Dieta sem glúten. Conhece os perigos?

Dieta sem glúten. Conhece os perigos?


É uma das dietas da moda, mas os especialistas alertam que podem existir perigos subjacentes. Ainda assim, sim, pode ajudar a emagrecer.


Nos últimos anos tem havido uma crescente onda em torno das dietas sem glúten e principalmente pela obsessão de comidas saudáveis. Na BBC há um jornalista que teve de tomar essa opção por motivos de saúde familiar. O jornalista, William Kremer, ficou curioso com esta moda e tentou entender o que tem levado tanta gente a abdicar dos pães e bolos tradicionais e se será ou não benéfico para pessoas sem doença celíaca.

O glúten é conhecido por ser a única das proteínas que o corpo humano não tem a capacidade de decompor totalmente, nem transformar em aminoácidos – o que leva a que o organismo de muitas pessoas não seja capaz de o tolerar, enquanto isso, outras pessoas convenceram-se de que mesmo tolerantes que é melhor não o consumirem.

Só nos Estados Unidos 29% da população adulta, cerca de 70 milhões de pessoas, garantem estar a tentar cortar no consumo desta proteína. Já no Reino Unido, um estudo feito pelo YouGov, aponta que 60% dos adultos já compraram um produto sem glúten e em 10% dos lares britânicos há alguém que acredita que o glúten faz mal à saúde.

Para se livrar do glúten pode começar por cortar com todo o tipo de pães, farinhas e cereais de trigo, mais especificamente ao pequeno-almoço. De seguida, deite fora todas as embalagens de manteiga ou compotas que estejam abertas, porque podem conter migalhas de açúcar, começa por contar o jornalista da BBC no artigo.

Mais à frente no mesmo artigo lê-se, escrito por William Kremer na primeira pessoa, que foi assim que a sua casa passou a fazer parte desses 2,6 milhões de lares (os 10% acima referidos), depois de em Fevereiro deste ano o seu filho de dois anos ter sido diagnosticado com doença celíaca.

Como o glúten pode ser encontrado no trigo e em proteínas muito semelhantes que estão presentes na cevada e no centeio, o jornalista explica que os médicos disseram que até mesmo uma migalha pode desencadear sintomas.

Dieta que está na moda

No entanto, mesmo sem qualquer tipo de sintomas há quem acredite que abdicar do glúten ajuda a emagrecer ou a ter uma alimentação mais saudável.

A doença celíaca já é considerada comum e afecta cerca de 1% das pessoas dos países desenvolvidos, únicos países de onde se tem dados. Mas, ainda assim, isso não explica a crescente aderência à dieta sem glúten.

"Deixar de ingerir glúten priva-nos de muitos elementos-chave"

Com 29% dos americanos adultos a tentarem evitar o glúten, há consequentemente 22% (ou 53 milhões de pessoas) que não estão no espectro de doenças relacionadas ao glúten (que são apenas 6%), mas ainda assim querem deixar de ingeri-lo.

Segundo a empresa de estudos de mercado Mintel mais de 8% dos britânicos evitam o glúten por considerarem estar a optar por um "estilo de vida saudável". E a opinião de que o glúten faz mal, não apenas para celíacos, mas para todo o tipo de pessoas é também defendida por vários nutricionistas.

O médico italiano Alessio Fasano, director do Centro de Pesquisas Celíacas nos Estados Unidos, alerta que apesar de o glúten não ter qualquer valor nutricional, fazer uma mudança radical no que se come, sem a ajuda de um especialista, é uma péssima ideia – "Deixar de ingerir glúten priva-nos de muitos elementos-chave da dieta, como vitaminas e fibras, fundamentais para uma nutrição equilibrada” e é necessário saber substituí-los.

"Se uma pessoa começa a comer substitutos como cerveja sem glúten ou massa ou bolacha sem glúten, o que vai acontecer é que vai engordar. Uma bolacha comum tem 70 calorias. Sem glúten, a mesma pode chegar a 210 calorias."

Este tipo de dieta, não é uma dieta sem perigos.

O médico explica que “substituir o glúten por algo com o mesmo sabor, implica carregá-lo de gordura e açúcar. Uma grama de proteína contém quatro calorias. Uma grama de gordura, nove."

Ainda assim refere que, forma consciente, é possível perder peso com uma dieta sem glúten, ao trocar alimentos processados (como biscoitos) por outros frescos, como verduras, frutas, peixe e carne, apesar de que este tipo de dieta, não é uma dieta sem perigos.

“Muitos pacientes que sofrem de distúrbios alimentares contam que começaram a ter problemas justamente com as dietas que excluíam algum alimento.”

Em livros sobre a temática há ainda quem refira o efeito placebo – acreditando que o glúten faz mal ele acaba mesmo por fazer mal – como é o caso de “A Mentira do Glúten”, escrito por Levinovitz. Referindo ainda no mesmo livro que esta não é a primeira vez que um tratamento para celíacos entra na moda.

Já ocorreu nas décadas de 1920 e 1930, quando os médicos – que ainda não sabiam do papel do glúten na doença – receitavam uma dieta de banana e leite, suplementada com caldos, gelatina e quantidades pequenas de carne.

“Ao menos agora a doença celíaca já não é tabu, nem algo totalmente desconhecido”, desabafa Kremer no artigo.