Sucedem-se notícias dos que partem. São enfermeiras, médicos, estudantes Erasmus (cerca de mil, só do Porto), programadores e futebolistas até. Sempre com a garantia de ter uma vida e a bela expectativa de que seja melhor. Claro que mudar implica coragem. Mas não deixa de ser básico tratar os que partem como coitadinhos.
Não faz sentido ter medo de ganhar mundo. O Infante D. Henrique partiu do Porto para fazer isso. Era filho de boas famílias, mas nem por isso deixou a sua “zona de conforto”. A tal “zona de conforto” soa estupidamente portuguesa.
Traduz-se por algo que está algures entre o viver em casa dos pais até depois dos 40, tirar sete pós-graduações seguidas e acabar a trabalhar num call-center a ganhar 500 euros por mês.
Sejam 50, 100 ou 200 mil por ano, trocar caravelas por aviões da Ryanair significa igualmente alargar horizontes e procurar sucesso. A diferença é que os portugueses que antes desesperavam em filas na fronteira de Vilar Formoso ou enchiam o Sud Express, agora abarrotam salas de embarque em Londres, em Cracóvia, em Doha ou em Praga. E os que trabalhavam nas obras ou em casas finas de Paris ou Genebra, agora são profissionais qualificados, muitas vezes em posições de liderança e, melhor, não têm vergonha do que fazem nem de onde vêm.
Não há cá muitas oportunidades? Não. Existem imensos empregos bem pagos? Também não. Os que existem são para a vida? Muito menos. Neste caso, convém mexermo-nos e procurar um bocado de futuro. Em Londres, há quarenta mil portugueses. Não vivem todos em Knightsbridge nem têm todos um Bentley à porta. Mas podemos sempre pensar no José de Chelsea, no António do Lloyds ou nas pinturas da Paula para perceber que a viagem, a mudança e o risco podem valer a pena.
Foi o que fez o Infante D. Henrique há sensivelmente 500 anos e já na altura não se deu mal. Não somos menos portugueses por partir. E, quando for o caso, também não ficamos menos cosmopolitas por voltar. Coitadinhos? Coitadinhos antes os que continuam parados.
Escreve à quinta-feira