Confesso que não me recordo de uma elaboração de listas de deputados à Assembleia da República tão atribulada no Largo do Rato.
Lembro-me que António Costa há uns meses tinha uma imagem de homem de consensos, de reformista, de homem de diálogo, Tudo isso afinal era fachada.
A tela que cobria o edifício caiu, deixou o prédio em ruínas, e António Costa mostrou verdadeiramente como é.
O tempo provou que Costa, é tudo menos tolerante, convive mal com a pluralidade de opiniões e extermina todos aqueles que não lhe disserem “sim”.
O PS converte-se num Estado Islâmico. A fé serve para seguir o líder, para nunca o questionar, para lhe prestar vassalagem, para eliminar os chamados pensamentos impuros, para aceitar morrer matando como qualquer bombista suicida.
Quem questiona não serve, quem pestaneja não presta, quem discorda é inimigo. Pensar de outra maneira é pecar, ousar afrontar tem a exclusão garantida.
Costa veio apenas provar que de facto é um líder fraco, que não acredita em vitória eleitoral alguma, que apenas o preocupa sobreviver com os seus, entrincheirados nas bancadas da Assembleia da República, ao bombardeamento interno pós-eleitoral que todos os excluídos lhe irão fazer.
Costa cometeu vários erros em todo este processo. Podia ter dado um sinal de abertura de facção no PS, convidando alguns dos mais destacados apoiantes de Seguro, que têm expressão mediática e simpatia do público. Álvaro Beleza, Eurico Brilhante Dias ou João Proença.
Não o fez. Se João Proença foi excluído de forma liminar, a Álvaro Beleza deu um lugar no meio da lista de Lisboa e a Eurico um brilhante segundo lugar em Castelo Branco.
Álvaro Beleza cedo percebeu que a tentação de ser deputado não podia ser maior que a racionalidade da decisão que tomou. Beleza percebeu o seu valor, o seu capital político e está seguro (mais que nunca) de que Costa cairá daqui a dez semanas, na noite de 4 de Outubro.
Eurico fez mal em aceitar o lugar assim; a diferença entre ser e não ser político reside nestes pormenores. Eurico poderá ser brilhante nas contas, mas foi mau na leitura política.
O segundo erro de Costa foi o ter dado a entender que cortaria com o passado (quando por exemplo anunciou os seus cabeças-de-lista), mas no final deste processo quem apareceu? Os mesmos de sempre, desta feita misturando-se na multidão para ver se ninguém dava por eles. Lacão, Ferro Rodrigues, Alberto Martins, Edite Estrela, Miranda Calha, Vieira da Silva. É esta a renovação que Costa tanto apregoa?
Entre os primeiros 20 da lista de Lisboa só cinco nunca foram deputados. Este PS decididamente não se sabe renovar e entende muito provavelmente que a política deve ser considerada profissão. Nada mais errado. Pergunto-me o que fariam estes cidadãos se não fossem deputados.
Por último, e para dar um ar de verdadeiro justiceiro, limpou os mais conotados com Sócrates que residiam na Assembleia da República: Paulo Campos, José Lello, André Figueiredo e Fernando Serrasqueiro. Quis dizer alto e bom som que pretende cortar com os mais próximos de Sócrates, mas não com os verdadeiros socráticos. Linchou na praça pública os mais fracos, os indefesos, mas não ousou fazer o mesmo aos socráticos poderosos do partido.
Aliás, e convém não esquecer, Costa foi socrático, foi numero dois de Sócrates no Largo do Rato e seu ministro. Habitou as mesmas águas e conviveu muito bem nelas durante muitos e bons anos.
Costa tem um problema crónico: a fobia ao caso Sócrates. Teme como ninguém o dia da sua libertação. Não saberá quantos mais ilustres socialistas terão tido envolvimento neste mesmo caso e resolveu instalar no Rato um lava mãos desinfectante, fazendo um raio X da vida de cada um para que possam ser candidatos a deputados.
Está agora Costa preocupado por algum cidadão ter falhado ou não com a Segurança Social, com a entrega do IRS ou com as dívidas ao fisco? Não foram esses os problemas que deram origem às investigações em curso na justiça. Foi muito pior. Só falta ao Dr. Costa exigir que cada um dos candidatos requeira uma certidão de bom comportamento, que alguém o ateste e assegure ser igualmente bom chefe de família e sócio do Benfica e não ter participado em organizações subversivas. Esquece o Dr. Costa que a entrada na política é um acto de responsabilidade, não é a verificação de uma tutela das obrigações. Um parlamento não funciona com a autoridade do mestre-escola.
António Costa, passou assim de Costão a Costinha, de homem com futuro a homem passado, do democrata a ditador, de sorridente a descontente.
Outros líderes houve que em tempos turbulentos fizeram o que Costa fez. Limparam para ter certeza que nenhuma pedra ficaria de pé no seu caminho interno, mas ficaram esmagados na primeira avalancha política interna. A vida política de Costa poderá durar apenas mais dez semanas. Se a coligação que actualmente governa o país por algum motivo não tiver maioria absoluta, o PS será pressionado para dar a mão a um governo de maioria, oferecendo a estabilidade que os Portugueses merecem para estes próximos anos anos de recuperação económica e de rendimentos.
Cavaco voltou a avisar: este Portugal não é para pequenitos, mas para pessoas com a responsabilidade e a elevação democrática que Pedro Passos Coelho tem mostrado.
Costa tem o fim à vista, mas felizmente o país não!
Deputado do PSD
Escreve à sexta-feira