Luís Miguel Cintra. “Não somos diferentes de ninguém, temos é outro trabalho”

Luís Miguel Cintra. “Não somos diferentes de ninguém, temos é outro trabalho”


Aos 66 anos, por fim, “Hamlet”. Que a urgência é inimiga da diferença. Para ver amanhã e terça.


Uma fatia de bolo e um café, que demora a terminar. Os mestres não olham ao tempo – nem na hora de encenar pela primeira vez o grande clássico de Shakespeare – nem a títulos como este. Luís Miguel Cintra tem 66 anos e rejeita a ideia de carreira, estima a partilha com os mais novos e repudia a noção de professor. Passa a vida a dizer que não tem nada para ensinar, esbate a segregação actor-espectador, condena o teatro de glamour e de purpurinas. “Hamlet”, com tradução de Sophia de Mello Breyner, é o resultado da tardes de tertúlia na casa da poetisa. E afinal é só mais uma peça no meio de tantas, mais ou menos reais. Vamos por aí.

 

Começou no teatro em 1968, já fez mais de cem espectáculos. Como se explica que seja a primeira vez que leva a palco um clássico desta dimensão?

Sempre achei que a ideia das carreiras é estúpida, no teatro, pelo menos. A ideia de que uma pessoa vai subindo degraus até estar à altura da dignidade de fazer o “Hamlet” é uma ideia muito tonta. Portanto sempre tive a reacção espontânea de dizer “essa não vale a pena fazer porque é o que toda a gente quer fazer”. Como tal fui deixando para trás, além disso deixei para trás porque havia uma tradução prometida…

Da Sophia de Mello Breyner.

Sim, desde muito novo que a oiço dizer “estou a fazer uma tradução do Hamlet” e ia-me mostrando pedaços. Parecia-me tão bem, achei que aquilo era fantástico, nunca tinha lido em português, algo que se parecia com Camões. Valia a pena esperar. Toda a vida tentei fazer coisas que fossem apanhadas como novidade, com alguma capacidade de intervenção. Sempre fiz teatro de texto, e nesse sentido a escolha do repertório é uma das formas de intervenção, portanto o “Hamlet” não pareceu nunca urgente.

E agora que decidiu fazê-lo, o que encontrou?

Em relação à época em que vivemos, percebi que o “Hamlet” conta muito uma coisa que se passa actualmente. É preciso estar desperto para a possibilidade de querer dizer isto: a impreparação de uma geração muito nova que recusa completamente a sociedade em que está inserida, mas não tem a capacidade de construir uma nova sociedade, com outras regras. E que tenta, através dos valores que herdou, construir uma sociedade que no fundo se baseia nas mesmas ideias.

O que é que o Luís propõe?

Não proponho nada, até porque não terei tempo de assistir a essa mudança. Nem sou eu que tenho de dizer. Sinto um enorme descrédito em todas essas pessoas, ninguém acredita na democracia parlamentar em vigor.

Já tinha feito um espectáculo com trechos de “Hamlet”, em 1998, mas que pouco tem a ver com o original.

Sim, a “Máquina Hamlet”, do Heiner Müller. Conhecemo-lo pessoalmente, foi alguém muito importante como director do Berliner Ensemble e de certa maneira filho de Brecht. Viveu em conflito, vivia quase simbolicamente em Berlim para ter um pé de cada lado do muro. Como dramaturgo teve de enfrentar a tradução e discussão das peças feitas, uma delas o “Hamlet”. o que é engraçado é que ele consegue tornar os apontamentos que foi tirando ao longo da análise uma peça própria.  

Voltando a Sophia, foi alguém muito importante para si.

Tive uma sorte gigantesca, o convívio com uma quantidade de pessoas extraordinárias, que eram amigas dos meus pais. Iam muitas vezes a minha casa, convivi com pessoas que tinham uma outra ideia do saber, que não era um saber técnico, que era uma espécie de prazer das humanidades. Música, literatura, pintura, as conversas eram só sobre isso. Foi assim que conheci a Sophia.

