Yanis Varoufakis contratou um amigo para invadir o sistema da autoridade tributária grega, enquanto preparava um plano alternativo à permanência no euro – plano esse que incluía, por exemplo, prender o governador do banco central, caso ele não quisesse cooperar, e ter um sistema financeiro paralelo que, em caso de colapso dos bancos, assegurasse que todos os pagamentos continuariam a ser realizados… em dracmas.
A revelação foi feita pelo antigo ministro das Finanças grego a um grupo de investidores da City londrina, há cerca de duas semanas, numa conversa que foi gravada e que entretanto foi publicada pelo organismo que gere as conference-calls, o Official Monetary and Financial Institutions Forum (OMFIF). Durante a mesma chamada, Varoufakis diz também que o sistema tributário é controlado pela troika – informação que as instituições europeias já se apressaram a desmentir publicamente –, o que terá dificultado a invasão do software.
O OMFIFdecidiu disponibilizar a gravação no seu site, depois de Varoufakis ter publicado no seu blogue pessoal um desmentido sobre a invasão do sistema de finanças grego que tinha sido avançada pelo jornal “Kathimerini” no domingo passado.
Mas as histórias do antigo ministro não se ficam por aqui. O Supremo Tribunal helénico enviou ao parlamento grego duas queixas que foram interpostas pelo presidente da Câmara de Stylida e por um advogado contra Varoufakis, alegando que o responsável não agiu de forma a proteger a solvência do país. O hemiciclo tem agora de decidir sobre o levantamento da imunidade parlamentar do deputado do Syriza.
Ao mesmo tempo, a Procuradoria-Geral da República grega já começou a analisar as gravações do OMFIF para decidir se avança ou não com acções contra o antigo ministro.
Contas feitas, Varoufakis dá ainda mais que falar agora, que saiu do governo, do que durante os seis meses em que trabalhou lado a lado com Tsipras e em que chamou a atenção sobretudo pelo estilo de enfant terrible com que se destacava nos corredores de Bruxelas.
E, possivelmente, agora dá um pouco mais de dores de cabeça ao primeiro-ministro, que se vê embrulhado numa complexa teia de trapalhadas que terá de explicar perante os deputados e os cidadãos. É que Varoufakis garante que Alexis Tsipras deu luz verde para que ele começasse a trabalhar neste plano alternativo específico – uma declaração que põe em xeque o que Tsipras tem dito, uma vez que o responsável garantiu que sempre trabalhou no pressuposto de manter o país na moeda única.
A oposição grega já pediu explicações ao chefe de governo, tendo entregado um requerimento formal ao parlamento pedindo a presença de Alexis Tsipras perante os deputados para explicar estas declarações de Varoufakis.
duelo com a primeira-dama Os meios de comunicação social gregos escreviam, nas últimas semanas, que a mulher de Alexis Tsipras, Peristera Batziana, poderá ter tido uma palavra a dizer na altura da saída de Yanis Varoufakis do governo. Ao que parece – e os relatos vêm de amigos de ambos os casais –, a primeira-dama grega nunca foi grande fã do antigo ministro nem da sua mulher, a artista Danae Stratou.
Batziana é tida como uma política ainda mais radical que Alexis Tsipras, tendo sido ela quem o levou a integrar a juventude comunista, ainda nos tempos da faculdade. Nas raras ocasiões em que é vista em público – actualmente está em casa, num bairro modesto de Atenas, a tomar conta dos dois filhos do casal – aparece sempre com vestidos simples e sem cuidados de maior. Para Batziana, o casal Varoufakis é incoerente com o que defende, ao aparecer na capa da “Paris Match” na sua casa com vista para a Acrópole e ao passear-se em carros de alta cilindrada pelas ruas da capital grega.
Dizem os amigos, citados pela imprensa nacional, que desde que o conheceu, em 2010, Batziana desconfiou de Varoufakis, das suas ideias e estilo de vida. Tsipras arrisca-se a ouvir um “I told you so” quando esta noite chegar a casa.