José senta-se na esplanada do Central, a aproveitar a sombra preciosa numa tarde de Julho quente. À sua frente, só a bengala que o ajuda a suportar o peso dos seus 90 anos. “Venho cá muitas vezes, não preciso de pedir sempre”, diz despachado. E a verdade é que ninguém atrás do balcão o critica.
Para quem viu o café nascer e é frequentador desde o dia um, é fácil ver diferenças. “Isto dantes era gente que nem imagina, agora só no mês de Agosto, quando chegam os emigrantes.” Também o tipo de clientes é outro. “Agora a gente é muito fraca.” De espírito? “Não, bebem pouco”, explica José, com as lembranças de quem chegava ao balcão e pedia uma garrafa de vinho do Porto, e agora se fica apenas por um cálice. Mas isso era noutros tempos, “agora a saúde só dá para uma cevadinha”. Vive em Sobradelo que, apesar de ser um meio pequeno, se torna gigante para os passos cansados que já nem a bengala ajuda a aguentar. Já para vir ao Central arranja sempre forças e conta com uma ajudinha extra. De manhã há sempre quem lhe dê uma boleia até ao centro e, por volta das 18h, é a própria funcionária do Central que o deixa em casa.
Como ainda são três da tarde, restam-lhe umas horas de conversa, de jornais folheados e de futebol na televisão. Na cadeira ao seu lado salta à vista um pepino invulgarmente grande. “É só abrir a meio, pôr sal e fica uma maravilha”, garante, “com um copinho de verde a acompanhar, claro”, acrescenta quase em surdina. “Na mocidade, ele era muito malandro”, ouve-se do outro lado da esplanada. Meio a sério, meio a brincar, José levanta a bengala e pergunta: “Queres levar com ela?” Não consegue conter um sorriso e confidencia: “Falava ao ouvido das meninas e elas não resistiam.”