Com que idade?

Não sei ao certo, na adolescência, quando fui para a Faculdade de Letras. Já na altura a Sophia fazia algo que hoje é impensável. Convidava os amigos da filha a ir lá a casa à noite e conviver com ela. Divertia-se, dançava connosco, recitava. Ela funcionava como uma referência entre os intelectuais de esquerda.

Uma partilha geracional, mistura entre lazer e saber.

Sim, a Sophia era muito escrupulosa, e também queria divertir-se. Resolveu dizer que a tradução precisava de ser revista, ia para casa dela muitas tardes e ela pedia-
-me que lesse, perguntava-me o que não achava bem, eu sugeria algumas alterações. A minha sensação não era de estar a perder tempo, mas sim a ganhá-lo.

Essa experiência acaba por estar muito presente neste “Hamlet”, correcto?

Profundamente, lembro-me muito dela. Foi uma pessoa fundamental para mim, toda a vida disse poesia dela. Este espectáculo tem muito a ver com esse carinho que tinha por ela, tanto que no outro dia estava a ver a folha de sala e disse: “Acho mal que não se ponha o nome dela na frente.” Disseram-me que não costumam pôr o nome do tradutor à frente, o nome do autor sim, e eu respondi que este “Hamlet” é feito a meias entre Shakespeare e a Sophia.

E em que quis ter um pequeno papel em palco, como, de resto, em grande parte das suas encenações.

A minha saúde já não me permite continuar a fazer papéis muito grandes, mas, como gosto tanto de representar… aliás é-me mais difícil não representar que não encenar, sou mais actor na minha maneira de ser. Para mim, toda a vida tem sido importante estar do lado dos actores quando se chega aos espectáculos propriamente ditos.

Para que não sintam um fosso entre elenco e encenador?

Também por egoísmo. Já estive de fora e tenho uma pena de me separar daquelas pessoas na altura da estreia… Separar através do espectáculo…

Ficaria na bancada.

Exacto, uma vez fiz isso, fui para França em trabalho e quando voltei, três semanas depois, fiquei varado porque não reconhecia o que estava ali em cena. Dessa vez reuni com os actores e expliquei que aquilo não correspondia ao espectáculo que tínhamos criado em conjunto e no dia seguinte fizeram-no perfeitamente. Tenho horror a qualquer espécie de comando, é uma coisa que me é intrinsecamente repugnante.

Esse foi um dos temas que o Luís abordou no ciclo de conversas em Almada no ano passado, “Sentido dos Mestres”, em que insiste em dizer: “Não tenho nada para ensinar.” Como é que isso é possível para alguém com a sua experiência?

Bom, eles têm para aprender, eu é que não tenho para ensinar.

Como…?

Tenho muitas dúvidas, só tenho dúvidas. Repugna-me transmitir hesitações às pessoas, que estas poderão tomar como certezas. Tenho demasiada noção do que é a passagem no tempo, a evolução do pensamento das pessoas, portanto não gosto nada de pensar que estou numa posição de Deus. Toda a sociedade é estruturada nisso, coisa que é feita para a controlar, ninguém reconhece as pessoas que nos governam.

Presumo que seja uma delas…

Sim, deixei de votar, porque aquelas pessoas que se vão sentar na Assembleia não vão ser nossos representantes, vão representar os interesses de outros poderes que não são os nossos. Então e a gente está a validar isso com o nosso voto?

Essa aversão ao poder, a uma variável dominante, foi a razão pela qual sempre recusou ser professor? Tirando um ano, no Conservatório…

Até então já tinha essa ideia, que não sabia ensinar. A questão é que era muito novo, e era mais normal que dissesse algo desse género. No entanto, as pessoas que estavam à frente do Conservatório não me levaram a sério e deixaram-me fazer o que contrapropus. Fazer um trabalho prático, distribuir os papéis e fazer com eles uma peça. E é exactamente o que acontece numa companhia, porque através do trabalho, e não estando preocupado em ensinar nada a ninguém, acabamos por aprender uns com os outros.

