Henry Throop. “A exploração de Plutão é o final do livro, mas não é o fim”

Henry Throop. “A exploração de Plutão é o final do livro, mas não é o fim”


Investigador colabora na missão New Horizons desde o lançamento, em 2006.


Qual é a maior curiosidade em torno de Plutão?

O mais empolgante é mesmo sabermos tão pouco. Mesmo parâmetros básicos do sistema, como o seu tamanho ou origem, são desconhecidos. Estivemos em Marte dezenas de vezes e temos um conhecimento bastante bom da física da sua superfície. Mas em Plutão vai ser ainda um reconhecimento básico. Uma geologia estranha, satélites diferentes dos que conhecemos, um interior misterioso e uma atmosfera misteriosa. Uma coisa sabemos: sempre que exploramos novos mundos encontramos algo inesperado.

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A aproximação máxima será de 12 500 quilómetros, ainda assim quatro vezes mais que a distância da Terra à Estação Espacial Internacional. Porque não aterram?

Vamos demasiado depressa! A nossa velocidade é de 14 km/s. Plutão é tão pequeno que nem a sua gravidade nem a atmosfera conseguiriam desacelerar a New Horizons. Seria preciso muito mais combustível, o que teria tornado a missão inviável. Mas há um bónus: como não aterramos, vamos poder continuar a explorar a cintura de Kuiper.

Nos últimos dias surgiram imagens misteriosas, de estruturas idênticas lado a lado e de uma mancha em forma de coração. O que poderão ser?

O seu palpite é tão bom como o nosso. Podem ser géisers de gelo, montanhas de poeira, crateras ou outra coisa qualquer. Simplesmente não sabemos. É uma questão de esperar.

É o último grande mistério no sistema solar?

É um marco. A NASA e outras agências começaram a explorar o sistema solar em 1960 e estivemos em todos os planetas menos Plutão. Mas, embora seja o “final do livro”, não é o fim. No próximo ano vai ser lançada uma missão para recolher uma amostra da superfície de um asteróide e está também a ser preparada uma missão a Europa, satélite de Júpiter, um mundo gelado com um oceano morno debaixo da superfície.

Depois da missão, Plutão pode recuperar o lugar de nono planeta do sistema solar?

Muitos cientistas, inclusive o líder desta missão, Alan Stern, continuam a considerar Plutão um planeta. De um ponto de vista científico, é hoje mais fascinante que quando propusemos a missão. Quando o projecto foi seleccionado, em 2001, íamos explorar um sistema duplo, Plutão e Caronte. Entretanto foram descobertos outros quatro satélites. Do ponto de vista físico, Plutão talvez seja ainda mais interessante que alguns planetas. Tem uma atmosfera fina que se dissipa e adensa em função das estações do ano.

Há hipótese de ter vida?

É pouco provável. Plutão é frio, cerca de –230oC. Descobrimos vida em alguns ambientes extremos na Terra mas o recorde são bactérias a viver no gelo da Antárctida, entre –20oC e –30oC.

Até quando se espera comunicação com a New Horizons?

Vai demorar 16 meses a enviar para a Terra todos os dados e esperamos que continue a trabalhar muitos anos. A maior limitação poderá ser o combustível, não para a propulsão mas para manter a antena orientada para a Terra. As Voyager continuam a comunicar e estão no espaço desde os anos 70.

Como vão festejar o encontro com Plutão?

Vai ser muito emotivo para toda a equipa, de certeza. É um esforço de mais uma década.