Europa: A dívida grega é insustentável? É. E vamos aliviá-la? Não

Europa: A dívida grega é insustentável? É. E vamos aliviá-la? Não


Depois de muita pressão, os líderes europeus finalmente aceitaram a ideia que a dívida grega é insustentável. Mas vão fazer alguma coisa em relação a isso? Não.


Enquanto Atenas prepara as suas propostas para aceder a um terceiro resgate, num trabalho em que está a ser apoiada pelo governo francês que, ao lado dos irlandeses, parecem ser os únicos aliados da Grécia, os líderes europeus têm passado esta quinta-feira dedicados a comentários, recados e piadas sobre o país que desde 2009 vive em extrema austeridade.

Os comentários desta quinta-feira, porém, vão mostrando cada vez mais o porquê do bloqueio dos credores europeus em relação à Grécia: Já todos perceberam que a economia do país jamais dará a volta por cima sem se atacar o seu maior problema, o endividamento público, mas a vontade de quase todos é continuar a chutar a questão para o futuro. Isto apesar do problema não diminuir com o tempo, antes pelo contrário.

"Propostas credíveis também dos credores" Coube a Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, dar esta quinta-feira um murro na mesa: "Uma proposta credível de Atenas terá que ser acompanhada por propostas credíveis dos credores em relação à sustentabilidade da dívida grega." Para Tusk, não há dúvidas: Só com propostas credíveis de ambos os lados "haverá uma situação de 'win-win'."

Tusk vai assim de encontro à leitura já antes feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo governo dos EUA, mas também do irlandês e francês. "Nos próximos dias vamos ver se as partes conseguem recuperar a confiança entre si, para Atenas avançar com as reformas que precisa e a Europa com a reestruturação da dívida grega", disse Jack Lew, secretário de Estado norte-americano.

Mas a ideia de ajudar os gregos a enfrentar uma dívida insustentável choca de frente com a postura alemã e também finlandesa, entre outros, isto apesar de também estes já terem percebido que a economia grega jamais recuperará sem um alívio na dívida.

"Fora de questão" "Um corte clássico na dívida está fora de questão", disse esta quinta-feira Angela Merkel. Apesar disso, a chanceler admite que se repita uma reestruturação da mesma ao nível de prazos e juros cobrados o que, não reduzindo os montantes em dívida, aliviaria os encargos com juros a curto-prazo. A ideia de Merkel, porém, não passa pelo seu ministro das Finanças.

Também esta quinta-feira Wolfgang Schäuble admitiu que "a dívida grega continuará insustentável sem um corte à mesma", concordando "com a análise do FMI a esse nível". Mas admite dar esse alívio a Atenas? "Não, não posso, infringe as regras da União Europeia", contestou. Mas e se o alívio passar por uma reestruturação de prazos como defendeu Merkel? "A margem de manobra para uma reestruturação dessas é muito pequena."

Já sobre as posições que têm vindo a ser assumidas pelos Estados Unidos, pressionando os líderes europeus para aliviar o fardo do endividamento aos gregos, Schäuble assumiu por instantes a pasta de líder de toda a Europa: "Nós ficamos com Porto Rico e oferecemos a Grécia aos EUA, que tal?" disse entre risos. De certeza que a população grega gostou muito da piada.