Vários académicos uruguaios vão propor que o “Portuñol”, fruto da mistura do português e do espanhol, seja classificado como Património Cultural Imaterial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
A informação foi esta quarta-feira dada à agência de notícias espanhola EFE por um dos impulsionadores da iniciativa, Julio Piastre.
Para concretizar tal objectivo, vão realizar na próxima sexta-feira um ciclo de conferências no Uruguai, o que constituirá o início do processo para apresentar a proposta, disse Piastre.
“Primeiro, deve existir um debate a nível universitário sobre o ‘Portuñol’. A história do ‘Portuñol’ na fronteira, na formação da fronteira, na economia e na formação da identidade fronteiriça”, sustentou o promotor da iniciativa, que é um dos coordenadores dos centros do Ministério da Educação e Ciência (MEC) do Uruguai no departamento de Rivera (norte), que faz fronteira com o Brasil.
Esses debates, que se estenderão até 14 de Novembro, serão gravados e divulgados via Internet com o objectivo de dotar de uma bibliografia a iniciativa, um requisito necessário para apresentar a proposta perante a Comissão Nacional de Património do Uruguai.
Uma vez enviado o pedido, esta entidade avaliará a documentação apresentada e, no caso de o “Portuñol” ser declarado património cultural por parte do Estado uruguaio, este ficará encarregado de apresentar a candidatura à UNESCO.
Além da argumentação, este ciclo de conferências, denominado “Jodido bushinshe” (terrível ruído, em “Portuñol”): Del hablar al ser”, pretende gerar uma massa crítica colectiva sobre a cultura de fronteira e o “Portuñol” como património imaterial.
Piastre frisou que se pretende mostrar “até que ponto o ‘Portuñol’” influencia a “forma de viver ou de fazer comércio” nas zonas fronteiriças entre o Uruguai e o Brasil, que têm um comprimento aproximado de 1.000 quilómetros, fazendo com que, segundo dados do MEC, haja 450.000 uruguaios que utilizam esse dialecto.
“É um idioma um pouco caseiro”, disse Piastre para explicar a situação de bilinguismo que ocorre nesses territórios fronteiriços e que faz com que o ‘Portuñol’ seja mais falado nas casas das pessoas do que no meio académico, onde se favorece o uso do espanhol.
O ‘Portuñol’ junta expressões próprias do português do sul do Brasil e outras típicas do norte do Uruguai e, na opinião dos académicos que participarão nos debates, é um dialecto diferenciado tanto do português quanto do espanhol.
O Brasil faz fronteira com sete países cuja língua oficial é o espanhol (Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela) e nessas zonas fronteiriças poderão existir diferentes variedades de ‘Portuñol’.
Lusa