Haverá sempre muita gente a dizer que o Luís é um mestre e uma inspiração…

Sim, tenho noção disso e, de certa maneira, gosto. E reconheço que é verdade. Quando vejo uma actriz como a Luísa Cruz a representar sei que o que ali está ela aprendeu comigo, fazendo os dois as mesmas coisas.

Quase como colegas.

Exactamente, como um colega, e no meu caso mistura-se uma carga de afectividade muito grande. Aliás, acho que assim é que as pessoas deviam trabalhar. Apego-me muito às pessoas, tenho tendência para continuar a trabalhar com pessoas de quem gosto e gostei de trabalhar com tantas que teria uma escola muito grande.

Foi também entre colegas que iniciou a sua odisseia no teatro, na Faculdade de Letras. O seu curso é de Filologia Românica, o mesmo que o do seu pai. O que guarda?

Mais as pessoas que conheci que as aulas. O convívio com os outros alunos e professores. No bar, onde se passava grande parte do ensino, cruzava-me com o Eduardo Prado Coelho, com o professor Manuel Magalhães, a Eduarda Dionísio, uma pessoa aprende muito dessa maneira. Hoje fico chocado quando vou às universidades e vejo cada pessoa no seu canto, muito sozinhas. Vão lá a correr e o resto fazem pela internet.

E foi também na Faculdade de Letras que encontrou a fórmula de se iniciar no teatro. O interesse já vinha de antes?

Sim, já gostava muito, bem antes disso. Fazia teatro de marionetas, escrevia peças, fazia cenários para os meus irmãos e para os amigos do prédio.

Isso com que idade?

Catorze, 15 anos. Quando chegou o 7.o ano fui ao Instituto de Orientação Profissional e uma das coisas que disse foi que tinha aquele desejo secreto de fazer teatro, mas como achava que era muito tímido se calhar não podia.

O que lhe responderam?

Disseram-me que isso de ser tímido era uma coisa até muito boa para um actor. A maior parte dos actores eram tímidos e até gagos, como o Raul Solnado e o Rui Mendes. Fui para o teatro com vontade de mudar o teatro que se fazia, quis ir estudar fora, fui com um grupo de amigos no Verão de 68 ao Festival de Avignon, pois queríamos perceber o que se passava em termos de agitação política em França depois de Maio de 68. Não se tinham chegado a realizar uns espectáculos, mas foi muito importante ter lá estado.

Teve ainda uma aventura em Bristol, de 70 a 72, antes de fundar a Cornucópia. Que experiência foi essa?

Podes imaginar o que significa de repente sair de Lisboa, no pré-25 de Abril, e ir parar a Bristol, onde não conhecia absolutamente ninguém?

Foi sozinho.

Sim, o Jorge Silva Melo resolveu tirar um curso também, combinámos isto mais ou menos a dois, mas ele foi tirar Cinema e ficou em Londres. Foi uma transformação enorme, coincidiu com a minha saída de casa dos pais, adorei, devia ter uns 21 anos. Apesar de ter alguma distância em relação ao conceito de teatro que eles ensinavam aos alunos. Os ingleses são muito práticos, muito concretos.

Achava piada a isso?

Sim, é muito engraçado. Eles não têm, por exemplo, hierarquia de temas, qualquer coisa é objecto da inteligência de qualquer um, é uma coisa muito bonita e útil. Preocupam-se tanto com esta chávena [agarra na chávena de café que tem à frente] estar no seu sítio e ter as medidas precisas como com a teoria do bem e do mal e a metafísica.

Regressa e cria a Cornucópia, que é, no fundo, um dos pilares do teatro português.

A gente nunca pensou nisso, nunca pensou em ser pilar de nada, a gente queria era fazer. Digo sempre a gente, a gente, porque o núcleo e o princípio da Cornucópia foi muito pensado por mim e pelo Jorge [Silva Melo]. Sozinho não teria feito nada, não teria a ousadia.

Estava reticente, na altura?

