É o sócio n.º 25502 do Sporting Clube de Portugal. Ou era, até ser expulso. Não é um número muito antigo: Luiz Godinho Lopes é leão desde pequenino e assistir aos jogos de futebol com o pai, na Beira, em Moçambique, onde nasceu, era um programa de domingo à séria. Mas a vida nem sempre esteve para luxos e uma quota a mais eram uns cobres a menos.
Alguma vez prejudicou o clube? “Não me faça essa pergunta que eu até choro”. Garante que vai voltar ao Sporting. Para já, vai colocar processos em tribunal, não contra o clube, mas contra Bruno de Carvalho e aqueles que andam a “dizer mentiras”. O presidente do Sporting é “truculento”, diz. E com o nome de uma pessoa e os seus valores não se brinca.
Godinho Lopes foi o homem responsável pela construção da Academia e do novo estádio de Alvalade – que podia ter sido só um, a meias com o Benfica, não fosse o ministro do Desporto, José Lello e o receio de que Portugal não tivesse estádios suficientes para o Euro 2004. Defende-se das acusações de que é alvo e considera inaceitável nunca ninguém lhe ter feito uma pergunta sequer sobre o assunto.
O sector da contrução/imobiliário é um meio onde se movimenta à vontade. Aos 17 anos veio estudar para o Instituto Superior Técnico, quase sempre à noite, e mal tinha acabado o curso já estava a trabalhar na Inspecção-Geral do Trabalho. Peripécias não lhe faltam e chegou a integrar o VI governo. A sua história cruza-se com a de Carlos Carvalhas e uma mala de envelopes com o dinheiro de um dia de salário pela nação, a de João Soares, que não queria perder as eleições para a câmara de Lisboa, e a de Joaquim Ferreira do Amaral, que lhe disse que o PSD não poderia apoiá-lo para a presidência à câmara de Cascais.
Foi expulso do Sporting. De que é acusado, exactamente?
Segundo li, sou acusado de duas coisas.
Leu o relatório da auditoria?
Não, li do que foi apresentado no powerpoint de Bruno de Carvalho e, mais tarde, ouvi na rádio o que disse o presidente da assembleia geral. E depois o presidente do conselho fiscal e disciplinar falou na razão da minha expulsão. Dizem que houve desvios na área de construção – confundem imobiliário com construção, mas penso que querem dizer construção –, e referem-se à Academia de Alcochete e ao estádio de Alvalade. O documento diz que o valor previsto do estádio em 1999, na assembleia geral (AG) do Sporting, era de 5 milhões de euros e o custo final foi de 18 milhões. Mas, repare, eu não fui acusado de nada disto formalmente, fui acusado publicamente, no dia 28 de Junho.
Não foi notificado para nada, nem pelo tribunal?
Não. Mais do que isso, durante a realização da auditoria não me fizeram uma pergunta sequer. E o que os auditores dizem é que os números finais de construção não têm nada a ver com os iniciais, em momento algum dizem que houve desvios, o que houve foi alterações. O valor inicial era uma estimativa, antes de haver projecto. A adjudicação foi feita muito mais tarde.
Que alterações foram feitas e porquê?
Na altura entendemos que o arquitecto escolhido, porque houve um concurso, deveria ir com o Sporting ver academias já existentes, a Milão ou Espanha, para fazermos uma das melhores do mundo. O nome academia fomos nós que colocámos, o tradicional era centro de estágios. Mas achámos que o Sporting tinha autoridade moral sobre a matéria porque tinha formado jogadores como Figo, Cristiano Ronaldo ou Nani. E o espaço passou de 4 mil para 17 mil metros quadrados, com bancadas, balneários por baixo, um centro de treino coberto e assim sucessivamente.
E no caso do estádio?
Eu sabia que tinha um documento para explicar porque é que tínhamos deixado de ter o consórcio chamado Alvalade XXI, formado pela Teixeira Duarte, pela Somague e pela Ballast Nedam. Foi uma atitude difícil, em 1999 eu trabalhava na Somague e demiti-me para fazer este projecto.
