Estado Islâmico. Primeiro ataque na Turquia  mata mais de  30 na fronteira com a Síria

Estado Islâmico. Primeiro ataque na Turquia mata mais de 30 na fronteira com a Síria


Vítimas são sobretudo jovens turcos e curdos que planeavam partir para Kobane em missão humanitária.


O alvo voltou a ser o povo curdo, mas desta vez não no enclave de Kobane, mas na cidade de Suruc, do outro lado da fronteira que separa a Síria da Turquia, fazendo deste o primeiro ataque do autoproclamado Estado Islâmico (ISIS na sigla inglesa) em território turco. Pelo menos 30 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas quando um bombista suicida se fez explodir a mando do ISIS naquela cidade do sudeste da Turquia.

As vítimas são sobretudo jovens voluntários que aguardavam para poderem partir para Kobane – o enclave de onde os militantes do ISIS tinham sido expulsos pelos peshmerga (combatentes curdos), mas ao qual conseguiram regressar em força há menos de um mês, relançando as batalhas sangrentas que têm vitimado centenas de civis. Os jovens planeavam participar nos trabalhos de reconstrução das áreas mais atingidas. 

“Jovens turcos e curdos têm vindo a cruzar [a fronteira com a Síria] para Kobane, onde tinham três ou quatro dias de actividades planeadas”, explicou à Reuters Pervin Buldan, do partido pró-curdo HDP. Os jovens integravam a organização Federation of Socialist Youth Associations.

“Apelamos a todos que se unam e permaneçam calmos face a este ataque terrorista que atingiu a unidade do nosso país”, disse o ministro do Interior da Turquia em comunicado. “O número de mortos”, acrescentou, “deverá aumentar nas próximas horas.”

Até ao fecho desta edição, não foi confirmada a informação avançada por um representante de um partido curdo turco que, aos media internacionais, disse que entre os mortos estava o corpo de uma mulher bombista suicida. Fonte do governo turco disse à Reuters que o ataque foi perpetrado pelo ISIS, mas até ao fecho desta edição o grupo jihadista não o reivindicou.

Suruc, a cidade-alvo, fica a cerca de dez quilómetros da fronteira com a Síria e tem sido um dos principais abrigos dos refugiados de Kobane, onde no passado mês de Junho o ISIS levou a cabo um dos “piores massacres” desde que anunciou a instalação de um califado islâmico no Iraque e na Síria, em Junho do ano passado. A Al-Jazeera refere mais de 20 mil refugiados sírios nos acampamentos que circundam Suruc e na fronteira da Síria com a Turquia.

A confirmar-se a autoria do ataque, esta é a primeira vez que o ISIS consegue atingir território turco, o que poderá forçar o governo a dar apoio claro à coligação internacional que, no último ano, tem lançado ataques aéreos a vários alvos do grupo na Síria e no Iraque. ATurquia teme que os avanços do ISIS e o apoio dado aos peshmerga de Kobane, a juntar ao facto de já existir um Curdistão iraquiano com estatuto de autonomia, possam dar força às aspirações curdas de criarem o seu próprio Estado.

Armas químicas Ontem, as organizações Conflict Armament Research (CAR) e Sahan Research disseram ter reunido provas de que o ISIS está a usar armamento químico contra forças e civis curdos tanto no Iraque como na Síria, avançando que o grupo tem estado a adaptar tanto as suas bombas para ataques suicidas como os aparelhos explosivos improvisados para incluírem gás clorino e outros químicos.

Segundo os dois grupos sediados em Londres, o ISIS recorreu a armas químicas em pelo menos três ataques distintos no mês passado, dois deles na província de Hasakah, no norte da Síria, e um terceiro na barragem de Mossul, no Iraque. “O primeiro uso, documentado, pelas forças [do ISIS] de agentes químicos em projécteis contra forças e civis curdos”, disse o CAR, aconteceu nesse terceiro ataque em Mossul, quando a explosão do morteiro falhou. Esse aparelho já está a ser analisado pelo governo regional curdo do Iraque, disse James Bevan, director-executivo do CAR.

Plano de Cameron Ontem, o governo britânico apresentou a sua nova estratégia de combate à radicalização de jovens. Num discurso em Birmingham, David Cameron delineou os cinco pontos de acção para impedir que mais jovens britânicos partam para a Síria e o Iraque para se juntarem à jihad.

Oprimeiro-ministro fez questão de sublinhar que o foco é o extremismo islâmico, não o islão como religião, e disse que quer trabalhar com a sociedade para acabar com esse “veneno”. Os planos do seu executivo passam por “incentivar” as escolas a integrarem mais os alunos; exigir aos fornecedores de internet que façam mais para remover material extremista e identificar quem o dissemina; travar a angariação de jihadistas nas prisões britânicas; fazer um estudo abrangente para perceber de que forma o extremismo aumenta entre os cidadãos; e iniciar consultas com a Ofcom para impedir que canais estrangeiros de televisão divulguem mensagens extremistas.