O escândalo rebentou no final do ano passado, quando o amontoar de queixas de pacientes levou à abertura de um inquérito às práticas da Gentle Dentist, que tem uma série de consultórios espalhados por Sydney. Em poucas visitas a várias instalações, as autoridades sanitárias de Nova Gales do Sul descobriram sérias falhas na esterilização dos equipamentos utilizados na clínica em cirurgias e outras operações de estomatologia que não meras consultas de check-up. E agora mais de 11 mil pessoas que foram submetidas a essas práticas estão a ser contactadas pelas autoridades, que as aconselham a ir ao médico pedir análises para detectar possíveis doenças transmitidas pelo sangue, como o vírus da imunodeficiência humana, VIH/sida, e hepatites.
A 2 de Dezembro, depois das primeiras investigações a clínicas do grupo Gentle Dentist no estado australiano, o sindicato dos dentistas, o Conselho Dental Australiano (CDA), despromoveu o doutor Robert Starkenburg, que admitiu que as práticas de higiene no seu consultório foram “por vezes, débeis”.
Em Fevereiro seguinte, as autoridades admitiram que as falhas se repetiram mais do que se julgava inicialmente e em várias clínicas. Eum mês depois foi a vez de o médico Samson Chan ver a sua licença suspensa, juntamente com outros quatro dentistas que trabalhavam em consultórios da Gentle Dentist, confirmou o CDA há alguns dias.
“Isto é muito mau para as pessoas que foram submetidas a intervenções invasivas nas gengivas e na dentição”, disse Shane Fryer, porta-voz do departamento de saúde de Nova Gales do Sul, ao “Guardian”. “A questão, agora, é se alguém com uma doença transmissível pelo sangue foi tratada numa destas clínicas e se os instrumentos usados nesses tratamentos não foram esterilizados de forma apropriada.”
Apesar de a mesma fonte garantir que existe um “baixo risco” de infecção nessas circunstâncias, as 11 250 pessoas que foram submetidas a cirurgias e outras intervenções complexas nas clínicas da Gentle Dentist na última década estão a ser avisadas por carta para irem ao médico fazer análises sanguíneas, pela possibilidade de terem contraído doenças graves. Apesar de alguns consultórios da pouco gentil cadeia já terem sido encerrados, a maioria continua em funcionamento.
Baixo risco Reagindo à histeria colectiva, e apoiando-se nas palavras do porta-voz de Saúde do estado australiano, a presidente do sindicato emitiu um comunicado dizendo que os riscos de se contrair infecções graves através de equipamentos mal esterilizados é “baixíssimo”.
“Há casos muito raros em que isso aconteceu”, diz Deb Crockrell, contrapondo que os dentistas levam muito a sério o controlo de infecções. “Temos cerca de 4 mil membros em Nova Gales do Sul que executam mais de seis milhões de intervenções por ano. O padrão geral de cuidados é excelente. O risco de os pacientes serem infectados por via sanguínea é extremamente baixo.”