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Vi com atenção a entrevista de Rui Rio à RTP e acho curiosa a imagem de um principado instalado na capital, que controla e quer continuar a controlar tudo, mesmo tendo apenas o horizonte limitado por uma visão do todo do país, que chega pouco para além do Terreiro do Paço. Muitos desses pequenos poderosos chegaram à capital num comboio de província, carregados com uma mala de arrogância, que lhes permite num acto de mágica saber e ter opinião sobre tudo.
À esquerda e à direita percebe-se o medo, diria mesmo o pavor, de que nas próximas eleições se possa desfazer parte deste poder que vai rodando entre os mesmos, com as mesmas ideias e as clientelas de sempre. Rio significa política com competência, ideias vincadas e fortes, que acendem amores e ódios, mas são claras.
À esquerda, Sampaio da Nóvoa traz o conhecimento, o humanismo nos valores e uma outra classe de pensadores que dificilmente permitiria a sobrevivência dos de sempre, instalados numa cadeia de interesses, poucas vezes cimentada com competência e provas dadas para além desta pequena política. O PS envolveu-se num debate aceso na formação das lista de candidatos a deputados, com o aparelho a ficar mal na fotografia, mas escolheu académicos e desalinhados da política para encabeçar listas em pontos importantes deste Portugal.
O país segue a banhos os conselhos de Cavaco para se formar uma maioria, as afirmações e desmentidos da Europa e de Passos Coelho sobre a ajuda à Grécia, o desespero de Tsipras para manter o Syriza unido à volta de um desgraçado pacote de mais cortes, enquanto espera a inevitável e prometida renegociação da dívida e a abertura de uma nova era na gestão das crises europeias.
O problema são as eleições, as maiorias, as alianças, os interesses individuais e a manutenção do poder no “principado”, que parece agora descaradamente ameaçado. Depois da praia os portugueses votam nas legislativas, com as presidenciais já no horizonte. Estou curioso para ver que país e que Europa teremos no Natal.
Jornalista. Coordenador do Jornal 2 – RTP2
Escreve à sexta-feira