Não havia conflito de interesses?
Não, a Somague sabia que era para lá que ia, eu fazia parte da comissão executiva e disse que não podia estar sob dois chapéus, ou servia o Sporting ou servia a Somague. Eles compreenderam. De outra forma eu viria um dia a ser destratado por alguém. Mas bastou-me fazer um telefonema para a empresa que fez a fiscalização do estádio, a Keiser, e falar com o responsável, Henrique Oliveira, para saber porque afastámos o consórcio inicial. Era uma empreitada muito grande, com várias actividades, electricidade, ar condicionado, centros de dados, computadores, elevadores, etc.
Não pensou que poderia vir a ser acusado de falta de transparência?
Oiça, tenho a minha consciência completamente tranquila. Fui convidar empresas que me davam maior garantia, fiz uma auscultação de mercado, mas não tive a preocupação de fazer um concurso muito formal. Quis saber qual era o melhor preço e obtive e adjudiquei, porque esta empresa tinha de ser da minha confiança, ia garantir o controlo de tudo.
Nunca receou que alguém dissesse que era para meter dinheiro ao bolso?
Não, nunca. Durmo todos os dias tranquilo. Não fiz a minha declaração de bens antes de entrar no Sporting e depois de sair, mas é uma questão de se analisar, não tenho problema absolutamente nenhum. Poderei ser acusado por inveja, mas nunca, jamais porque tirei um euro seja a quem for, aqui, na China, no Japão, onde quiser. Mas estes valores, incluindo quadros, foram entregues ao Sporting em Julho de 2003 e devem constar dos arquivos que deixámos no clube.
Já enviou alguma dessa informação ao Sporting?
Vou enviar ao tribunal.
Vai pôr processos em tribunal?
Claro. Vou analisar a tal auditoria, vou ver aquilo de que me acusam, com tempo, já não tenho só 15 dias para responder, e vou meter processos em tribunal. Em que, naturalmente, vou não visar o Sporting, que é o meu clube. Não vou atacar o Sporting, mas vou atacar as pessoas que promoveram quer as auditorias, quer o inquérito. Não se pode lavar as mãos como Pilatos.
A sua expulsão baseia-se em quê?
Além das contratações dos três jogadores [que o tribunal absolveu por se considerar incompetente para julgar], em mais de 60 pontos. Não tem nada a ver com o imobiliário. Veja bem a confusão. Fala-se em desvios, desvios e desvios, depois o presidente da assembleia geral diz que se calhar o Ministério Público vem ver. É grave. No meu tempo comprei 40 milhões de euros em jogadores. E paguei comissões de 5,5 milhões. Vendi 26 milhões de euros em jogadores.
O Euro 2004 foi fértil em estádios, raramente utililizados. Outros países repartiram equipamentos por dois clubes. O Sporting e o Benfica pensaram nisso, o que falhou?
É verdade. Na altura reuni com o Dr. Dias da Cunha e com o Dr. Manuel Vilarinho, sob o alto patrocínio do Dr. João Soares, que na altura era presidente da câmara de Lisboa, para fazer um único estádio. O Sporting já tinha iniciado as suas obras e não havia ainda decisão nem aprovação relativamente ao Euro 2004. O Sporting foi o primeiro a decidir fazer um novo estádio. As pessoas esquecem-se, mas o interesse era inaugurar o estádio em 2003 e não mais tarde. Por acaso o Ronaldo foi vendido no dia da inauguração do estádio e deu um encaixe importante ao Sporting: 17,5 milhões de euros. As vendas resultantes dos camarotes e das game-boxes, que eram os lugares de época, deram um resultado de mais de uma dezena de milhão de euros logo no primeiro ano. Qualquer atraso também tinha de ser compatibilizado com o dinheiro que deixava de ser ganho, vendemos logo quase 30 mil lugares de época e mais de 100 camarotes.