Sim, tinha algum medo de não ser capaz. E aí ele empurra as pessoas para os projectos, facilita, transforma-se, de certa maneira, numa maneira de vampirizar a vida dessas pessoas, porque ele também participa nelas.

Li que disse: “Ser artista é uma responsabilidade pública. Ou seja, é uma maneira de estar com outras pessoas.” Parece-lhe que o Luís, o Jorge Silva Melo, a Cornucópia, são exemplos disso?

Para mim, actualmente, a forma como sinto o teatro nada tem a ver com aquilo em que a actividade teatral se tornou. Tornou–se um mercado, com regras próprias, fabricação de determinados produtos vendáveis. O financiamento deixou de ser vir do Estado na sua maior parte. Ainda tenho uma ideia de teatro que nada se assemelha a isso, que é uma maneira de criar processos que são lúdicos, brincadeiras, menos ou mais intelectualizadas, de as pessoas se reunirem e pensarem sobre determinadas coisas que lhes dizem respeito o resto da vida. É o que me leva, por exemplo, a não pensar no espectador como um comprador de bilhete.

Também para este “Hamlet”?

Claro, este espectáculo é um suicídio autêntico nesse sentido.

O preço certo, justo se quiser, deveria ser 50€?

Não pensei nisso, não fiz as contas, sempre que me falam de dinheiro tenho um medo terrível de meter a pata na poça, eu e os números… Não imagino nunca entre o público pessoas fáceis de enganar. Imagino-as sempre parecidas comigo.

Com o risco de, em grande parte das vezes, isso não corresponder à verdade.

Nunca é a verdade, é uma ilusão e ainda bem, se as pessoas fossem todas parecidas comigo era uma chatice [risos]. Devo propor-lhes o melhor e o que sou capaz de dar, só assim terei um retorno verdadeiro.

Dizia há pouco que estima a escolha de repertório, que gosta de uma abordagem distinta. Este “Hamlet” é de facto um exemplo disso, algo subvertido. Parece-lhe que há quem se vá chocar com este “Hamlet”?

As pessoas vão achar que este “Hamlet” não é o “Hamlet”, que esse precisa de outro brilho, de actores brilhantes, depende do que se quer na vida. Repugna-me uma mulher que se transforma numa espécie de boneco, que esconde a sua natureza para ir a um jantar. Vai haver muita gente que gostaria de ver o glamour que não há neste “Hamlet”.

Percebe a razão pela qual isso acontece?

Sim, as pessoas é que não percebem. Querem esse glamour porque têm a imagem dos grandes actores ingleses a fazer o “Hamlet”, mas falam disso sem os terem visto e se viram´ não perceberam porque é que eles são bons. Esse teatro não me interessa nada. Acho mais importante conferir ao espectador uma atitude que não é de inferioridade em relação ao que se passa no palco. A atitude normal do espectador é querer ir ao teatro para admirar a superioridade do artista, não somos diferentes de ninguém, temos é outro trabalho. E estamos a apresentar um objecto para eles analisarem.

Quase como se um electricista pudesse fazer o mesmo convosco.

Aí é mais difícil, sobretudo porque não se podem discutir certas questões técnicas, mas não se pode considerar o teatro uma técnica. Não se pode estar a provar que filosofia está certa, se é esta ou aquela, não se pode provar que religião é mais correcta. Há uma zona da personalidade, felizmente, que é o espírito.

O que quer dizer com espírito?

Peço desculpa, chamem-lhe o que quiserem, mas não é propriamente a mesma coisa que acontece com os animais, isso é certo, é aquilo em que acredito.

Deve ser difícil compreender ou imaginar a diferença entre uma estrutura como a Cornucópia hoje em dia e pela altura do PREC…

O grande problema da Cornucópia é que tinha de ter mudado muito mais do que mudou. A Cornucópia é anacrónica.

Presumo que tenha mais condições.

O espaço de escritório é o mesmo, a importância do escritório e do dinheiro que este come é imenso, o escritório é importantíssimo. A gente, quando começou, fazia o escritório num café.

