© Petros Karadjias/AP
Wolfgang Schäuble é um dos falcões da política alemã, com uma longa carreira pretensamente fulgurante e inesperadamente interrompida por adversidades: o atentado que lhe havia de custar a paraplegia permanente seguido do escândalo financeiro que lhe roubou definitivamente a chancelaria.
Manteve-se no poder mas não como figura primeira, a manobrar por trás, proficientemente. Será o coveiro da Europa, dizem os detractores. É um europeísta convicto, clamam os seguidores. E vem à memória uma ideia batida no último livro de José Manuel Pureza (“Linhas Vermelhas”, Bertrand Editora).
“Os ‘europeístas convictos’ são gente de pergaminhos que invoca sempre o argumento de autoridade de ter estado desde o princípio com a Europa para assim legitimar o seu acordo com todos os caminhos para onde a Europa vai. […] Por detrás de tanta convicção oculta-se a concordância com o triste legado de Maastricht, em que a Europa capitulou diante dos adversários da coesão económica, social e territorial e optou pela redução dos salários e pelo aumento da desigualdade como forma supostamente única de fazer face às crises.”
O Tratado de Maastricht deu uma machadada no primordial sonho europeu, e Schäuble estava lá. E ainda acalentava o sonho de suceder a Helmut Kohl, que deixaria cair para apostar na jovem vinda do Leste, Angela Merkel. Que por sua vez lhe tomaria o lugar de líder da CDU quando ele caiu em desgraça, e o seu partido viria a perder para Gerhard Schröder. Mantém-se no Bundestag e desde 2005, quando Merkel é eleita chanceler, dirige a pasta das Finanças.
Com intransigência e acrimónia. Cheira a ressaibo. A vida não o tomou ao colo, pregou-lhe rasteiras. Deixou-o pegar no poder mas tirou-lhe as luzes de quem manda. Tem-no deixado dar curso à ideologia, recusando-lhe, porém, reverência intelectual. Mais que respeitado, é temido. Schäuble sabe quanto é detestado, e cerra o punho. É antipático e démodé.
Na moda continua o Porto, melhor destino europeu do ano passado – curiosamente, este ano Lisboa ficou em 2.o lugar, logo seguida de Atenas… mas já lá vamos. A zona ribeirinha reserva sempre novos encantos, cais de Gaia à vista, que o Douro é rio de barcos rabelos, corvos-marinhos, gaivotas, tudo numa sã convivência que se estende até à foz. A Foz vaidosa e chique, a contrastar com os pé-descalços da Ribeira, cultura autóctone que não se intimida com a babel que lhe toma as ruas e ruelas agora convertidas ao turismo.
Ele são artesanatos e lojas “avant-garde”, ele são espaços “gourmet” à porfia com os restaurantes típicos, nome feito e “amesendação” cuidada, num vaivém mesclado que o sotaque tripeiro vai pontuando a espaços. É o Porto cosmopolita, como convém.
A Grécia pode estar de tanga que Atenas continua nos roteiros. Cá os do Sul, ironia, malbaratam a abastança que a natureza lhes entregou: sol, praias de areias finas e recantos paisagísticos fascinantes. Desgovernados e preguiçosos, há que pô-los na linha e pô-los ao serviço do bem comum, do turismo europeu, pois então!
Os do Norte vêm a banhos, saibamos recebê-los. Com a bonomia que nos é própria. Sem ressaibo, apenas com a amenidade do clima e a natural simpatia do povo. O resto é ideologia…
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