A vida não é uma passerelle. Ou, se a queremos ver dessa forma, convém que saibamos que não são manequins que por ela desfilam, mas antes pessoas. Comuns, normais, reais. É esta a premissa que esteve na origem do blogue O Alfaiate Lisboeta e do seu “filho”, a loja online J. Lisbon, ambos criados por José Cabral.
O fenómeno dos blogues teve eco em Portugal, como de resto tantos outros fenómenos, muito mais tarde que noutros países. Sobretudo se pensarmos nos blogues dedicados à moda e ao lifestyle. Um dos primeiros a aparecer foi justamente O Alfaiate Lisboeta, corria 2009.
O projecto, desenvolvido por José Cabral, quando tinha 29 anos, foi beber inspiração ao site Sartorialist – criado por Scott Schuman. Ambos os blogues levaram o street style para a blogosfera como se de repente fosse possível encontrar o maior fazedor de tendências logo ao virar da esquina. No caso do Sartorialist, as grandes marcas internacionais depressa começaram a recorreram às personagens captadas por Schuman como fonte de inspiração. O Alfaiate Lisboeta, à sua escala, trilhou caminho semelhante. De tal forma que José Cabral deixou para trás o curso de Sociologia e anos de trabalho dedicados ao sector financeiro. “O blogue revolucionou a minha vida.”
Depois de, numa fase inicial, se dedicar em exclusivo a Lisboa, o Alfaiate rumou a outras paragens e José Cabral começou a fotografar noutros países. Actualmente o blogue existe na versão inglesa, espanhola e chinesa, além da portuguesa, e José Cabral já viu as suas imagens reproduzidas em publicações como a “New York Mag”.
Em 2011 o blogue recebeu o Fashion TV Award para Melhor Comunicação Digital e em 2012 saiu o livro “O Alfaiate Lisboeta”. Na mesma altura, José Cabral concebeu e assinou a campanha Lisboa Somos Nós, para a Câmara Municipal de Lisboa. Uma parceria que se repetiu em 2013.
Foi nesse mesmo ano que surgiu o projecto que, ainda sem que José Cabral tivesse disso noção, se transformou nesta loja online. O empresário foi desafiado pelo Ministério da Economia para “coordenar um projecto que visava gerar buzz em torno de marcas portuguesas. O projecto não chegou a avançar mas serviu-me de inspiração”.
José Cabral acreditou que podia replicar a “a identidade visual que havia cultivado no Alfaiate Lisboeta” e assim nasceu a J. Lisbon, uma loja online que pretende ser muito real. “A loja não nasceu porque tenho um blogue e achei que podia converter os meus leitores em potenciais compradores. Nasceu porque a minha actividade enquanto autor de um blogue me fez compreender que podia resolver o problema de tipos que, como eu, têm todo um perfil para comprar vestuário online, mas não o fazem porque sentem que é arriscado.”
Para reduzir este risco, José Cabral dá o seu testemunho em relação a todas as peças que põe à venda na loja e as fotografias são, quase na totalidade, da autoria do próprio e feitas “à maneira” doAlfaiate Lisboeta. Ou seja, com pessoas comuns, em cenários comuns: “Os modelos não são modelos no sentido profissional do termo: há tipos de 1,70 m e outros de 1,87 m e gente a pesar, por hipótese, 60 kg 70 kg ou 80 kg. À semelhança do Alfaiate Lisboeta, qualquer homem que visite a loja pode aparecer naquelas imagens.”
Homens e crianças, que a J. Lisbon também foi feita a pensar nos mais pequenos. Por aqui é possível encontrar marcas como a Guava, a La Paz, a Knot ou as mais internacionais Hackett e Tag Heuer, entre outras. Em comum, todas reunirem factores que José Cabral considera essenciais. “Quando um homem se veste pensa em três coisas: sentir-se atraente, confiante e confortável. Aquelas peças são, quanto a mim, o caminho mais directo para que isso aconteça.”
Quando se prepara para festejar o primeiro ano de actividade, José Cabral diz-se satisfeito. Até porque o mês passado foi o primeiro em que a J. Lisbon vendeu mais para fora que em Portugal. “Quando se sonha ter uma marca de retalho que valorize a própria percepção que há do nosso país, este dado deixa-nos muito feliz.”