Só o voto os poderá parar


Recuperado Dias Loureiro, regressado Miguel Relvas, prolifera a falta de senso, o vale tudo e o esforço de Passos para passar a ideia de não ter havido e não haver alternativa. Só na morte é assim.


© Raquel Wise

É um caso perdido. O governo de Passos e de Portas perdeu o que restava de senso. Enquanto o primeiro-ministro se entretém a fazer de força de bloqueio à Grécia e o Presidente da República exercita uma ridícula contabilidade, como se a saída de um país da zona euro fosse uma irrelevância política, sucedem-se as contradições, o uso do poder à ganância e a indiferença perante os sinais preocupantes da sociedade e do mundo.

Contradições

Num avanço civilizacional do ponto de vista do reconhecimento dos direitos, o Supremo Tribunal norte-americano legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a direita em Portugal resolveu responder com uma espécie de ajuste de contas, impondo taxas moderadoras na interrupção voluntária da gravidez.

Enquanto a Rede Europeia de Centros e Museus de Ciência cria os Prémios Mariano Gago, em homenagem ao seu contributo para a investigação e para a ciência em Portugal, Passos Coelho encerra quatro dos 12 laboratórios que zelam pela segurança da água para consumo. Por falar em água, o mesmo governo que quer empurrar para as autarquias competências na educação, na cultura e na saúde impõe a sua vontade unilateral, à bruta e sem respeito pelas posições accionistas dos municípios, no processo de fusão dos sistemas de abastecimento de água. O tal que vai levar ao aumento do preço da água no litoral.

O uso do poder à ganância 

Em 2012, Passos e Portas encerraram sete embaixadas, duas missões diplomáticas e cinco vice-consulados. Com o argumento da poupança, deixaram sem apoio de proximidade milhares de portugueses, justamente no momento em que a nova vaga de emigrantes acontecia, em consonância com a falta de oportunidades em território nacional e com as sugestões do governo.

Agora, Passos Coelho vai reabrir a missão da UNESCO para colocar o actual chefe de gabinete (o anterior está em Madrid), Machete quer colocar o seu chefe de gabinete em Paris e até uma deputada do PSD em funções tem cartão de embarque para adida técnica principal na área social na embaixada de Portugal em Berna, Suíça. Um fartar vilanagem que chega à utilização da máquina do Estado para fins partidários.

Em Maio, o gabinete do Ministro Poiares Maduro coordenava com os restantes gabinetes a elaboração de um argumentário contra as propostas do PS. Em Junho, a ministra da Justiça sentenciou a avaliação do programa eleitoral do PS e o ministro da Economia investiu em idêntica iniciativa. Como vale tudo, a Segurança Social contratou, em ajuste directo de 75 mil euros, um estudo sobre a sustentabilidade das pensões a Jorge Bravo que está a participar na elaboração do programa eleitoral do PSD. 

Indiferença perante os sinais 

Enleado nas narrativas que constrói, o governo de Passos e Portas mantém uma indiferença olímpica perante o mal-estar em três pilares fundamentais do Estado: a Defesa Nacional, a Justiça e a Administração Interna. Nuns casos por excessiva verborreia e arrogância dos membros do governo, noutros casos por inexistência do titular, como é o caso da Administração Interna. Sempre por responsabilidade política de Pedro Passos Coelho.

E depois há tudo o resto. Há 5 mil empresas portuguesas que dependem em 100% das exportações para Angola e mais de 3 mil portugueses que regressaram por falta de trabalho. Em Maio, a taxa de desemprego subiu para os 13,2%, apesar da limpeza de desempregados das estatísticas e da criação sazonal de empregos. Portugal tem a quinta taxa de desemprego mais elevada da União Europeia.

O Tribunal de Contas considerou que as privatizações da EDP e da REN não acautelaram os “interesses estratégicos do Estado”. A Unidade Técnica de Apoio Orçamental avisa que, com um défice orçamental de 5,8 % no primeiro trimestre, a meta anual do défice pode estar em risco. Vem aí um Verão sem limites. Depois do branqueamento dos últimos quatro anos, estão a retomar a tese do “podia ter sido tudo muito pior”.

O livro de Miguel Relvas é mais um instrumento dessa propaganda. Depois de Passos Coelho recuperar Dias Loureiro, por que é que Miguel Relvas ficaria quieto a assistir às fantasias? Com tanta falta de senso dos políticos do governo, tanta falta de respeito pelas pessoas e o vale tudo de sempre, só o voto os poderá travar. É esse o desafio.

