Segundo dia da nova vida do Super Bock Super Rock e, pela primeira vez, conseguimos ir de metro para um festival. Longe vão as filas do Meco, os carros cobertos de pó e o pessoal que tira tendas e lancheiras do estacionamento para as carregarem até ao descampado onde não vão dormir durante alguns dias. É a civilização, senhores, e até parece que voltámos aos tempos da Expo'98, sem lontras nem passaportes para carimbar, mas com aquele arraial de barraquinhas e coisas a acontecer que ainda nos deixa um bocado perdidos.
Um amigo aproveita para desabafar nas redes sociais que o Super Bock é "o festival de música que desabriga os sem-abrigo do meu bairro". Afinal, já não estamos em 98 e isto deixou de ser terra de ninguém. Ainda assim, a coisa é capaz de pegar nos próximos anos e este tipo de recinto pode ser bom nem que seja para iniciar miúdos em festividades, mais que levá-los ao Cirque du Soleil, que por acaso até acontece na mesma MEO Arena.
Enquanto outros, os da feijoada da "Caras" da crónica de ontem da Ana Markl vão directos à tenda VIP de onde só sairão da varanda para picar, mesmo ali dentro, no ecrã, o concerto de Jorge Palma e Sérgio Godinho, há quem tenha saído mais cedo do trabalho para apanhar Benjamin Clementine, que se mostrava no discreto (como ele) palco montado à sombra da pala do Pavilhão de Portugal.
As canções de "At Least For Now", com Benjamin ao piano, foram a maneira mais reconfortante de começar a tarde, como se nos tivessemos apaixonado mais uma vez por uma pessoa que não víamos há algum tempo – e por ele também. "Gone", "Condolence" e "London" puseram-nos à espera da sua próxima visita, talvez numa sala só para ele, até porque, apesar de estarmos na cidade, isto é um festival de Verão e a nossa cabeça já estava noutro lado.
Em Savages, por exemplo, que ocuparam o mesmo palco logo depois de Kindness, a provar que o Super Bock ainda rocka. Com algumas canções novas já a antecipar o sucessor de "Silence Yourself", a banda de miúdas podia ter dado o melhor concerto da noite – não fossem os Blur existir. Ao nosso lado um rapaz tenta chamar a atenção da vocalista Jehnny Beth, que até passeou por entre a multidão, com um cartaz: "Jehnny Kiss Me". A vocalista respondeu à altura, com "Shut Up" e toda a descarga eléctrica que já tínhamos levado há dois anos no Primavera Sound do Porto.
Estavam todas as condições montadas para que conseguíssemos perder o concerto de dEUS, até porque se aqui houvesse algum deus seria Damon Albarn. Se em Roskilde não lhe chegaram 5 horas de concerto com os Africa Express e teve de sair do palco ao colo, aqui com os Blur a proeza obviamente não se iria repetir. Mesmo assim, duas horas de concerto foram mais que suficientes para satisfazer os fãs que encheram a MEO Arena.
E não faltou nada, nem "Tender", nem "Parklife" com alguém do público em êxtase em cima do palco, nem a bandeira de Portugal, nem "There's No Other Way", "Girls and Boys" ou "The Universal", com o novo álbum "Magic Whip" sempre a servir de pretexto para este banquete de êxitos.
Hoje há mais lá para os lados do Parque das Nações, com Florence & The Machine, Franz Ferdinand & Sparks, Crystal Fighters e companhia.