App PictureShow com filtro IndigoGray © Hilário Quevedo
As negociações deste fim-de-semana para a zona euro chegar a acordo estão a ser muito difíceis. A Finlândia, sempre a primeira quando se trata de dificultar a vida ao próximo, já se manifestou contra o terceiro resgate e os rumores das exigências do ministro das Finanças alemão de que a Grécia deve alienar 50 mil milhões de euros de património estatal se quiser evitar a Grexit causaram espanto.
Nada nesta reunião seria fácil, e ainda menos após a convocação de um referendo que só serviu para distanciar devedores e credores num processo complexo em que a confiança é frágil.
Aproveito para lembrar que o referendo, do qual resultou um “OXI” celebrado pela esquerda e simpatizantes, fazia uma pergunta sobre um acordo que já não estava em cima da mesa. O resultado de 61% no “não” legitimou o que não existia, enfraquecendo a posição do governo grego. A vida é muito complicada. Não existe, portanto, uma negociação. Tsipras e Varoufakis arriscam ficar para a história como os responsáveis pelo aumento dramático da miséria na
Grécia, com as consequências que se prevêem. A Europa pode ser uma família disfuncional, mas isso não a torna diferente da maioria. O governo grego tinha a obrigação de não se aproveitar do desespero para conduzir o país ao abismo.
Conheço bem a Grécia e tudo isto me dói na alma. Sou como Juncker, o emocional inútil, a dar uma palmadinha na cara de Tsipras, a gostar daquele povo intenso, a sofrer com o seu sofrimento, e ao mesmo tempo a lamentar a disposição colectiva de preferir tornar o que é mau no que é péssimo por razões que só a literatura descreve bem.
Como podemos ajudar a Grécia e o povo grego? A primeira proposta foi fresca, inocente, e falhou. Um empresário britânico, Thom Feeney, propôs angariar numa semana os 1,6 mil milhões que a Grécia deve ao FMI através de um sistema de crowdfunding. Os 225,878€ doados foram devolvidos, mas a campanha foi relançada com outras características. Pode ser vista aqui.
O “Guardian” sugeriu a solução mais óbvia: visitar o país. O turismo é uma das principais fontes de receita da Grécia, e não é por acaso. A Grécia é um país deslumbrante – como Portugal –, com uma boa gastronomia – a portuguesa é melhor e mais saudável – e as pessoas são afáveis – são sobretudo amáveis para portugueses, espanhóis e italianos, e o mesmo não pode ser dito de nós. Tem, além do mais, sítios arqueológicos únicos, como Delfos, por exemplo.
Proponho uma terceira hipótese. É, como gosto, mais cara: o Reino Unido deve mostrar solidariedade com a Grécia e devolver de imediato os mármores do Partenón sem quaisquer custos. Os defensores da manutenção dos mármores em Londres teriam assim de se deslocar a Atenas para os ver. Seria, além do mais, a conclusão justa para um problema que se arrasta há mais de 180 anos, quando a Grécia reclamou o seu património. Os frisos e as estátuas são gregos, pertencem à história da Grécia (datados do século v a.C.) e não à história do Museu Britânico (que tem pouco mais de 250 anos). Sim, é mais um tema complexo, mas, ao contrário de outros, tem uma boa solução.
Escreve à segunda-feira