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Os últimos dias deram cabo da ideia simpática da União Europeia como um espaço de solidariedade e casa comum dos seus povos.
A prestação desastrada dos senhores do império aniquilou a posição grega e gerou profunda antipatia nos países do sul. Parece evidente que a ousadia do Syriza terá enormes custos para o povo helénico, forçado a capitular em termos próximos de uma rendição incondicional. Mas este não é o principal problema dos europeus.
É a pressão demográfica, dos pobres periféricos sobre os centros cosmopolitas e ricos, que ameaça subverter a Europa. A crescente vaga migratória que atravessa o Mediterrâneo e as fronteiras orientais da União é um acontecimento, pela sua dimensão, sem paralelo na história.
Daqui a duas ou três gerações, grossas fatias da população da Alemanha, da França, do Reino Unido terão origem na África e Médio Oriente. Há muitos motivos para isso: a guerra e perseguições religiosas na Síria, no Iraque, no Líbano e no norte de África, a fome e crescente escassez de recursos alimentares nos países do centro africano, a ousadia de quem já não tem nada a perder e, por isso, tudo arrisca para continuar vivo.
Claro que se podem tentar manobras dilatoras, como levantar muros, cavar fossos e colocar a marinha de patrulha às praias italianas, francesas e espanholas.
Mas, a menos que se comecem a bombardear as balsas e camiões que trazem os emigrantes, eles vão entrar na Europa em quantidades sem precedentes. Da mesma forma que, no século V, uma vaga de “bárbaros” entrou pelo Império Romano adentro e deu cabo dele, a ordem vigente está periclitante.
E se o problema é externo, esta iminente divisão interna do império em duas unidades (o do norte e o do sul) só serve para que a degradação da “pax romana” até seja ajudada por muitos daqueles que, agora, já não se revêem nesta Europa.