Futebol de praia. Palavras para quê, Portugal é campeão do mundo

Futebol de praia. Palavras para quê, Portugal é campeão do mundo


Selecção nacional controlou o jogo do princípio ao fim e venceu o Taiti por 5-3, conquistando o segundo título mundial da sua história. Tudo começou nos pés de Madjer e acabou nos de Alan, os eternos génios dos areais portugueses.


Futebol de praia é sinónimo de férias de Verão. Acordar a más horas, almoçar, e dividir a tarde entre uns mergulhos no rio e os jogos do Mundialito. Portugal foi sempre um orgulho na modalidade, mas doía muito chegar à final e, quase sempre, perder contra o Brasil. Quem ficava feliz era o Bola Sete, um espécime de 220 quilos que costumava acompanhar a selecção brasileira até Portugal, onde o torneio quase sempre se realizou.

Nessa altura, Madjer e Alan eram reis e senhores dos areais, capazes de livrar Portugal de qualquer situação menos favorável. Só contra o Brasil, de Jorginho, Júnior, Buru e uma infindável lista de craques, é que as coisas não funcionavam bem. Mas o segundo lugar já não era nada mau.

Mais ou menos ao mesmo tempo, a modalidade tornou-se mais série e começou a ter o seu próprio Campeonato do Mundo, sem diminutivos. Mas não se pense que as coisas eram diferentes só por ser um Mundial a sério. Regra geral, o Brasil organizava e vencia. Quase sempre, sem dó nem piedade. O palco, esse, foi quase sempre a Praia de Copacabana, de Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Foi assim de 1995 a 2004, todos os anos, com Portugal a aproveitar a única abébia do Brasil, em 2001, ano em que os organizadores nem ao pódio chegaram. Portugal venceu o Mundial, Alan foi o melhor marcador com 10 golos, e Hernani o melhor jogador.

A partir de 2005 a FIFA apoderou-se da modalidade. No princípio, a competição continuou a ser anual, e em Copacabana. Mas logo na primeira edição, o improvável aconteceu. O França venceu, Portugal perdeu na final, e o Brasil foi terceiro. Madjer foi o melhor marcador, com 12 golos, e também o melhor jogador. Fora isso, o Brasil continuou a vencer, mesmo em 2008 e 2009, quando a competição já foi disputada noutros cantos do globo. Madjer, esse imortal dos areais, foi somando distinções: melhor jogador em 2005 e 2006, e o artilheiro da competição em 2002 (empatado com outros dois), 2004, 2005, 2006 (com 21 golos, um absurdo nunca antes visto, e jamais repetido), e 2008.

O Mundial de 2009 trouxe mudanças. Primeiro, a Suíça chegou à final. Sim, o país tem praia, mas mesmo assim foi uma surpresa. Depois, a partir daí, a competição seria organizada de dois em dois anos. Os efeitos foram trágicos para o Brasil. Em 2011 perderam na final com a Rússia, e em 2013 ficaram-se pelo terceiro lugar, numa competição vencida novamente pelos russos. Sim, à entrada para este Mundial, a Rússia era bicampeã de futebol de praia. Em 2013, a competição foi organizada por uma nova equipa na modalidade, o Taiti. E logo na estreia, a selecção da Polinésia Francesa conquistou o quarto lugar.

Este ano, o Mundial seria disputado na praia da Baía, em Espinho. Tal como no passado, Madjer e Alan continuavam de pedra e cal na selecção, com 38 e 40 anos, respectivamente. Com eles, estavam mais 10 jogadores cheios de talento, que vinham de uma medalha de bronze nos I Jogos Europeus, disputados há menos de um mês em Baku, no Azerbaijão.

Portugal começou o grupo A a vencer o Japão, por 4-2, seguindo-se um deslize por 6-5, frente ao Senegal. Na última jornada, uma vitória por 7-2 frente à Argentina selou o apuramento, no primeiro lugar do grupo. O Taiti, por sua vez, só soube vencer no seu grupo. Até à final, muitas surpresas. Nos quartos-de-final, Portugal venceu a Suíça por 7-3, a mesma selecção a quem derrotou pelo bronze em Baku. Ao mesmo tempo, o Brasil caía perante a Rússia, a próxima adversária de Portugal. Para espanto de todos, Portugal viria a vencer os russos por 4-2. O Taiti não se deixou ficar e conquistou o acesso à final, ao vencer primeiro o Irão e depois a Itália, em penáltis.

A ocasião era especial, o que levou 20 familiares dos jogadores a viajarem até Portugal, a mais de 15 mil quilómetros do Taiti. Mas a jogar em casa, Portugal não foi em cantigas e esteve sempre à frente na final. Madjer encarregou-se disso com apenas três segundos jogados, fazendo o 1-0 para Portugal. Este seria o oitavo golo de Madjer na competição, igualando o registo de Pedro Moran, do Paraguai, que continuava na liderança pelo facto de ter menos jogos disputados. O Taiti não cruzou os braços e recorreu com frequência aos pontapés acrobáticos. Três deles depois, e Portugal fez mais um golo. Belchior saltou do banco, Madjer apercebeu-se disso (são 22 anos de selecção nacional), e isolou o colega, que fez o 2-0. O primeiro período terminaria assim.

No segundo tempo, Coimbra fez o 3-0 para Portugal, mas o cheiro a título foi levado pela resposta imediata de Labaste, o número 10 do Taiti, que reduziu de imediato o marcador, para 3-1. Os homens da Polinésia Francesa galvanizaram-se e fizeram o 3-2, pelo capitão Li Fung Kuee. Ainda antes de acabar o segundo período, Bruno Novo fez o 4-2, num livre quase de baliza a baliza. Portugal podia, assim, encarar o último período com alguma tranquilidade.

No derradeiro tempo, Fung Kuee voltou a abrir o livro e reduziu de imediato. Portugal sofreu, especialmente o seu capitão Madjer, que viu um livre ser defendido, com a bola a continuar bem devagarinho em direcção à baliza, acabando por ser afastada em cima da linha. Seria aquele o golo do título de melhor marcador, mais um para a sua carreira. Mas este título estava mesmo destinado a ser entregue a Portugal, algo que se tornou evidente quando o Alan dos velhos tempos fez o 5-3, selando o resultado final com um chapéu perfeito. Era o final de sonho, com o título a começar nos pés de Madjer e a acabar nos de Alan, os dois heróis imortais do futebol de praia. Portugal fez a festa e ainda coleccionou mais algumas distinções. Alan foi considerado o segundo melhor jogador do torneio, e Madjer o terceiro. O melhor foi Taiarui, do Taiti, que viu ainda Torohia ser coroado o melhor guarda-redes do Mundial.