Acordo com Irão. Israel começa a estudar lacunas para travar “grave erro”

Acordo com Irão. Israel começa a estudar lacunas para travar “grave erro”


Obama já garantiu que qualquer chumbo do Congresso ao acordo sobre o programa nuclear iraniano será revertido.


O anúncio formal ainda não tinha sido feito e Benjamin Netanyahu já estava a reagir oficialmente. Depois de ter criado uma nova conta oficial de Twitter em Farsi, a língua mais falada do Irão, para ir publicando as suas críticas às negociações do programa nuclear de Teerão entre o regime dos aiatolas e o P5+1, esta manhã o primeiro-ministro israelita falou aos jornalistas em Jerusalém antes de uma reunião do seu gabinete para atacar o acordo alcançado.

“O Irão vai obter um caminho claro para [desenvolver] armas nucleares. O Irão vai ganhar o jackpot, um bónus em dinheiro de centenas de milhares de milhões de dólares, que vai permitir-lhe manter as suas agressões e terrorismo na região e no mundo. Este é um grave erro de proporções históricas”, disse Netanyahu.

{relacionados}

Histórico é a palavra a que todos os media estão a recorrer para anunciar o acordo final alcançado entre o Irão e os Estados Unidos, Reino Unido, China, Rússia, França + Alemanha – um que foi anunciado às primeiras horas desta manhã, fechando 14 anos de tensões entre Teerão e a comunidade internacional.

Sob o novo acordo, a comunidade internacional compromete-se a aliviar as sanções impostas ao país islâmico de forma gradual em troca de limites impostos ao programa de enriquecimento de urânio que o Irão tem vindo a desenvolver ilegalmente nos últimos anos e que tem agora luz verde para avançar – sob inspecções regulares e independentes por equipas da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).

O regime tem sempre defendido que não pretende desenvolver armas nucleares, apenas produzir energia para uso doméstico, mas muitos países, de Israel à Arábia Saudita, têm dúvidas de que assim seja. “Sabíamos que a vontade de assinar um acordo era mais forte do que tudo o resto e por isso é que nunca tentámos travá-lo”, sublinhou Netanyahu. “Mas comprometemo-nos a travar o Irão e a impedi-lo de obter armas nucleares e esse compromisso mantém-se.”

Obama promete veto

Pouco depois do anúncio oficial de um acordo feito em Viena, Barack Obama surgiu na televisão americana em directo para anunciar que o “histórico acordo” foi alcançado e para garantir que tudo fará para que este seja aprovado e implementado. “Irei vetar qualquer legislação que previna a implementação de sucesso deste acordo”, declarou, num claro aviso aos democratas e republicanos do Congresso sobre a votação que aí vem.

A contar a partir de hoje, o parlamento de cada um dos sete países envolvidos tem 60 dias para aprovar ou rejeitar o acordo internacional firmado depois de 20 semanas de negociações na Áustria. Vários legisladores das duas câmaras do Congresso norte-americano têm defendido a manutenção das sanções ao Irão – tanto as que foram impostas pelos Estados Unidos como as que foram aprovadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Por essa razão antevê-se que o acordo alcançado entre Teerão e o P5+1 possa ser chumbado, sobretudo no Senado, a câmara alta do Congresso actualmente nas mãos dos republicanos. O presidente, contudo, tem o poder de vetar essa e outras decisões que ponham em risco o acordo – um que os analistas dizem ser um esforço de Obama para transformar um inimigo num amigo necessário, numa altura em que a coligação internacional precisa de todos os apoios que conseguir para destronar o autoproclamado Estado Islâmico no Iraque, na Síria e noutros países da região.

Aliança Israel-Congresso?

Assim que o documento final foi apresentado esta manhã, diplomatas israelitas terão recebido instruções para se concentrarem em lacunas legais do acordo, incluindo as concessões da parte do P5+1 sobre centrifugadoras que o Irão foi autorizado a manter, sobre os programas de investigação e desenvolvimento do regime, sobre os mecanismos de supervisão independente internacional e, sobretudo, sobre as concessões feitas quanto ao programa militar de Teerão (havia fontes a avançar na terça-feira que um dos pontos do acordo levanta parcialmente o embargo de armas imposto há vários anos ao Irão). “Vamos pôr a ênfase na conduta do Irão, na queima de bandeiras e no não-respeito pelos compromissos”, disse uma fonte da diplomacia israelita ao site “Israel News”.

O melhor caminho para conseguir exercer essa pressão é aliar-se ao Congresso norte-americano, algo que de resto Netanyahu fez em Março, quando aceitou o convite da liderança republicana no Senado para ir discursar na câmara alta sem sequer obter permissão do governo dos Estados Unidos. Esse discurso foi, para surpresa de ninguém, centrado na ameaça do Irão e no erro que seria dar luz verde ao país para que desenvolva o seu programa nuclear. E agora que isso aconteceu, os diplomatas hebraicos estão a receber instruções para analisarem cada ponto do acordo final com toda a atenção, em parceria com os senadores americanos, para usarem tudo o que estiver ao seu alcance e travarem a implementação do acordo.

Segundo a mesma fonte que falou ao Ynetnews, Israel vai deixar claro aos membros do Congresso do grande aliado que, “dentro de dez anos o Irão terá uma curta pausa no nuclear, mas que até lá vai continuar a financiar o terrorismo usando os milhares de milhões que vai receber” sob este acordo. Alguns membros das duas alas políticas norte-americanas já deram a entender que estão concentradas nas mesmas potenciais “lacunas” do acordo para tentarem chumbá-lo e conseguirem que Obama não vete essa decisão. “O diabo está nos detalhes”, disse à CNN o senador Ben Cardin. “Ainda não sabemos exactamente como serão os regimes de inspecção” da implementação deste acordo e do desenvolvimento do programa nuclear iraniano. “Essa será uma parte muito importante para muitos membros do Congresso. Já ouvimos falar de questões a ver com o embargo de armas. O alívio das sanções também é uma questão de incrível importância e que tipo de investigação está o Irão autorizado a desenvolver. Portanto há muitas questões sobre as quais penso que os membros do Congresso querem conhecer os detalhes antes de decidirem se apoiam ou não este acordo.”