Teve mais experiências em câmaras e quis ser candidato a Cascais…
Eu quis ser presidente da câmara de Cascais contra José Luís Judas. Para ganhar só tinha uma hipótese, era ir com o partido, o PSD. O Joaquim Ferreira do Amaral e o Tavares Moreira estiveram em minha casa e disseram-me: “ó Luíz, não vale a pena meter-se nisso, porque você não é do PSD e há uma fila enorme de pessoas para se candidatarem à câmara de Cascais. Por isso não vai ser apoiado pelo PSD. Está disposto a apoiar o candidato ganhador?” Respondi que sim, desde que me desse confiança e fosse gerir bem o município. E assim foi.
Deu-se melhor com as empresas do que com a política. A Soconstroi foi o seu primeiro grande negócio?
Formei a Soconstroi em 1983. Em 1989 ganhei o primeiro dinheiro à séria, quando vendi 80% à Bouygues. Tínhamos entrado na CEE e achei que era uma boa oportunidade para as empresas internacionais entrarem em Portugal. Os franceses compraram primeiro 70%, depois mais 10%. Fiquei com eles até 1993 e aprendi imenso com a maior empresa de construção do mundo. Mil e cem empresas, os únicos presidentes não franceses éramos eu e um espanhol. Depois houve um problema. Os franceses vendiam-me os recursos humanos como sendo o mais importante nas empresas e um dia eu estou num conselho de administração em Paris quando o director-geral da Bouygues cai ao meu lado com um ataque de coração e eles mandam os paramédicos levar o corpo e querem continuar a reunião. Aí eu disse não, não foi isto que me ensinaram, de modo que demiti-me na altura, disse que a minha vida assentava noutros valores. Eu era sócio da Bouygues, presidente da empresa cá. O vice-presidente, que era presidente para a área internacional, chamou-me e disse que compreendia a minha atitude, mas tinha 1100 empresas, se fosse olhar para elas exclusivamente pelos afectos não teria hipóteses de as gerir. Mas dava-me a hipótese de recomprar os 80% da Soconstroi. Tive 15 dias para decidir, estávamos a 16 de Dezembro. Fiz um management buy out com a ajuda de Ângelo Correia, que me apresentou Alípio Dias, que era presidente do Totta & Açores, e de Tavares Moreira, da Caixa de Crédito Agrícola. Pediram-me um seguro de vida. O Banco Finantia também entrou, mas as condições foram outras.
E quando acabou de a pagar?
Em 1993, a empresa tinha crescido muito, facturava 13,5 milhões de contos. Em 1995, quando ia para a África do Sul para expandir, já tinha comprado 50% de uma empresa em Angola e outra em Moçambique, para atacar estes mercados, sou abordado pelo Dr. José Luís Tavares da Silva, da A. Silva & Silva, a dizer que eu tenho gestão e ele o património e devíamos fundir as empresas. Em 1997 já era a 4.ª do país, facturávamos 50 milhões de contos, e vendemos à Somague, onde eu trabalhei dois anos como presidente da área internacional e depois na área de ambiente. Foi quando passei para o Sporting.
É do Sporting desde pequenino?
Sim. Em Moçambique, onde nasci, ia com o meu pai ao futebol, era um programa de domingo, ir ver o Sporting da Beira, tomávamos o pequeno-almoço à inglesa, depois íamos assistir ao jogo. Ainda no outro dia encontrei o cartão de sócio do meu pai. Mais tarde joguei basquetebol, mas foi no Ferroviários da Beira, e também joguei râguebi no Instituto Superior Técnico.
E, apesar disso, não é um sócio muito antigo…
Passei uma situação económica complicada. O meu pai nasceu na Beira Baixa e a minha mãe no Baixo Alentejo e conheceram-se em Moçambique. A certa altura o meu pai teve uma empresa que distribuía produtos que vinha buscar a Portugal e à Europa e abriu umas lojas na Beira. Nos anos 60 teve problemas económicos fortíssimos – no liceu eu fazia parte da comissão organizadora de curso e acabava por não usufruir de nada porque não tinha condições financeiras. Por isso não podia pedir ao meu pai para ser sócio. Só muito mais tarde, depois de estabilizar a minha vida, já nos anos 90, me tornei sócio, quando fui chamado para a vice-presidência, exactamente para a área imobiliária.