E eram vocês que faziam, agora já têm alguém que o faça.

Sim, algumas ainda continuamos a fazer. Tenho pena, por exemplo, que já não ganhemos todos o mesmo. Quando começámos, eu e o Jorge, directores da companhia, ganhávamos o mesmo que a pessoa que estava na bilheteira, gostava muito disso. Nivelava-se por baixo, a gente partia do princípio “para que serve as pessoas ganharem dinheiro?”. Para comerem, para terem uma casa onde dormir, ponto final. Havia um mínimo que era necessário a toda a gente, não é por uma pessoa ter mais cursos que deve ganhar mais.

Quase como Hamlet diz a certa altura da peça: “O que é o homem se o seu bem maior não passa de comer e dormir?” Concorda ou considera que existe algo que se intromete nisto?

Concordo completamente. Acho que o personagem formular isso é uma grande descoberta que ele faz em novo. Eu já convivo com isso há muitos anos.

Lida com isso desde os dez?

Tenho a impressão que foi no berço [risos]. Pelo menos no outro dia vi uma fotografia minha – vê lá como eram os meus pais – que encontrei lá em casa e onde estou eu feito menino Jesus, ao colo da minha mãe mascarada de Nossa Senhora, para o meu pai tirar uma fotografia. Se eles próprios faziam esta teatrada é porque com certeza era mais do que comer e dormir.

É possível alguém com a sua longevidade em palco recordar-se de tanta coisa?

Não, a gente esquece muito. É muito intenso na altura que se está a fazer, para mim cada peça traz um universo, é uma determinada época que vem em certos temas, temos de mergulhar num mundo especial para criar as personagens. Mas é algo mais vago que memorizar as falas e afins. Ficam as pessoas, a intimidade que só se gera quando a gente está a representar… apesar de ser tudo sobre coisas falsas [risos].

E do cinema, o que recorda?

O cinema é muito diferente, não é filmar que é o mais importante mas sim o convívio e o conhecimento da pessoa perante o realizador. Pode-se estar o dia todo em rodagem para filmar 20 segundos. É o falar com ele, perceber o que ele quer de nós. Nesse aspecto tive uma sorte enorme, começar a vida com o Manoel de Oliveira, o João César Monteiro, o Paulo Rocha. Se queres que seja sincero, não me sinto um actor de cinema.

Por comparação com o teatro?

Sim, sou um actor de teatro, tenho sido útil às pessoas do cinema, com quem tenho feito projectos muito engraçados.

Nunca pensou em realizar?

Pensei, mas depois arrependo-me sempre. Tenho falado muitas vezes ao Joaquim Pinto nisso, se eles não me ajudavam a fazer um filme. “Quando tu quiseres”, dizem eles. Eu é que depois começo a pensar nisso e não quero, o cinema é uma arte de construir imagens, não penso assim, penso pelo lado de dentro, do lado do actor. Não é que não venha a fazê–lo, mas para já não.

Faz teatro, cinema, fez ópera, lê poesia, são tudo coisas que o ajudam a resistir?

Ajudam-me a viver mais, são um potencializador da vida. Mesmo que seja a fingir a gente passa por experiências muito diferentes, isso dá-nos um outro pensamento. Ter feito um grande papel de Tchekov, de Shakespeare, tudo isso nos leva a ver a vida com uma sensibilidade especial.

Tem 66 anos…

Sim, reformei-me no dia 29 de Abril. Como muitos outros reformados continuo a trabalhar, não quero parar.

Dizia há pouco que já sente dificuldade em interpretar grandes papéis. O que se segue?

A minha memória baralha-se, há coisas de que tenho pena mas já não consigo fazer. Vou tentar continuar a encenar espectáculos e sobretudo ser útil aos que vão continuar depois. Mais que fazer brilharetes para coroar aquela coisa da carreira, apetece-me é fazer coisas arriscadas, perigosas e que me dêem a conhecer a vida dos mais novos, a forma como pensam. Quero continuar a viver.