Zé Carlos

Zé Carlos


“Sou o maior maluco das esplanadas portuguesas”.


Zé Carlos passeia-se a grande velocidade por entre as mesas da esplanada. Da boca sai-lhe uma música que parece acabada de inventar. “Caminando por la calle, sigo yo…” Quem está sentado na principal praça de Caminha não consegue manter a cara fechada à passagem daquele que se auto-intitula o maior maluco das esplanadas em Portugal. “Sou assim, menina, não há nada que enganar.” Para o apanhar parado um segundo é o cabo dos trabalhos, mas é numa paragem ao balcão, enquanto espera por mais um pedido, que nos conta um pouco da sua história.

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O irmão e dono do café deu-lhe a mão quando ficou desempregado e trouxe-o para trabalhar no Central. Aquele que era para ter sido um trabalho de um ano já se prolonga há sete. “Fui acarinhado por toda a gente, é como se fôssemos uma grande família, funcionários e clientes.” Se dúvidas houvesse, ficavam dissipadas a cada aproximação de um cliente que, além de lhe deixar na mão o pagamento e a gorjeta, não evita um “meu querido” ou “meu amor” antes de desejar a continuação de um bom dia. Só na hora de falar da família é que a as pilhas parecem fraquejar. Com a mulher e o filho a viverem em Santa Maria da Feira, só os consegue visitar de 15 em 15 dias. “Gostava de voltar para junto deles, mas também gosto muito de cá estar, é complicado.”

Ainda são 10h da manhã, mas a energia com que fala, anda, canta, conversa e até dança de bandeja na mão deixa-nos a duvidar das horas que o relógio marca. “Esta força faz parte de mim.” Apesar de nos garantir que não existem segredos para esta energia matinal, vemos Zé a recorrer a um copo guardado numa esquina do balcão. “É chá de camomila”, diz com um ar pouco convicto. Mas a camomila não tem efeitos calmantes? “Pronto, é chá de camomila verde”, admite, num piscar de olho cúmplice.