Tsipras reúne com deputados em clima hostil

Tsipras reúne com deputados em clima hostil


O ministo da Energia grego já instou Tsipras a deixar cair o acordo. Vice-ministro dos Negócios Estrangeiros demitiu-se ontem.


Espera-se um dia quente em Atenas, esta terça-feira, com Alexis Tsipras a reunir com os deputados para tentar negociar um acordo antes de amanhã, 14 de Julho, levar o novo pacote de austeridade a votos no hemiciclo ateniense. A exigência dos credores, de que o pacote seja aprovado e legislado até esta quarta-feira, está a dificultar a vida a Tsipras, que enfrenta a oposição da ala mais à esquerda do Syriza.

Muitos acusam o primeiro-ministro grego de ter assumido uma posição demasiado ao centro, ao capitular pertante a Europa. As ruas de Atenas voltaram a encher-se durante o dia de ontem, com milhares de manifestantes a gritar um sonoro 'OXI' (não) às propostas que Tsipras quer levar a votos, e que incluem a transferência de 50 mil milhões de euros – praticamente um terço do total que o país detém – em activos patrimoniais para um fundo que servirá para apoiar a banca; a privatização da ADMIE, a empresa de distribuição de energia e cortes nas pensões, para só enumerar três das draconianas medidas impostas pelas autoridades internacionais.

Uma remodelação no Governo não é uma hipótese que se descarte, tendo já ontem havido uma baixa – a segunda, depois da saída de Varoufakis, no dia 6 de Julho. O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros demitiu-se ontem, afirmando que vai votar contra o pacote de austeridade. Também o ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, já se afirmou totalmente contra e quer que Tsipras deixe cair o acordo.

Nikos Filis, porta-voz do grupo parlamentar do Syriza afirmou esta manhã aos repórteres que o que aconteceu em Bruxelas foi um golpe de Estado e instou os deputados do partido a alinhar com Tsipras, sob risco de perderem aliados na Europa. "O que aconteceu em Bruxelas não foi um golpe? O que aconteceu? Eles não disseram que ou aceitávamos um acordo ou atiravam os bancos gregos para a bancarrota? O governo regressou sob ameaça política e económica, porque os gregos fizeram uma escolha diferente [no referendo de dia 5 de Julho]". E rematou. "Não podemos permitir um interregno da esquerda [no poder] com a cumplicidade das pessoas de esquerda", pediu Filis.

Já durante na sexta-feira passada o antigo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, pediu que fosse dado todo o apoio ao Syriza. O 'enfant terrible' da Grécia, que sempre se opôs a mais austeridade, salientou esta segunda-feira numa entrevista que a Europa estava a "vingar-se" da Grécia e que iria fazer "Tsipras engolir cada palavra de crítica" que tinha sido feita à troika nos últimos anos. Atenas, afirmou o economista, está numa "lose-lose situation", e sem alternativas que não o acordo.

Se Alexis Tsipras conseguir um voto favorável, amanhã, Bruxelas começa a tratar do financiamento-ponte que permitirá a Atenas fazer face aos seus compromissos financeiros antes de o resgate estar desenhado e aplicado pela troika, o que deverá levar cerca de quatro semanas. Enquanto isso, os bancos gregos continuam fechados pelo menos até esta quarta-feira, anunciou ontem o Governo.