Foi quando acabou o liceu que veio para Lisboa, para estudar no Instituto Superior Técnico (IST)?
Fui fazer o exame de aptidão à capital, a Lourenço Marques, actual Maputo, e em função do resultado era decidido para onde ia estudar. Por razões económicas vim para Portugal, onde já estava a minha irmã, e depois fui para o Técnico. Fiz aquelas coisas habituais, estudei a maior parte das vezes à noite, fiz muitos quilómetros a pé para poupar 50 centavos no eléctrico, custava 15 tostões a ida desde minha casa em Benfica até ao IST, mas se economizasse numa estação já era bom. Uma vida igual a muitos estudantes, não me queixo. Gostei de todas as fases da minha vida e aprendi imenso.
Mal tinha acabado o Técnico, já estava a trabalhar no Ministério do Trabalho. Tem um episódio muito inusitado, pode contar?
Quando acabei o curso fui trabalhar para o Ministério do Trabalho e fiz parte do dia do salário para a nação, o caso Costa Martins. O Inspector-Geral do Trabalho era o Dr. Raúl Junqueiro e eu sou convidado para analisar – eram três profissões; advocacia, economia e engenharia –, um dia de salário para a nação, decretado pelo antigo primeiro-ministro Vasco Gonçalves, para que houvesse uma contribuição das pessoas para a recuperação do país. Se não estou em erro, isto calhou no dia 6 de Outubro de 1975 e, na segunda-feira, as pessoas foram trabalhar e apareceram para contribuir no Ministério do Trabalho, na Praça de Londres. Havia filas de gente com envelopes na mão cheios de dinheiro. Que ninguém tinha dito onde devia ser entregue. Quando as pessoas começaram a perguntar, ele decidiu: Ministério do Trabalho. Mas não avisou o ministro. O secretário de de Estado era o Carlos Carvalhas, do Partido Comunista. Como ninguém estava à espera daquilo, puseram uma secretária no hall de entrada, cá em baixo, e foram enchendo gavetas. Ao almoço os envelopes já não cabiam em gavetas e foram a casa buscar uma mala de viagem para poder encher, mas sem tomar nota de nada. Ninguém sabia quem dava, quem não dava, quanto é que dava. Até que, no final, fez-se o registo possível: 6109 dádivas colectivas ou algo parecido, mais de 80 milhões de escudos (quase 11 milhões de euros à data de hoje).
Para onde foi esse dinheiro?
Por exemplo, a cooperativa de táxis que existe hoje em Lisboa apareceu na altura, tal como uma série de unidades cooperativas do Alentejo foram alimentadas por esse dinheiro, e empresas que nasceram depois do 25 de Abril. Agora, é verdade que aquilo deu origem a um pandemónio tal que até houve um processo e eu fui como testemunha de defesa explicar ao juiz toda a peripécia. Parte do dinheiro estava identificado, se era a totalidade ou não, não dava para perceber.
Era um ministério conturbado, o do Trabalho…
Pouco depois pedem a demissão do capitão Thomaz Rosa de ministro do Trabalho. O Eugénio Rosa, do PC, e o Barros de Moura, que já morreu, não davam informação ao ministro e ele então resolveu ir buscar 19 pessoas da sua confiança para preencher lugares-chave e ser informado a tempo. Isto deu origem a uma manifestação de trabalhadores que queriam a demissão do ministro na medida em que este não tinha feito passar essas admissões por Xabregas, onde estava o centro de formação profissional.
E o que aconteceu?
