O slogan: “Agora Portugal pode mais”. Primeiro foi Portas a comunicar isto ao país, mas logo de seguida Passos Coelho insistiu: “Hoje Portugal pode mais”. Ontem, na apresentação do programa do governo da coligação, o dueto Passos-Portas estava afinado a entoar o slogan encontrado para as legislativas.
A narrativa também está afinada. É a continuação do argumentário dos últimos quatro anos, com redobrado ênfase típico de vésperas de eleições. Paulo Portas nega a crise financeira internacional: “Há um partido responsável pelo resgate, pela troika, pelo memorando e esse partido nunca pediu desculpa aos portugueses”. Foi o governo que “superou a crise que o PS criou e deixou”.
Passos Coelho vai mais longe e compara a crise internacional a uma “epifania”. “O que aconteceu a Portugal e conduziu ao resgate de 2011 não foi resultado da crise externa ou de qualquer outra epifania. Foi consequência de uma política económica e social que comprometeu o futuro e estava errada”.
Os heróis da história são “os portugueses”. Passos: “Nestes quatro anos os portugueses deram a oportunidade de salvar Portugal da bancarrota. Depois de muita demagogia, os portugueses não se deixam equivocar e sabem com certeza quem trouxe a troika e a origem da crise que atravessamos”. E a coligação acredita que voltam a dar o apoio maioritário ao PSD e CDS porque as suas promessas são feitas “num plano gradual” e, diz Portas, “os portugueses bem sabem que mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”. Ou então, regressando a Passos Coelho, a coligação não anda à procura “de slogans forçados” porque “os portugueses conhecem bem o trabalho que fizeram”.
Mas agora em 2015 “a etapa do resgate ficou para trás” (Portas) e a coligação vai apostar “num programa marcadamente social”. A coligação é a defensora em primeira linha do Estado social porque “evitámos a falência do Estado”. “A próxima legislatura será obviamente social”. Depois do “tempo de emergência social para o qual o governo teve um plano”, a coligação quer apostar, segundo Portas, “num Estado social viável que vai chegar a mais portugueses”. Passos Coelho diz que “antes da crise já Portugal era um país muito desigual. Agora que arrumámos a casa, corrigimos o problema mais iminente do défice, temos que olhar para esse problema mais antigo, enraizado, e dar-lhe uma luta sem quartel”.
Pode parecer estranho para quem viu as estatísticas de pobreza aumentarem nos últimos anos, mas a verdade é que Passos Coelho promete a tal “luta sem quartel”. “Quero que em Portugal se possa dar esperança àqueles que vêm de origens mais humildes para poderem conseguir fugir à pobreza e discriminação”, diz Passos que não tem dúvidas em anunciar ao país o seguinte statement: “Fomos nós que demonstrámos que podíamos defender o Estado social do socialismo”.
A dramatização do rating
Talvez seja a primeira eleição em que os “ratings” atribuídos pelas agências especializadas tenham não só entrado numa campanha legislativa como transformados em matéria de enorme dramatização eleitoral.
Foi assim: “A melhoria do rating da dívida portuguesa será resultado das escolhas dos portugueses. As empresas de rating estão à espera do resultado das eleições para saber se o que se passou nestes anos foi assim porque não tínhamos alternativa, ou se nós sabemos mesmo o que queremos fazer para futuro”. Segundo Passos Coelho, “as empresas de rating estão à espera de saber” os resultados das próximas eleições. E para o primeiro-ministro se os resultados corresponderem aos seus desejos, as coisas junto das agências de rating vão correr bem. “E eu tenho a certeza de que, se essa resposta for inequívoca da parte dos portugueses, nós conseguiremos, num plano interno e externo, garantir um prémio que não é para o governo, é para ser colocado ao serviço das empresas, das famílias, da sociedade portuguesa”. A Moody’s, Standard & Poors já tinham entrado nesta apresentação do programa do governo quando o primeiro-ministro afirmou que a atracção de mais investimento para Portugal em resultado da melhoria do rating seria sempre “o resultado das escolhas dos portugueses”.
Paulo Portas foi particularmente violento contra a proposta do PS de diminuir a Taxa Social Única a ser paga pelos trabalhadores e empresas. Defendendo a “moderação” do programa PSD/CDS em contraste com o “radicalismo das soluções que conhecemos do maior partido da oposição”, Paulo Portas criticou a proposta do PS que “na prática é um plafonamento obrigatório”. “O PS muda as regras dos actuais trabalhadores. Nós queremos dar um sinal para o futuro.
O PS não admite liberdade de escolha, nós achamos que os trabalhadores têm direito a liberdade de escolha. O PS vai causar problemas graves na sustentabilidade da Segurança Social”, atacou Portas para acusar os socialistas de estarem a causar “um problema abrupto e radical” no sistema de Segurança Social.
O irrevogável ano de 2013
Ninguém imaginaria é que a crise da coligação – na sequência da demissão irrevogável de Paulo Portas que foi depois revogada – também serviria de argumento eleitoral. Mas Passos Coelho decidiu que sim. “O país sabe o que quer.
Quando em 2013 passámos por um período mais difícil até aqueles que não votaram em nós ficaram preocupados com as consequências que podiam advir para as suas vidas no caso da necessidade de Portugal ter que pedir um segundo empréstimo”. Segundo Passos, “os portugueses olharam para nós como se o futuro do governo estivesse ligado ao futuro de Portugal”.
Agora, para o primeiro-ministro, “estamos nas mesmas circunstâncias”. “O destino” de Portugal e do governo “estão ligados”. “Se conseguirmos pôr o país à frente venceremos todos os obstáculos. Estamos a escrever história. Foi história que fizemos. Podemos dizer que quem resolve o passado é quem tem a chave do futuro. Em contrapartida, aqueles que teimam em não aprender com o passado e se obstinam em propôr mais do mesmo estão condenados a repetir os mesmos erros”. A narrativa da coligação está fixada até 4 de Outubro.