Porto 13, Benfica 9 e Sporting 8: eis o balanço individual das vitórias dos três grandes nas 76 Voltas a Portugal. Ao todo, 30 títulos.Qualquer coisa como 39% na história da competição.
O último grande a ganhar é o Benfica (o espanhol David Plaza, em 1999), uma década depois da última amarela de FCP e SCP, ambas por intermédio de Marco Chagas (1983 e 1986). Qual a única vez que os três se fazem representar no pódio? Em 1965, com Peixoto Alves (SLB), João Roque (SCP) e MárioSilva (FCP). E qual o único ano em que um grande ocupa todo o pódio? Em 1974, por Fernando Mendes, Dinis Silva e António Martins. Posto isto, aqui seguem as histórias mais cativantes de cada um dos grandes.
1971 Sporting Joaquim Agostinho é o maior. É um líder incontestável no ciclismo nacional, como Eusébio no futebol.
Uma das suas maiores proezas acontece na Volta a Portugal-1971, na etapa que liga Abrantes à Figueira da Foz. Antes da etapa, todo o pelotão concorda em descansar, porque o percurso era difícil, servido por estradas e caminhos de baixíssima qualidade.
A meio da corrida, Agostinho, camisola amarela com 13 segundos de avanço sobre o benfiquista Fernando Mendes, sente uma vontade incontrolável de urinar – ele é dos poucos que não consegue fazer chichi em cima do selim. Tem de descer da bicicleta. Assim faz. Quando volta ao pelotão, que continua em ritmo lento, Agostinho detecta a ausência de Fernando Mendes que, entre curvas e contracurvas, lá fura o embargo.
É aí que começa uma etapa memorável, com o sportinguista a pedalar furiosamente. Só abranda quando apanha Fernando Mendes. Zangado, dispara: “Agora acompanha-me, se és capaz…” Não vai. Em corrida desenfreada, Agostinho ganha avanço e mais avanço e nem os pedidos desesperados de outro Agostinho (o Artur, dono da Sonarte, que então organiza a Volta) para que abrandasse o demovem. Agostinho corta a meta na Figueira da Foz com 12 minutos de avanço e aquela Volta acaba-se ali mesmo. “É uma lição para todos. Quem me tenta fazer o ninho atrás da orelha, trama-se”, justifica Agostinho, de amarelo de fio a pavio nessa Volta. Ganha oito etapas das 25 e dá 9,54 minutos de avanço sobre o segundo classificado, o francês Antoine Santy, da Bic.
1981 Porto Marco Chagas, 41.o classificado no Tour de França-1980, assinara pelo FC Porto-UBP e é naturalmente o favorito para ganhar a Volta desse ano.
O problema é que um tal Manuel Zeferino, jovem esperança do FC Porto, ganha a segunda etapa, entre Évora e Vila Real de Santo António, com um avanço tal que nunca mais despe a camisola amarela, ao ponto de acabar a Volta com 10 minutos de avanço sobre o segundo classificado, um tal Vítor Fernandes, da Rodovil-Isuzu. Para Marco Chagas, a primeira vitória chegaria no ano seguinte. Pelo Porto, claro.
1999 Benfica Vítor Gamito (Porta Ravessa-Milaneza) é o líder da Volta durante uma semana e tudo se conjuga para a sua consagração em Matosinhos, a 8 de Agosto.
No dia 7, um contra-relógio de 36,6 km em Cantanhede coroa David Plaza como camisola amarela. O espanhol mantém o avanço de nove segundos e sagra-se vencedor. Acto contínuo, Vale e Azevedo promete mundos e fundos para continuar a apoiar a equipa de ciclismo. Pois… Esquece-se é de pagar o prémio de vitória a David Plaza e ainda três meses de salário. “Não posso continuar assim, com a indiferença da direcção. Desde a Volta à Espanha que não recebi qualquer chamada telefónica do Benfica.” E Plaza rescinde o contrato unilateralmente.
OS TRÊS GRANDES
FCPorto (13)
1948, Fernando Moreira
1949, Dias dos Santos
1950,Dias dos Santos
1952, Moreira de Sá
1959, Carlos Carvalho
1960,Sousa Cardoso
1961, Mário Silva
1962, José Pacheco
1964, Joaquim Leão
1979, Joaquim Sousa Santos
1981, ManuelZeferino
1982, MarcoChagas
1983, MarcoChagas
Benfica (9)
1931, José Maria Nicolau
1934, José Maria Nicolau
1947, José Martins
1965, Peixoto Alves
1966, Francisco Valada
1968,Américo Silva
1974, Fernando Mendes Dias
1976, Firmino Bernardino
1999,David Plaza
Sporting (8)
1940, José Albuquerque
1941, Francisco Inácio
1963, José Roque
1970, JoaquimAgostinho
1971, JoaquimAgostinho
1972, JoaquimAgostinho
1985, MarcoChagas
1986, MarcoChagas