Cães danados. De brincadeira em brincadeira até à recuperação final

Cães danados. De brincadeira em brincadeira até à recuperação final


No hotel Quinta Monte dos Vendavais, no concelho de Cascais, há um centro de fisioterapia que trata situações de pré e pós-operatório, obesidade e velhice. Histórias com um final quase sempre feliz.


Podia esta reportagem ser sobre um hotel com mil e uma atracções, onde deixaria os seus cães e gatos confortáveis enquanto goza uns merecidos dias de descanso? Poder, podia, mas não era a mesma coisa. Na Quinta Monte dos Vendavais, paredes-meias com o aeródromo de Tires, esta valência é liderada pela médica veterinária Patrícia Duarte que, juntamente com a auxiliar de fisioterapia Alda Malveiro, recebe cães referenciados por veterinários ou pela simples opção dos donos, que nos dias de hoje estão mais atentos e alerta para o bem-estar dos seus animais.

Gatos, aqui, nem vê-los. Não porque não estejam aptos a recebê–los, mas porque não é frequente. Caminho livre, então, para os cães que sofrem acidentes e carregam consigo várias mazelas, para aqueles em que a falta de exercício físico maximiza os problemas de obesidade, bem como os que estão em idade avançada. Estes são os principais motivos que levam as pessoas a procurar esta quinta, criada em 1984 por Orlando Almeida, e que conta com este serviço na área da fisioterapia e reabilitação física animal desde 2004.

Na divisão destinada aos serviços do centro encontramos as condições adequadas à especificidade clínica de cada animal. De um lado fica a parte ligada à hidroterapia, composta por piscina e tapete rolante subaquático, munidos de água aquecida . Os equipamentos são indiferentes para uns, que se exercitam com o ar confiante de quem o faz todos os dias e de que aquilo é coisa para meninos mas, para outros, são assustadores, o que se percebe pelo olhar que os denuncia, pela inquietude dos movimentos ou pelos audíveis latidos.

Independentemente do estado de espírito, nada mais interessa do que a rápida e plena recuperação. Se o fim de cada exercício trouxer um biscoito, então, já valeu a pena. Num destes momentos, entre palavras e gestos meigos que procuram transmitir tranquilidade aos animais para o bom desenvolvimento do exercício, Patrícia, que conta com 16 anos de profissão – três deles na quinta –, diz-nos que o “trabalho dentro de água é excelente, pois não leva ao esforço sobre as articulações, possibilitando um exercício sem dor”. A tese é comprovada na hora. De passo lento mas firme, o pit bull Onyx mostra como se faz. 

No outro lado concentram-se os espaços para os exercícios, as massagens e a electroestimulação. Numa das paredes estão afixadas fotografias dos chamados “cães da casa” ou dos que frequentaram as instalações, parecendo servir de incentivo aos cães, e porque não também aos donos, de que o trabalho ali praticado e o investimento feito servem efectivamente para melhorar a qualidade de vida dos animais. 

No fim, após mais uma sessão, a rotina de sempre começa com o banho retemperador. Mais relaxados, é tempo de secar o farto pêlo. O vento quente da máquina deixa-os prontos para outra. Neste processo, a empatia entre cão e funcionário proporciona por mais do que uma vez uma lambidela inesperada em sinal de agradecimento. Cabeça afagada e espírito reconfortado, é agora tempo de despedidas e de recolher a casa. Uma das frases que Patrícia guarda na memória foi dita quando, ao terminar um tratamento com sucesso, um senhor soltou um sentido “obrigado por tudo o que fizeram por nós”. "O ‘nós’ pode ser lamechas, mas é muito gratificante”, como nos confidencia a médica veterinária.

Agora é hora de varrer os tufos de pêlo, dar uma mangueirada no chão, pôr as toalhas húmidas no cesto, estender os coletes salva-vidas, limpar os vidros do aparelho rectangular onde fica o tapete rolante e tapar a piscina. No fundo, deixar tudo pronto. Até à próxima lambidela.