Houve uma reunião geral de trabalhadores a pedir a demissão do ministro. Antes do fim eu peço para intervir e digo que os trabalhadores têm razão, é inacreditável como é que o ministro, independentemente das razões, não foi buscar pessoas a Xabregas. Para nós, o 25 de Abril era um marco e, por isso, se todos estivessem de acordo, e uma vez que eu ambém não tinha passado por Xabregas – tinha sido convidado directamente –, demitia-me. E convidava todos os que estavam naquela sala na mesma situação a fazerem o mesmo. Claro, a reunião chegou ao fim, foi-se tudo embora, não houve demissão de ministro nenhum, poucos teriam passado por Xabregas, tinham todos entrado a convite dos partidos. Por causa disso fui convidado para o VI Governo Provisório como adjunto do secretário de Estado da Habitação, tinha na altura 22 anos. Serve isto também para dizer que em várias fases da vida fui passando por diversos locais que me deram uma formação baseada em múltiplos valores.
Diz isso como resposta às acusações de Bruno de Carvalho?
Uma pessoa que é expulsa, acusada de gestão danosa e de derrapagens orçamentais tem de se defender. Ter dinheiro não é o valor da minha vida e é o resultado de muito trabalho. Nasci em África, um continente multirracional, e os valores começam logo por aí, saber relacionar-se com as pessoas. Quando fui para a Venezuela, onde estive três anos, trabalhei com 2200 pessoas de 19 nacionalidades.
O que pensa de Bruno de Carvalho?
Penso que devemos distinguir vários aspectos. Não vou dizer se é mais ou menos sportinguista do que eu, quanto muito será igual a mim. Não vou discutir se trabalha mais ou menos do que eu; trabalha 24 horas, eu trabalhei 24 horas. Não vou discutir se é assalariado no Sporting e eu nunca fui, porque ele disse nas eleições que ia ser e eu disse que não ia ser. Os sportinguistas concordaram. Não vou discutir coisas positivas que foram feitas, como acabar a reestruturação ou baixar os custos globais do Sporting.
O que vai discutir, então?
Já vou discutir ele ter dito, e não precisava, que não herdou isto, quando lhe foi entregue uma reestruturação para acabar – naturalmente com as componentes de quem está no momento. Mas toda a base já existia, tanto assim é que o actual administrador financeiro da SAD era no meu tempo o empregado da KPMG que estava a trabalhar no Sporting no a preparar a reestruturação. Portanto, se está agora como administrador financeiro, foi porque na altura a KPMG ou os bancos entenderam que era interessante ele ir para lá e dar sequência a um processo que já estava começado. Bastava admitir que o Sporting tem história, tem passado, que fez coisas bem feitas e menos bem feitas. E no caso da reestruturação, adaptou-a. Ou então não dizia nada, mas o que não dizia é que não existia.
Que mais fez Bruno de Carvalho?
Também soube baixar os custos. Eu teria feito de outra maneira, porque deixei-lhe um dossiê a dizer como é que os custos se baixavam, mas não vou discutir gestão; não teria despedido toda a gente, mas isso são estilos de gestão. Como vê, até agora tenho sido simpático relativamente à análise.
O que considera errado?
Considero errado que ele pense que o Sporting começou quando ele chegou. Ou que desde o tempo de José Roquette ou de Pedro Santana Lopes é que as coisas começaram a correr mal. A análise vem dizer outras coisas. O património imobiliário tinha de ser alterado. Evidentemente que quem estivesse lá na altura, talvez tivesse optado por renovar o velho estádio em vez de fazer o novo… São decisões. Eu respeitei-as e tive de as concluir. Em vez de julgar as pessoas que naquela circunstância tomaram determinada decisão, que é feio. Depois há toda a sua forma truculenta de trabalhar, no que se refere à maneira de estar no Sporting, de gerir pelo medo, perante os trabalhadores, perante os jogadores. E isso vê-se na maneira como geriu os casos Manuel Fernandes, Marco Silva ou o meu próprio caso. Revela, de facto, que não está para unir os sportinguistas.
