Novo Banco. Quase 30% dos investidores em papel comercial do GES são reformados

Novo Banco. Quase 30% dos investidores em papel comercial do GES são reformados


No universo total foram contabilizadas 2.084 posições representativas de um montante total de 432,05 milhões de euros.


 A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) apresentou esta terça-feira no Parlamento vários dados sobre o perfil dos investidores em papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), nos quais se observa que 28% são reformados.

"No denominado 'universo total' verificou-se que, em 2.084 posições analisadas, em 575 casos (27,59%), os investidores são reformados e em 189 casos (9,07%) estariam desempregados", lê-se no documento que o presidente da CMVM, Carlos Tavares, entregou aos deputados e a que a agência Lusa teve acesso.

"É neste grupo de reformados que se regista o maior montante aplicado em papel comercial, traduzindo-se num valor de 116,1 milhões de euros", segundo os dados do supervisor do mercado de capitais, que indicam também que cerca de 40% dos subscritores (882) tinham mais de 65 anos, dos quais 16% (331) tinham mais de 75 anos.

A CMVM limitou esta análise aos clientes não qualificados e apenas do Banco Espírito Santo (BES), Banco Best e BES Açores, não se incluindo a sucursal do Luxemburgo (cujo o montante envolvido ascende a 47,95 milhões de euros), nem a Sucursal Financeira do Exterior (30,84 milhões de euros).

Do total de posições, em mais de metade (54,7%) os investidores subscreveram 100 mil euros (valor mínimo de subscrição do papel comercial Rioforte e Espírito Santo International), correspondentes a 26,4% do montante total, e 23,9% das subscrições foram de valor superior a 100 mil euros e igual ou inferior a 200 mil euros.

Isto significa que 79% dos investidores subscreveram papel comercial de valor igual ou inferior a 200 mil euros.

O peso das subscrições de valor igual ou superior a 500 mil euros é de 4,9% (103 subscrições), representando 26,2% do montante total das aplicações consideradas.

Já 32 subscrições são correspondentes a valores iguais ou superiores a um milhão de euros (13,4% do montante total das aplicações consideradas).

A CMVM deu conta de ter recebido 636 reclamações até 22 de junho, que correspondem a 690 subscrições de papel comercial (cujo valor ascende a 152,45 milhões de euros).

Quanto ao perfil de risco, a entidade liderada por Carlos Tavares considerou quatro perfis distintos: muito conservador, conservador, moderado ou dinâmico.

"De acordo com os dados obtidos junto do Novo Banco, os perfis atribuídos mais comuns foram o conservador e o moderado", de acordo com os elementos disponibilizados aos deputados pela CMVM.

No total, em 37,5% dos casos foi atribuído um perfil conservador e em 39,3% dos casos foi atribuído um perfil moderado, num total combinado de 76,8%, ou seja, mais de dois terços.

"Verificou-se que parte assinalável dos investidores/reclamantes aplicaram elevada percentagem do seu património em papel comercial" do GES, informou a CMVM.

No designado universo total, em 207 casos (9,9%), os investidores aplicaram 90% ou mais do seu património em papel comercial emitido pela Rioforte e pela Espírito Santo International (ESI) e em 37% dos casos o investimento em papel comercial representa metade ou mais do património financeiro do investidor no Grupo BES.

Quanto ao grau de escolaridade, cerca de 20% dos subscritores tinham escolaridade não superior ao ensino básico, havendo mesmo 31 casos de subscritores sem escolaridade.

Por fim, nota para a constatação por parte da CMVM que "tudo leva a crer que em muitos casos terá existido intervenção ativa dos agentes comerciais do BES junto dos clientes, em termos provavelmente não compatíveis com o pressuposto de 'mera execução de ordens".

Carlos Tavares foi hoje ouvido na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública, a pedido do Bloco de Esquerda, sobre a questão do papel comercial do GES que foi vendido a clientes de retalho do BES e não foi reembolsado.

Lusa