David de Gea é uma espécie de Ronaldo. O nosso, o Cristiano. O guarda-redes espanhol é eleito o melhor do ano pelos companheiros e adeptos do Manchester United em 2014-15. E também em 2013-14. É o bis. Só alcançado pelo extremo português na história do clube inglês.
Dois anos negros, curiosamente. Para o United, queremos dizer. Se há dois anos convive com a desastrosa era de David Moyes e nem se qualifica para a Europa, a última época é regada pelos caprichos de Louis van Gaal: Di María no banco, Van Persie no banco, Falcao nas reservas e cerca de zero títulos. Neste quadro, o guarda-redes é sempre o elemento menos controverso e mais consensual. Que isso não belisque, atenção, a qualidade de De Gea. O espanhol é bom de bola. Tão bom que o Real Madrid o vê como alternativa a Iker Casillas.
As negociações começam e há uma certa tensão. É um costume entre Real e United. Há o exemplo David Beckham. Depois o de Ronaldo. O nosso, o Cristiano. E há Di María no Verão passado. Aquilo arrasta-se até ao último dia e o Real encaixa a astronómica quantia de 75 milhões de euros. Mais, muuuuuuuito mais do que o argentino vale. O United sabe-o bem ao longo da época: só quatro golos em 32 jogos. Pouco, muuuuuuito pouco. Agora é a vez do United puxar o lustro a De Gea. Pedem 25 milhões de euros, o Real recua. É muuuuuuito dinheiro.
Ou é 25 ou é nada. De Gea quer sair, o United não o deixa. O que faz então o Real? Contrata um outro espanhol. Do Espanyol. É Casilla. Para o lugar de Casillas. Um ésse a menos, 19 milhões de euros a menos e aí está o guarda-redes para Rafa Benítez em 2015-16. Kiko Casilla, de 28 anos, é um daqueles fenómenos do futebol do Real Madrid. Formado pelo clube, é simplesmente descartado, sem mais nem menos. Como Álvaro Morata, este com proporções mais anedóticas ainda. O avançado espanhol sai para a Juventus e elimina o Real da final da Liga dos Campeões 2014-15.
Bom, com Casilla é ligeiramente diferente. O homem vai só à baliza do Espanyol. Mas agora volta à casa-mãe. Por seis milhões de euros. No início da conversa, o Real só dá três (metade da cláusula de rescisão). O Espanyol abana a cabeça, como quem pede honestidade e categoria. O Real é um clube senhorio ou não? Se a cláusula é seis, que bata os seis. Meu dito, meu feito. Com De Gea no estágio do United em Seattle (EUA), não há outra alternativa. Até porque Casillas já está em Horst (Holanda), com o Porto de Lopetegui. O titular, de momento, é Keylor Navas. Não pode ser, o costa-riquenho não disfarça algumas lacunas no entender do presidente Florentino Pérez. É ele quem manda no Real Madrid todo. Todo mesmo. Ao ponto de, por exemplo, Rafa Benítez não ter um assessor de imprensa. Aliás, Rafa tem aparecido muito pouco desde a apresentação oficial. Uma palavra aqui, outra ali e pouco mais. Quem fala (e pensa) (e executa) é Pérez.
E se para Pérez o costa-riquenho Keylor Navas é suplente, há que contratar um hombre à altura para a baliza do grande Real Madrid. A escolha recai sobre Casilla, com 115 jogos na Liga espanhola pelo Espanyol desde 2008 e internacional espanhol desde o ano passado. Na noite de 18 de Novembro, Del Bosque lança-o a 18 minutos do fim com a Alemanha, em Vigo. Casilla entra por quem? Casillas. Ah pois é, o destino é tramado.