Mas tem apelado à união…
Mas como é que três milhões de sportinguistas podem apoiar o Sporting quando o próprio presidente divide o Sporting? Os aspectos que critico têm a ver com a maneira truculenta como gere, como cria casos. Já reparou que ninguém diz nada? Passaram quase 30 meses desde que é presidente e não se ouvem vozes contra. A única voz que se ouve agora sou eu ou Dias da Cunha, porque fomos atacados. Enquanto quando eu fui presidente, o próprio Bruno de Carvalho disse-me que tinha falado 59 vezes contra mim. 59. Esta forma de estar não une os sportinguistas.
Há pouco disse que lhe entregou um dossiê. Que dossiê?
Uma ou duas horas antes de ele tomar posse, levei-o ao gabinete e disse-lhe que tinha preparado uma documentação para lhe entregar com organigramas, números, valores a que devia chegar para ser viável financeiramente, quais os clubes interessados nos nossos jogadores. E ele ficou espantado. “Preparou isto para mim?” Preparei. Mas disse outra coisa, faça o que quiser desde que trate bem o Sporting. E eu, como sportinguista, estou calado. No dia em que disser qualquer coisa contra mim, não me vou calar. Tenho a minha vida, a minha relação com a sociedade, a minhavida profissional, a minha vida familiar e não estou para deixar nunca que me ponham em xeque. No dia em que o fizerem, eu vou falar contra. Da mesma maneira que Bruno de Carvalho disse há um mês e meio ou dois meses que quem fala contra o presidente do Sporting fala contra os adeptos, eu continuarei a falar até à exaustão para demonstrar de uma maneira clara que foram ditas mentiras, que há um processo de divisão do Sporting e que não se podem utilizar as pessoas.
Havia uma maneira certa de conduzir este processo?
Se houvesse bom senso, por isso digo que há má fé, e isto vai ter que justificar em tribunais. Se houvesse bom senso de quem está a dirigir, falavam com as pessoas visadas. Há um inquérito que resulta de um pedido dos sócios de 5 de Outubro de 2014 e que me é apresentado em 11 de Maio de 2015, sete meses depois, e dão-me 15 dias para responder? E durante esses sete meses não me fazem perguntas? Diz o presidente do conselho fiscal e disciplinar que eu tive seis meses para consultar o processo. Mas eu não tenho curiosidade em ver o resultado de uma auditoria em relação ao meu mandato porque eu estou tranquilo. Só quando me dizem que sou expulso é que tenho curiosidade em saber porquê.
Fala sempre no Sporting na primeira pesoa do plural.
Claro. Não tenho nada contra o Sporting. Adoro o Sporting e quero um dia voltar a ser sócio reintegrado com toda a alegria do mundo. Não aceito é ser injustiçado. As pessoas têm de perceber que todos os projectos têm de ter uma estratégia agarrada e só olha para trás quem não tem futuro. Eu queria levar o Sporting para a Índia e para os EUA.
A política e o futebol têm semelhanças?
Penso que as pessoas, em vez de verem alguém com uma casa melhor ou um carro melhor ou uma roupa melhor e invejarem essa pessoa, devem dizer eu gostaria de ter e o meu país deve dar-me condições para isso e vou eleger quem me vai dar essas condições. Isto é que é nivelar as coisas por cima. Em vez de fazer críticas, comentários e outdoors constantes sobre quem tem, devia haver, ao contrário, um estímulo, para que a votação pudesse ser para criar essas condições. E aqui também deve haver transparência. No momento em que há austeridade, transversalmente, não pode haver notícias de que se compram mais carros para o sector público, ou de que os políticos têm estas e aquelas benesses enquanto os restantes são cortados. Eu sou um social democrata convicto. Acredito que, por um lado, deve haver a capacidade de tudo aquilo que são os bens essenciais da população estarem garantidos, como seja a saúde, a educação, a terceira idade, a justiça e, em simultâneo, as oportunidades possam ser dadas a empresários que sejam de facto destemidos e queiram entrar no mercado como líderes e, desta maneira, há um equilíbrio entre o estado social e o estado liberal. A verdadeira social democracia é aquela que eu, de facto, independentemente de ser cristão e democrata, mas não democrata-cristão, sinto na verdadeira acepção da palavra.