Membro da comissão política nacional do PS
Escreve à quinta-feira

Só o voto os poderá parar


Recuperado Dias Loureiro, regressado Miguel Relvas, prolifera a falta de senso, o vale tudo e o esforço de Passos para passar a ideia de não ter havido e não haver alternativa. Só na morte é assim.


© Raquel Wise

É um caso perdido. O governo de Passos e de Portas perdeu o que restava de senso. Enquanto o primeiro-ministro se entretém a fazer de força de bloqueio à Grécia e o Presidente da República exercita uma ridícula contabilidade, como se a saída de um país da zona euro fosse uma irrelevância política, sucedem-se as contradições, o uso do poder à ganância e a indiferença perante os sinais preocupantes da sociedade e do mundo.

Contradições

Num avanço civilizacional do ponto de vista do reconhecimento dos direitos, o Supremo Tribunal norte-americano legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a direita em Portugal resolveu responder com uma espécie de ajuste de contas, impondo taxas moderadoras na interrupção voluntária da gravidez.

Enquanto a Rede Europeia de Centros e Museus de Ciência cria os Prémios Mariano Gago, em homenagem ao seu contributo para a investigação e para a ciência em Portugal, Passos Coelho encerra quatro dos 12 laboratórios que zelam pela segurança da água para consumo. Por falar em água, o mesmo governo que quer empurrar para as autarquias competências na educação, na cultura e na saúde impõe a sua vontade unilateral, à bruta e sem respeito pelas posições accionistas dos municípios, no processo de fusão dos sistemas de abastecimento de água. O tal que vai levar ao aumento do preço da água no litoral.

O uso do poder à ganância 

Em 2012, Passos e Portas encerraram sete embaixadas, duas missões diplomáticas e cinco vice-consulados. Com o argumento da poupança, deixaram sem apoio de proximidade milhares de portugueses, justamente no momento em que a nova vaga de emigrantes acontecia, em consonância com a falta de oportunidades em território nacional e com as sugestões do governo.

Agora, Passos Coelho vai reabrir a missão da UNESCO para colocar o actual chefe de gabinete (o anterior está em Madrid), Machete quer colocar o seu chefe de gabinete em Paris e até uma deputada do PSD em funções tem cartão de embarque para adida técnica principal na área social na embaixada de Portugal em Berna, Suíça. Um fartar vilanagem que chega à utilização da máquina do Estado para fins partidários.

Em Maio, o gabinete do Ministro Poiares Maduro coordenava com os restantes gabinetes a elaboração de um argumentário contra as propostas do PS. Em Junho, a ministra da Justiça sentenciou a avaliação do programa eleitoral do PS e o ministro da Economia investiu em idêntica iniciativa. Como vale tudo, a Segurança Social contratou, em ajuste directo de 75 mil euros, um estudo sobre a sustentabilidade das pensões a Jorge Bravo que está a participar na elaboração do programa eleitoral do PSD. 

Indiferença perante os sinais 

Enleado nas narrativas que constrói, o governo de Passos e Portas mantém uma indiferença olímpica perante o mal-estar em três pilares fundamentais do Estado: a Defesa Nacional, a Justiça e a Administração Interna. Nuns casos por excessiva verborreia e arrogância dos membros do governo, noutros casos por inexistência do titular, como é o caso da Administração Interna. Sempre por responsabilidade política de Pedro Passos Coelho.

E depois há tudo o resto. Há 5 mil empresas portuguesas que dependem em 100% das exportações para Angola e mais de 3 mil portugueses que regressaram por falta de trabalho. Em Maio, a taxa de desemprego subiu para os 13,2%, apesar da limpeza de desempregados das estatísticas e da criação sazonal de empregos. Portugal tem a quinta taxa de desemprego mais elevada da União Europeia.

O Tribunal de Contas considerou que as privatizações da EDP e da REN não acautelaram os “interesses estratégicos do Estado”. A Unidade Técnica de Apoio Orçamental avisa que, com um défice orçamental de 5,8 % no primeiro trimestre, a meta anual do défice pode estar em risco. Vem aí um Verão sem limites. Depois do branqueamento dos últimos quatro anos, estão a retomar a tese do “podia ter sido tudo muito pior”.

O livro de Miguel Relvas é mais um instrumento dessa propaganda. Depois de Passos Coelho recuperar Dias Loureiro, por que é que Miguel Relvas ficaria quieto a assistir às fantasias? Com tanta falta de senso dos políticos do governo, tanta falta de respeito pelas pessoas e o vale tudo de sempre, só o voto os poderá travar. É esse o desafio.

Membro da comissão política nacional do PS
Escreve à quinta-feira