Sorteio do fisco. Três histórias, três Audis à conta de muitas facturas

Sorteio do fisco. Três histórias, três Audis à conta de muitas facturas


O i falou com três dos vencedores da Factura da Sorte. 


Ontem foi a entrega do primeiro Audi sorteado pelo fisco nos Açores. O contribuinte Emanuel Medeiros foi o vencedor do sorteio extraordinário da Factura da Sorte e foi premiado com um Audi A6. Em declarações ao i, o professor de Contabilidade confessa que ficou surpreendido quando foi contactado pela autoridade fiscal e, inicialmente, pensava que era uma brincadeira.

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“Ninguém está à espera de uma chamada desse género. Ligaram-me às 20h30 e achei estranha a hora, mas depois começaram a fazer-me perguntas, se tinha visto o sorteio naquele dia na televisão, se peço facturas ou não com número de contribuinte, e depois indicaram que o vencedor desse dia era da minha freguesia. A partir daí deduzi que tinha sido o feliz contemplado”, diz, acrescentando ainda que não reagiu com euforia porque ficou na defensiva, ao ponto de perguntar à funcionária do fisco “se estava a brincar com ele”.

Por ser professor de Contabilidade, o vencedor tem por hábito pedir sempre facturas com número de contribuinte. “Cheguei a brincar com os meus alunos a dizer que um dia ainda me iria sair um carro do fisco”, mas admite que essa tarefa foi reforçada a partir do momento em que a autoridade fiscal lançou a Factura da Sorte.

Emanuel Medeiros garante que vai ficar com o carro, que vale na ordem dos 50 mil euros. A decisão foi clara: a concessionária não lhe dava esse valor e, se optasse por um carro da marca de gama mais baixa, iria perder dinheiro porque o automóvel iria desvalorizar muito e, mesmo com retoma de outro, iria perder cerca de 25%. “Não compensava o negócio que a concessionária me propôs e, como tenho condições para o manter, esta é a melhor solução, apesar de os custos de manutenção serem um bocadinho elevados”. E acrescenta: “Até fiz um seguro contra todos por causa dos riscos.”

A verdade é que o professor de 48 anos não é estreante nestas questões de sorte. A mulher foi premiada com um Smart num sorteio de um centro comercial no Natal de 2004. “Esse vendemos no ano passado porque é pequeno e a família está a crescer”, confessa. 

Outro tipo de prémios D. Pereira tem por hábito pedir facturas com número de contribuinte desde que a despesa seja superior a cinco euros. Se o valor for inferior, “tudo depende da disposição que tiver nesse dia”, revela ao i o vencedor de um Audi A4 no passado mês de Junho.

O polícia de segurança pública foi contactado por telefone pela autoridade fiscal, e até ir buscar o carro o processo demorou cerca de três semanas. Apesar de ter ficado surpreendido com o resultado, o contribuinte de 24 anos que vive na zona da Grande Lisboa admite que vai várias vezes ao portal das facturas para acompanhar os recibos que foram processados. “Todas as facturas que não estavam emitidas no portal, eu acabo por fazer esse preenchimento”, afirma. 

D. Pereira está a pensar em ficar com o carro, já que andava à procura de um. “Estava a pensar em comprar um há algum tempo e só não o tinha feito porque tinha adiado essa decisão por uns tempos.” O vencedor diz, no entanto, que os prémios poderiam ser mais baratos ou o fisco poderia apostar em carros de gama mais baixa. “Neste caso, ou não gastava tanto dinheiro ou então sorteava mais.” 
O recurso a outros bens, nomeadamente os que são penhorados pela autoridade fiscal, poderiam ser outra opção para o Estado gastar menos. 

Trocar de modelo O Audi A4 que saiu a Maria Helena Ferreira ainda não foi levantado porque o carro ainda está à espera de matrícula. Mas a funcionária pública de 57 anos está a pensar em negociar com a concessionária a troca para um modelo mais pequeno. “Vou manter o meu carro e este vai ser oferecido ao meu filho, que já tem um, mas que está velhote. A ideia é trocar por um inferior.”

A vencedora só começou a pedir facturas com número de contribuinte a partir deste ano, mas para valores mais baixos não o faz. “São acima de tudo facturas de supermercado. Mas nunca pensei em ganhar, nunca me saiu nada”, confessa ao i. 

Maria Helena Ferreira admite, no entanto, que ao início estava um pouco reticente em relação à atribuição destes prémios mas, mesmo assim, lá ia pedindo as facturas e fazendo o acompanhamento das mesmas no portal das facturas. “De vez em quando vou dar uma olhadela, depende do tempo livre que tenho.”