Guardiola perde influência no Bayern

Guardiola perde influência no Bayern


A saída de Schweinsteiger e a chegada de Vidal provoca o amuo do treinador espanhol.


Dezasseis de Janeiro, dia de aniversário do comediante brasileiro Jô Soares. Antes de cantar o “Parabéns a Você”, o mundo é surpreendido com a notícia de Pranav Kalyan, um miúdo indiano de nove anos, o mais jovem especialista tecnológico na história da Microsoft. O título é entregue às pessoas capazes de “mostrar a sua habilidade para implantar, ampliar, solucionar e depurar uma tecnologia Microsoft específica, como um sistema operativo Windows, um servidor Microsoft Exchange,Microsoft SQL ou Microsoft Visual Studio”.

O Bayern copia a Microsoft e entrega o comando da equipa ao espanhol Josep Guardiola i Sala, nesse mesmo 16 de Janeiro, a partir de Julho de 2013 e até 2016. É o golpe do mercado. Depois de “mostrar a sua habilidade para melhorar, ampliar e inventar um novo estilo de futebol no Barcelona”, o jovem Pep embarca na primeira aventura fora da Catalunha, fora do conforto do lar.

Aos 41 anos de idade, e após uma época sabática, Guardiola recomeça do zero. Num clube grande. Do FCB  (Barcelona) para o FCB (Bayern), coerência q.b. – daqui a nada salta para o único FCB português (Barreirense). Antes… luzes, câmara, acção na Allianz Arena. Com média de 71 mil espectadores por jogo no campeonato alemão, o Bayern é um clube colossal, omaior da Alemanha (recordista de 22 ligas, 15 Taças, seis Taças da Liga e cinco Supertaças) e um dos maiores da Europa (quatro Taças/Ligas dos Campeões, uma Taça das Taças, uma Taça UEFA e duas Taças Intercontinentais). É também um clube confortável, onde ganhar é aparentemente fácil. Sim senhor, verdade… sempre e desde que não exista um super-Dortmund (actual bicampeão) ou um Wolfsburgo ou um Estugarda ou até um Werder Bremen – a 1. Bundesliga é a mais competitiva da Europa, com cinco campeões nos últimos
dez anos.

À competitividade juntam-se o futebol musculado/técnico, os estádios cheios e as infra-estruturas futuristas. Agora um
acrescento elegante, Guardiola de seu nome. “Se lhe contas histórias curiosas de Cary Grant, ele ri-se e depois aplica-
-as no seu jogo”, conta o argentino César Menotti, com quem Guardiola se encontra em Belgrano (Argentina). “Então queres voltar a treinar, é?” Guardiola vai falar mas Menotti corta-lhe o raciocínio para pedir um uísque. O empregado traz-lhe um copo de cheio… de gelo. “Vês-me lesionado? Tenho por acaso o joelho inchado?”, questiona Menotti ante um empregado mudo. “Leva-me esse monte de gelo e traz-me um uísque solo.” Para Menotti, é o clique da empatia entre ele e Guardiola. “Acho que o Pep gosta de conversadores e eu falo, opino, gesticulo, digo a verdade sem rodeios. Esse episódio fê-lo sorrir sem pestanejar.”

A aventura pela Argentina transmite mais conhecimentos ainda. Guardiola almoça com Marcelo Bielsa. A conversa
prolonga-se até à hora do jantar, já na casa de Bielsa nos arredores de Rosário. Ao todo, 11 horas. Há perguntas  complicadas. “Tu que conheces o futebol e sabes do lixo que existe e do alto grau de desonestidade de certas pessoas, ainda queres voltar? Gostas assim tanto de sangue?”, pergunta Bielsa. “Preciso desse sangue”, é a resposta de Guardiola. Outro pormenor de Bielsa. “Quando fica afónico dá-se por satisfeito. Só assim encontra o prazer, o que se pode dizer mais? É um homem intenso. E a relação com a imprensa? Diz que não dá entrevistas, só vai às conferências de imprensa. Perguntei-lhe porquê. ‘Porque hei-de dar uma entrevista a um tipo poderoso e negá-la a um repórter da província? Porque irei a uma rádio líder de audiências e nunca a uma pequena rádio do Interior? Qual é o critério? O meu próprio interesse? Isso é vantagismo’, dizia-me ele.” Guardiola em estado puro.

Num clube grandioso, rodeado dosmelhores dirigentes (Rummenigge) e com uma equipa de topo (Neuer; Lahm,
Badstuber, Dante e Alaba; Schweinsteiger e Javi Martínez; Ribéry, Müller e Robben; Mandzukic), o cenário ideal para
melhorar e ampliar o seu recorde de vitórias (208 em 291 jogos, com 72 por cento de aproveitamento). Guardiola é campeão alemão uma vez. Duas vezes. E três? Calma aí, ainda estamos no Verão. Um Verão atípico, diga-se. O Bayern perde Schweinsteiger para o United e recebe Vidal da Juventus.

Estará Pep satisfeito? A última conferência de imprensa indicia precisamente o contrário. "O clube é que sabe. Eu só treino os jogadores que o clube contrata." Huummm, aqui há gato. O que tem a dizer sobre a saída de Schweinsteiger? "O Bastian era um fenómeno, uma pessoa sensacional, uma lenda no Bayern. Jogava aqui há 17 anos e ganhou tudo, tudo, tudo. Sai e deixa uma marca. Que nunc avai desaparecer. os adeptos sentem a falta dele e nós também, mas fazer o quê? A vida continua." Aproveita-se esta deixa e pergunta-se por Vidal. Mais do mesmo. "Eu só treino os jogadores que recebo." Huummm, aqui há gato.

Por 37 milhões de euros, Vidal troca a Juventus para o Bayern. Sai o menino de coro da casa (Schweinsteiger), entra um touro desgovernado. Campeão sul-americano pela selecção chilena, Vidal é uma espécie de craque-problema. E aquele acidente de carro em plena Copa América prova-o inequivocamente. A ver se Vidal não tem um acidente (diplomático, claro) com Pep nas cenas dos próximos capítulos.