Presidente do Uganda tenta mediação antes de eleições presidenciais no Burundi

Presidente do Uganda tenta mediação antes de eleições presidenciais no Burundi


A crise, marcada nos últimos dois meses e meio, foi desencadeada pela candidatura do actual PR.


O presidente do Uganda, Yoweri Museveni, vai iniciar esta terça-feira, em Bujumbura, uma delicada mediação na crise burundesa, que entrou numa nova fase com um aumento dos combates armados a uma semana das controversas eleições presidenciais.

A missão de Museveni, decano dos líderes da Comunidade da África Oriental (EAC, sigla em inglês), foi decidida por esta organização, na sequência do fracasso de dois mediadores das Nações Unidas.

A crise, marcada nos últimos dois meses e meio por violências, uma tentativa de golpe de Estado e confrontos entre exército e rebeldes, foi desencadeada pela candidatura do presidente Pierre Nkurunziza a um terceiro mandado, no escrutínio de 21 de Julho.

A oposição afirma que a candidatura é anticonstitucional e contrária ao Acordo de paz de Arusha, que pôs fim à longa guerra civil no Burundi (1993-2006, 300 mil mortos). Este acordo foi conseguido em 2000, depois de intensos esforços de mediação dos países da região.

"Esperamos muito mais de Museveni, não como facilitador ou mediador, mas como um dos responsáveis pelo acordo de Arusha, uma vez que ele presidiu à iniciativa regional para a negociação deste acordo", afirmou Leonce Ngendakumana, um dos principais opositores de Nkurunziza.

O objectivo "está escrito preto no branco" e é convencer o campo presidencial a renunciar a um terceiro mandato, acrescentou.

Para a oposição, que afirma ter sido impossibilitada de fazer campanha e alvo de ameaças permanentes, a questão do terceiro mandato é desde do início não-negociável.

Já o principal assessor para a comunicação do presidente Nkurunziza, Willy Nyamitwe, espera o oposto de Museveni e que convença a oposição a participar nas eleições.

Museveni "é um facilitador que conhece a região, que conhece o Burundi e que é sábio", considerou.

O presidente do Uganda está no poder desde 1986 e é acusado de querer perpetuar-se com uma candidatura no próximo ano.

"Custe o que custar, devemos concluir o processo eleitoral em curso para avançar para outra coisa", acrescentou Nyamitwe.

"Esperamos (…) que ele consiga convencer o resto da oposição radical, que continua a querer uma cadeira vazia, que para chegar ao poder é preciso passar pelas urnas", sublinhou.

O presidente ugandês deve ficar 24 horas em Bujumbura e encontrar-se também com os antigos chefes de Estado burundeses, que defenderam a saída de Pierre Nkurunziza.

A comitiva de Museveni chegou ao Burundi depois de uma centena de militares ugandeses destacados para garantirem a segurança do presidente, um sinal da extrema tensão que se vive no país.

A oficialização, no final de Abril, da candidatura de Nkurunziza, desencadeou uma tentativa de golpe de Estado e um movimento de contestação popular violentamente reprimido pela polícia.

Mais de 70 pessoas morreram na violência relacionada com a crise política, que levou também 150 mil burundeses a fugirem para a República Democrática do Congo (RDCongo), Ruanda e Tanzânia.

Lusa