Atletas atacados. Tubarões há muitos

Atletas atacados. Tubarões há muitos


Mick Fanning sobreviveu ao ataque de um tubarão na África do Sul mas o guarda-redes Chic Brodie foi forçado a acabar carreira em 1971 depois de ser atingido por um cão. As histórias de atletas atacados não acabam por aqui.


Chic Brodie morreu a 24 de Abril de 2000 numa altura em que tinha muitas histórias para contar. O passado como guarda-redes tinha sido repleto de experiências, passando por equipas como Manchester City (sem jogar), Gillingham, Aldershot, Wolverhampton, Northampton Town e Brentford. Foi nesta última que teve mais sucesso – e mais azares. Logo em 1964, no segundo ano pela equipa, teve de ser substituído depois de ter sido atingido no joelho por uma pedra arremessada pela bancada. Esse momento acabou por ser um péssimo prenúncio do que viria a acabar-lhe com a carreira.

Em 1970, numa partida contra o Colchester, com 0-4 no marcador, Brodie agarrou a bola atrasada por um colega sem se aperceber do perigo que corria perante a aproximação de um cão a alta velocidade. O terrier não abrandou e bateu-lhe com força no joelho esquerdo, partindo-lhe a rótula. “Podia ter sido um cão pequeno mas não, era um possante”, lamentou no ano seguinte, no dia em que reconheceu que não conseguiria voltar a jogar futebol.
A vida continuou longe dos relvados, a trabalhar como taxista em Londres, num emprego em que teria a oportunidade de contar a todos os que quisessem ouvir um dos episódios mais azarados da história do desporto. Até morrer de cancro, com 63 anos.

Mick Fanning teve mais sorte que Chic Brodie. Um tubarão-branco na África do Sul promete ser mais assustador que um terrier branco e preto num relvado britânico, mas o surfista soube reagir e ultrapassar o maior susto da vida. Afinal o mar também é deles. Do mesmo modo que os espaços ao ar livre também são dos cães. O mesmo não se pode dizer de morcegos e pavilhões de NBA. Em Novembro de 2009, uma partida entre os San Antonio Spurs e os Sacramento Kings foi interrompida perante o aparecimento do animal. Depois de alguns instantes, Manu Ginobili perdeu a paciência e abateu o morcego com uma palmada. Não foi necessariamente um ataque animal, mas poderia ter havido consequências. “Não foi a melhor ideia. O morcego é um animal importante para a preservação do ecossistema. Ainda por cima, cerca de cinco por cento dos morcegos têm raiva. Por isso tive de me vacinar”, afirmou o base argentino, num discurso que também serviu para tentar acalmar as hostes dos defensores dos animais.

Animal vs. homem Um cão em 1970, um morcego em 2009 e um tubarão-branco em 2015. Os casos de animais ficam na memória mas o maior número de episódios continuam a ser aqueles em que são os próprios seres humanos a atacar-se uns aos outros. E aqui deixamos de fora instantes como a cabeçada de Zidane a Materazzi no calor do momento. Interessa mais o que a gente entre o público decide fazer de um instante para o outro e afectar a normal evolução de um evento desportivo.

Como o que aconteceu na maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.
Vanderlei de Lima tinha um dorsal memorável: 1234. E seguia na frente da prova a 29 de Agosto, com o objectivo de se tornar o primeiro brasileiro a conquistar um ouro olímpico na distância. A sete quilómetros da meta tinha cerca de meio minuto de vantagem – estava já em quebra – e foi atacado por um ex-padre irlandês, que tentou empurrá-lo para fora da estrada. “Não consegui vê-lo vir na minha direcção. Fui surpreendido, não tive tempo de reacção. Pensei que a pessoa pudesse estar a tentar matar-me. Fiquei preocupado por pensar que fosse algo pior, tive muito medo”, explicou o atleta. 

O brasileiro foi ajudado por um espectador grego e regressou à prova, terminando no terceiro lugar, depois de ter sido ultrapassado pelo italiano Stefano Baldini e pelo norte-americano Mebrathom Keflezighi. E a medalha de bronze, ainda assim, só foi conseguida por 15 segundos. “O mais marcante foi a entrada no estádio, com todas as pessoas a aplaudirem–me de pé. Foi grandioso. Acolheram-me de uma forma que nunca poderia imaginar. Marcou a minha vida”, continuou.

A maratona é uma prova mais aberta ao público, mas os casos mais marcantes continuam a acontecer no ciclismo – esta edição do Tour está aí para o provar. Richie Porte já se queixou de ter sido agredido por um adepto e Chris Froome de ter sido atingido por um copo de urina, de um adepto que o acusava de se dopar. A paixão nas etapas de montanha, em que os ciclistas são mais vulneráveis a todos os tipos de adeptos, faz com que os perigos estejam à espreita, mesmo quando não há necessariamente uma intenção.

O grande exemplo disso é de 1999, na subida ao Alpe d’Huez. O italiano Giuseppe Guerini seguia na frente já com a meta à vista quando um adepto mais ansioso por tirar uma fotografia ficou especado no meio da estrada. O ciclista da Telekom não teve espaço para se desviar e acabou no chão. Apesar de tudo, o final da história foi feliz. Guerini, então com 29 anos, voltou a montar a bicicleta e cruzou a meta no primeiro lugar, com 21’’ de vantagem sobre Pavel Tonkov e 25’’ sobre Fernando Escartín, que encabeçou o grupo em que chegaram Alex Zülle, Lance Armstrong, Richard Virenque, Laurent Dufaux e Kurt Van de Wouwer.

Mais grave, mas no ténis, foi o que se passou com Monica Seles. A tenista jugoslava, entretanto naturalizada norte-americana, foi esfaqueada a 30 de Abril de 1993 num encontro com Magdalena Maleeva em Hamburgo, na Alemanha, país de Steffi Graf. A rivalidade era grande e Günter Parche, um fanático pela germânica, decidiu invadir o campo e atingir Seles nas costas, junto ao ombro. A tenista foi transportada para o hospital e só voltou à actividade mais de dois anos depois.

Futebol O desporto rei em Portugal não podia faltar. Em 2004, durante a final do Europeu no estádio da Luz, Luís Figo foi vítima do conhecido invasor de relvados Jimmy Jump, e levou com uma bandeira do Barcelona na cara, quatro anos depois de ter rumado ao Real Madrid. Mais recentemente, de novo na Luz, o adepto conhecido por Diabo de Gaia invadiu o relvado para agredir o árbitro assistente José Ramalho, num clássico com o FC Porto em 2008 que estava inflamado pelo regresso do uruguaio Cristián Rodríguez à Luz, agora com as cores do FC Porto. O resultado foi ter sido condenado a pagar 2500 euros ao árbitro.