Um check-up à vida dos portugueses

Um check-up à vida dos portugueses


Sabia que comer pouca fruta é o erro alimentar que rouba mais anos de vida saudável?


A esperança de vida   

Menos diferenças Nos últimos dez anos, a esperança de vida à nascença aumentou dois anos em Portugal e esbateu-se a diferença entre homens e mulheres. No biénio 2004-2006, revelam dados do INE, os homens podiam esperar viver 74,81 anos e as mulheres 81,33 anos, uma diferença de 6,52 anos. No biénio de 2012-2014, a esperança de vida dos homens subiu para 77,16 anos e nas mulheres para 83,03. A diferença encurtou-se, assim, quase um ano em apenas uma década.

Mais saudáveis Aos 65 anos, as portuguesas podem esperar viver hoje mais 9,3 anos de vida saudável, mais 4,2 anos do que em 2004. Já os homens podem contar actualmente com 9,3 anos de vida saudável, mais 5,5 anos do que há uma década. Se entre os mais jovens o nível de instrução está relacionado com maior esperança de vida, nos mais velhos a diferença já não é tão significativa.

5,87 Anos de diferença na esperança de vida entre homens e mulheres em 2014

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Os principais riscos e erros

O que faz mal Neste momento, os hábitos alimentares inadequados são o factor de risco mais prejudicial para a saúde dos portugueses. Segundo estimativas obtidas a partir do estudo “Global Burden of Diseases”, a Direcção-Geral da Saúde considera que estão por detrás de 19,2% dos anos de vida saudáveis perdidos todos os anos. Segue-se a hipertensão arterial, que afecta 42% dos portugueses, o excesso de peso, o fumo de tabaco e o consumo de álcool.

Erros alimentares O baixo consumo de fruta (menos de três peças/dia) é o maior risco alimentar evitável no país e está ligado a doenças do aparelho cardiovascular mas também oncológicas, dado a fruta contribuir para um estado saudável do organismo. O consumo diário de alimentos com teor excessivo de sal (o dobro do recomendado) e dietas pobres em vegetais são os outros erros mais nocivos.

10,7 gramas A ingestão diária de sal em Portugal é o dobro da recomendada pela OMS (<5g).

De que sofremos

Problemas mais comuns Actualmente, 85% da carga de doença no país correspondem a doenças crónicas, 9% a problemas resultantes de lesões e 6% ao impacto de doenças transmissíveis, como infecções respiratórias ou VIH. Dentro das doenças, as que mais contribuem para a perda de anos de vida saudável são as do aparelho circulatório e os cancros. Nas mulheres, os tumores mais frequentes são os da mama e do cólon; nos homens, próstata e cólon. Já quando se avaliam apenas os anos de vida com incapacidade, os problemas que roubam mais vida activa em Portugal são as perturbações musculo-esqueléticas, como fibromialgia ou artrites, e doenças do foro mental e comportamental – representam mais de 50% das situações. Outro grande problema: 40% da população tem pré-diabetes ou diabetes e por dia são diagnosticados 160 novos casos.

85% Mudou o paradigma: a maior parte das doenças dos portugueses são hoje crónicas.

As principais causas de morte

Últimos dados Mais de 70% das mortes em Portugal devem-se a doenças do aparelho circulatório (30%), tumores malignos (24%), doenças do aparelho respiratório (12%) e doenças endócrinas, nutricionais ou metabólicas como a diabetes (5%). A DGS considera também indiscutível pensar no suicídio como uma das principais causas de morte – estará por detrás de mais de 2000 mortes por ano.

Mortes prematuras Já na mortalidade antes dos 70 – 22% das 105 mil mortes no país em 2014 –, as principais causas são os tumores malignos (41% dos casos). Seguem-se as doenças do aparelho circulatório, lesões e envenenamentos e doenças do aparelho digestivo. Estima-se que 25% das mortes prematuras podem ser evitadas, o que em Portugal significaria salvar perto de 6000 vidas por ano.

6000 Estimativa de mortes prematuras evitáveis por ano tendo em conta dados do INE

As crianças portuguesas

O primeiro ano Portugal, como Cuba, está perto de eliminar a transmissão de VIH entre mães e filhos: em 2013 houve 196 gravidezes de mães infectadas e só dois casos de transmissão. A mortalidade infantil continua em queda e apesar de uma inversão em 2011 e 2012, no ano passado registou o número mais baixo de sempre: 231 mortes.

Na infância Erros alimentares são dos problemas que mais chamam a atenção entre as crianças portuguesas. Aos quatro anos, metade bebe refrigerantes e néctares diariamente. Nos últimos dez anos, há ainda assim sinais de controlo da obesidade, melhor cobertura vacinal e mais saúde dentária, com a criação do cheque-dentista do SNS. Em 2013, 54% das crianças de seis anos não tinham cáries contra 33% no ano 2000. Na infância, juventude e até aos 24 anos os acidentes são a principal causa de morte. 

2 Portugal está perto de eliminar a transmissão vertical de VIH. Em 2013 houve só dois casos.

O que se passa na idade adulta

Melhorias Um dado que diz tudo sobre o futuro do país: por cada cinco mulheres em idade fértil há seis crianças quando deviam ser 12 para haver renovação. O balanço da DGS para a idade adulta assinala como dado positivo a diminuição dos acidentes de trabalho envolvendo pessoas entre os 25 e 44 anos, embora acima desta idade se mantenham estáveis. Na idade adulta, os tumores malignos passam a ser a principal causa de morte e aqui as notícias não são boas: os óbitos têm aumentado.

Mulheres mais doentes Entre os 45 e os 64, 50% das mulheres refere ter alguma doença crónica ou problema prolongado contra 41% dos homens. Um terço das mulheres (32%) sente mesmo alguma limitação no dia-a-dia, contra 22,4% dos homens. Entre os 50 e os 59 anos, 10% sofre de doença pulmonar obstrutiva crónica.

32% Percentagem de mulheres entre os 45 e os 64 anos com limitações no dia-a-dia

O que afecta os mais velhos 

Tempo de vida Com 65 anos um português tem em média 19 anos de vida pela frente, mas só dez de boa saúde. Os dados da DGS mostram que entre os 65 e os 74 anos 65% das pessoas tem algum problema de sáude crónico e acima dos 75 já só 25% estão livres de doença. Nesta população, os tumores malignos são a principal causa de morte, seguindo-se as doenças do aparelho circulatório, primeiro o AVC e depois as doenças do coração, que ainda assim tem diminuído. Estas doenças, aliás podem ser prevenidas com boa alimentação e actividade física. Acima dos 75 anos a principal causa de morte é o AVC, que também tem baixado.

O futuro Mais compromissos para a prevenção foi o apelo deixado pela Direcção-Geral de Saúde. A começar pela redução de sal nos alimentos, combate à diabetes e tabagismo.

25% Aos 75 anos, apenas um quarto dos portugueses não tem problemas de saúde.