Emigrar para Kepler 452b


É uma solução para o nosso planeta sobrelotado. Porém, emigrar para a Grécia Antiga continuará a ser uma impossibilidade. Talvez seja melhor assim.


“Mostramo-nos fracos e os fracos são amaldiçoados.” Vladimir Putin

Nunca me interessei muito pelos planetas e as estrelas, as galáxias e a vida que possa ou não haver fora deste planeta que habitamos. Não me emociono a ver as imagens recentes de um Plutão árido e recebo com indiferença novas descobertas sobre o espaço. Confesso que prefiro ruínas. Tenho mais curiosidade pelas probabilidades que o passado nos demonstra do que pelo aparente futuro, que afinal até estava ali há milhares de anos por descobrir. 

O meu desinteresse pelo que existe a anos-luz do planeta Terra, ou até pela descoberta (penso que) importante da existência de água aqui ao lado, em Marte, foi interrompido por uma recente notícia da NASA. “Não é que descobriram um novo planeta parecido com o nosso?”, dizia-me uma amiga ao telefone. “A sério? E tem água?”, perguntei logo, como se percebesse alguma coisa do assunto. Algo me diz que água é vida ou então é uma informação tão divulgada que até o mais ignorante do espaço a repete sem pensar. 

Os cientistas ainda não sabem se ali há água, mas já conhecem algumas características deste novo planeta, rudimentarmente chamado Kepler 452b. O nome mostra que a NASA não é sensível à literatura e que ganharia em contratar (certas) pessoas de humanidades. O Kepler 452b foi descoberto pela sonda espacial Kepler, que desde 2009 passeia na Via Láctea à procura de planetas habitáveis. A Kepler já descobriu vários candidatos a “planetas parecidos com o nosso”, todos com nomes adaptados ao seu, mas só desta vez os cientistas parecem estar de acordo quanto a estarmos perante não tanto um “gémeo da Terra”, mas um “primo” que fica a 1400 anos-luz de distância.

O Kepler 452b é 60% maior do que a Terra e a estrela em torno da qual orbita é mais ou menos do tamanho do nosso sol. Esta estrela tem seis biliões de anos de idade, que é um daqueles números muito difíceis de compreender. Parece que é 1,5 biliões de anos mais velha do que o nosso sol. Este primo mais velho pode ter água. E, segundo os cientistas da NASA, esta possibilidade apresenta-se como uma “oportunidade substancial” para a existência de vida extraterrestre, que é na verdade o que nos interessa. Para quê gastar milhares de milhões de dólares se não fosse para vermos se temos primos noutro sistema solar? 

A possibilidade de haver vida fora deste planeta parece então estar mais perto de ser uma realidade numa atmosfera que se assemelhar à nossa. Noutro ambiente não seria possível falar das mesmas probabilidades, e talvez por isso o Kepler 452b me tenha suscitado curiosidade. Imaginemos que se descobre que o planeta tem água e que até é habitado por uns primos excêntricos de aspecto e cor a definir. A minha primeira pergunta é prática: como chegamos até lá? A pergunta dificilmente será respondida nas próximas duas gerações, mas será esta a preocupação principal depois de feito o reconhecimento.

Emigrar para Kepler 452b poderá ser uma realidade daqui a cem anos, quem sabe. É uma solução para o nosso planeta sobrelotado. Porém, emigrar para a Grécia Antiga continuará a ser uma impossibilidade. Talvez seja melhor assim.

Escreve à segunda-feira 

Emigrar para Kepler 452b


É uma solução para o nosso planeta sobrelotado. Porém, emigrar para a Grécia Antiga continuará a ser uma impossibilidade. Talvez seja melhor assim.


“Mostramo-nos fracos e os fracos são amaldiçoados.” Vladimir Putin

Nunca me interessei muito pelos planetas e as estrelas, as galáxias e a vida que possa ou não haver fora deste planeta que habitamos. Não me emociono a ver as imagens recentes de um Plutão árido e recebo com indiferença novas descobertas sobre o espaço. Confesso que prefiro ruínas. Tenho mais curiosidade pelas probabilidades que o passado nos demonstra do que pelo aparente futuro, que afinal até estava ali há milhares de anos por descobrir. 

O meu desinteresse pelo que existe a anos-luz do planeta Terra, ou até pela descoberta (penso que) importante da existência de água aqui ao lado, em Marte, foi interrompido por uma recente notícia da NASA. “Não é que descobriram um novo planeta parecido com o nosso?”, dizia-me uma amiga ao telefone. “A sério? E tem água?”, perguntei logo, como se percebesse alguma coisa do assunto. Algo me diz que água é vida ou então é uma informação tão divulgada que até o mais ignorante do espaço a repete sem pensar. 

Os cientistas ainda não sabem se ali há água, mas já conhecem algumas características deste novo planeta, rudimentarmente chamado Kepler 452b. O nome mostra que a NASA não é sensível à literatura e que ganharia em contratar (certas) pessoas de humanidades. O Kepler 452b foi descoberto pela sonda espacial Kepler, que desde 2009 passeia na Via Láctea à procura de planetas habitáveis. A Kepler já descobriu vários candidatos a “planetas parecidos com o nosso”, todos com nomes adaptados ao seu, mas só desta vez os cientistas parecem estar de acordo quanto a estarmos perante não tanto um “gémeo da Terra”, mas um “primo” que fica a 1400 anos-luz de distância.

O Kepler 452b é 60% maior do que a Terra e a estrela em torno da qual orbita é mais ou menos do tamanho do nosso sol. Esta estrela tem seis biliões de anos de idade, que é um daqueles números muito difíceis de compreender. Parece que é 1,5 biliões de anos mais velha do que o nosso sol. Este primo mais velho pode ter água. E, segundo os cientistas da NASA, esta possibilidade apresenta-se como uma “oportunidade substancial” para a existência de vida extraterrestre, que é na verdade o que nos interessa. Para quê gastar milhares de milhões de dólares se não fosse para vermos se temos primos noutro sistema solar? 

A possibilidade de haver vida fora deste planeta parece então estar mais perto de ser uma realidade numa atmosfera que se assemelhar à nossa. Noutro ambiente não seria possível falar das mesmas probabilidades, e talvez por isso o Kepler 452b me tenha suscitado curiosidade. Imaginemos que se descobre que o planeta tem água e que até é habitado por uns primos excêntricos de aspecto e cor a definir. A minha primeira pergunta é prática: como chegamos até lá? A pergunta dificilmente será respondida nas próximas duas gerações, mas será esta a preocupação principal depois de feito o reconhecimento.

Emigrar para Kepler 452b poderá ser uma realidade daqui a cem anos, quem sabe. É uma solução para o nosso planeta sobrelotado. Porém, emigrar para a Grécia Antiga continuará a ser uma impossibilidade. Talvez seja melhor assim.

Escreve à segunda-feira