas com mensagens dirigidas ao dentista com acusações de “cobarde” e “assassino” e peluches em forma de leão. Também a página na internet do consultório foi encerrada após mensagens menos simpáticas dirigidas ao dentista. 

Crias de Cecil A maior preocupação do Parque Natural de Hwange vira-se agora para as crias do leão abatido. A morte de Cecil pode também ditar o fim da sua descendência. “A morte do leão Cecil é uma tragédia. Não só porque era um símbolo do Zimbabué, mas também porque agora podemos dar por perdidas as suas crias”. 

O novo líder “não vai permitir que vivam, vai matá-los a todos”, explicou Johnny Rodrigues, citado pelo “El País”, acrescentando que se trata de uma “regra social natural entre os leões em manada”. Para que as fêmeas o aceitem e estejam dispostas a procriar, o novo macho alfa, Jericho, poderá ter de matar as crias de Cecil. 

 

Outros casos

Juan Carlos

A viagem que o então rei de Espanha fez em 2012 ao Botswana para caçar esteve envolta em polémica. Juan Carlos foi criticado por praticar este desporto sendo presidente honorário da organização ambiental WWF Espanha. Durante a caçada, partiu a anca.

Melissa Bachman

A apresentadora americana descreve-se como uma “caçadora hardcore” e foi obrigada a encerrar as contas em várias redes sociais após publicar uma foto em que surgia junto a um leão que matou na África do Sul.