© Petros Karadjias/AP
Não parecem restar muitas dúvidas a ninguém de que a Grécia não vai pagar a dívida. Não parecem restar muitas dúvidas de que Portugal, Espanha, Itália e França não vão pagar as dívidas que acumularam. Pagam os juros dessas dívidas com os empréstimos que vão pedindo, os que sofreram com a troika.
O que não deixa de ser um bom negócio para os credores: não recebem a dívida, é verdade, mas vão recebendo juros que pagam mais que a dívida e vêem a dívida aumentar, logo também os juros.
Em paralelo, vão arrasando a economia e a estrutura social dos países devedores, sobretudo a dos mais pequenos, criando assim mercados de trabalho mais em conta para as suas ambições. Estamos, portanto, no melhor dos mundos para os coitados dos credores.
Tudo isto numa Europa que se quis união para solidificar laços de solidariedade e combater possíveis veleidades ditatoriais. Apetece rir. Sobretudo vendo que esta UE está à beira de nos levar a todos para mais uma guerra fratricida que não sabemos nem como nem quando começa, nem sobretudo como e quando acaba. Será que ninguém tem olhos no rosto nem vergonha no resto da cara?
É preciso vir Obama lembrar que o caso grego (e não só esse, todos os outros) tem de ser resolvido a bem da Europa e do mundo? Será que esta indigente e esclerosada camarilha dirigente europeia não percebe o que está mesmo à vista? Ou só tem olhos para o lucro fácil, os bancos e as bolsas? Já nem o lucro honesto do trabalho lhes interessa?
Ao contrário do que muitos comentadores dizem, não acredito que a derrota do Syriza seja a derrota dos movimentos extremistas na Europa, que assim ficam vacinados. Nada disso.
Parece-me tudo bastante mais grave. O que os cidadãos europeus percebem é que esta política de destruir países e povos não pode continuar e tem de acabar de alguma maneira. Ou com uma tomada democrática das assembleias europeias por partidos que digam não a esta extorsão vil, ou por processos muito mais radicais, como levantamentos populares de consequências imprevisíveis.
Estamos todos a dançar sobre um vulcão, como dizia Renoir. Parem a música, que gostaria de me apear.
Escreve à sexta-feira