A polícia está a cumprir à risca as instruções do juiz Carlos Alexandre, que na sexta-feira aplicou a Ricardo Salgado a medida de prisão domiciliária sem vigilância electrónica. Além da interdição de sair do perímetro da vivenda da Boca do Inferno, em Cascais, o ex-banqueiro também está proibido de contactar outros arguidos no processo do GES e do BES. Assim, os agentes da PSP que vigiam a vivenda de Ricardo Salgado estão obrigados a identificar todas as visitas e a revistar todas as viaturas à entrada e à saída da residência. Mesmo os familiares mais próximos, como a mulher, sempre que saem ou entram na vivenda de automóvel estão sujeitos a revistas, que passam nomeadamente pela abertura das bagageiras. Como o juiz alegou no seu despacho o perigo de fuga do ex-banqueiro, a PSP não tem outro remédio. Precisa de verificar que o arguido não sai da vivenda escondido numa viatura.
Situação humilhante Segundo fontes policiais contactadas pelo i, a situação é, evidentemente, humilhante, e os próprios agentes policiais sentem algum constrangimento na sua execução. As mesmas fontes adiantaram ao i que há outra situação que pode agravar ainda mais a situação. De acordo com o despacho do juiz Carlos Alexandre, Ricardo Salgado pode pedir autorização para se ausentar de casa. Se tal acontecer, a PSP será obrigada a acompanhar o ex-banqueiro durante todo o tempo que estiver fora de casa e terá de usar todos os meios humanos e materiais para garantir que não haverá qualquer tentativa de fuga. Isso implicará necessariamente a utilização de viaturas com cavalos suficientes para acompanhar e mesmo perseguir, se for esse o caso, uma tentativa de fuga numa viatura de alta cilindrada. E mesmo com o ex-banqueiro fora de casa, a vigilância à residência mantém-se para evitar, por exemplo, a entrada de arguidos impedidos de falar com Ricardo Salgado.
Cascais tem 50 agentes Entretanto, o patrulhamento de carro pela PSP no concelho de Cascais pode estar comprometido devido à colocação de um polícia na vigilância de Ricardo Salgado. Uma fonte da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP) disse à agência Lusa que o facto de um agente da esquadra de Cascais ser “desviado” para o serviço de vigilância à residência de Salgado pode comprometer a saída de um carro-patrulha, que tem de ser composto por dois elementos. “A esquadra de Cascais tem 50 elementos. Há aqueles que não estão operacionais, pois estão de férias. Normalmente, em média estão em cada turno diário cinco agentes. Agora ficam quatro. Na esquadra têm de estar sempre dois, logo sobram outros dois para a patrulha. Se sair um carro, não haverá patrulhamento a pé, só por carro, o que não é opção”, explicou a mesma fonte. A casa onde habita o ex-presidente do BES tem duas entradas, pelo que foram destacados dois polícias para efectuar a vigilância, um que está adstrito à esquadra de Cascais e outro à da Parede, segundo a mesma fonte.
CSM lava as mãos Devido ao aumento da população flutuante no Verão no concelho de Cascais, um polícia em falta afecta muito o trabalho, revelou por seu turno à Lusa o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia, Paulo Rodrigues. “Já explicámos que não estamos a criticar a decisão do tribunal de ter ordenado a vigilância policial a Ricardo Salgado, isso não nos compete. Mas não vamos deixar de tornar pública a nossa posição. O impacto que vai ter ao deslocar-se um elemento da esquadra prejudica de alguma forma o trabalho dos restantes, já que é menos um agente que estará disponível”, frisou Paulo Rodrigues. O Conselho Superior da Magistratura (CSM) esclareceu na segunda-feira que o modo de vigiar o cumprimento da prisão domiciliária decretada a Ricardo Salgado é da exclusiva competência da polícia.
Com Lusa