Quando uma família parte de férias, a última coisa que passa pela cabeça de alguém é que não regressarão todos a casa. Mas foi o que aconteceu aos Forkan.
A 26 de Dezembro de 2004, o tsunami que devastou o SriLanka e outros países da região e provocou a morte a 230 mil pessoas devastou também a família dos quatro irmãos: Rob, Paul, Mattie e Rosie.
Na manhã em que os jovens, com idades entre os oito e os 17 anos, ainda brincavam com os presentes do Natal, recebidos na véspera, a vida que conheciam, terminou. Há muitos anos que a família Forkan trocara o Sul de Londres pelo Oriente. Apaixonados por viagens, depois da primeira ida à Índia a família decidiu mudar-se para lá, de forma a viajarem pelo país. Ao fim de seis meses regressaram a Inglaterra, apenas para perceberem que preferiam viver na Índia. Cada vez mais, a família Forkan afastava-se de uma vida convencional para se entregar ao exotismo indiano.
Depois de três anos em viagem, em 2004, uma semana antes do Natal, apanharam um avião da Índia para Colombo, capital do Sri Lanka, e, após algumas viagens mais a norte do país, rumaram a sul, para a praia de Weligama, a 30 quilómetros de Galle. A véspera e o dia de Natal foram passados na praia, a fazer surf e a jogar críquete e futebol. A 25, ao despertar, trocaram presentes e falaram sobre o que seria o futuro da família depois desta viagem: continuar na Índia ou voltar a Inglaterra. Deitaram-se sem imaginar que nada voltaria a ser igual.
Na manhã em que o mar se zangou com a terra, os dois irmãos mais velhos, de 15 e 17 anos, estavam no bungalow a dormir. Num outro bungalow estavam os pais e os dois irmãos mais novos. Quando a água começou a invadir as cabanas, Rob e Paul conseguiram fugir e salvar Mattie. Dias depois encontraram Rosie.Mas começava aí a busca pelos pais que os levou a percorrer mais de 200 quilómetros noSri Lanka. Apenas para encontrarem a pior das respostas.
“Os nossos pais sempre nos disseram que, quando acontece algo mau, devemos tentar transformá-lo em algo positivo.” Esta frase tornou-se uma espécie de mantra para os irmãos, que entretanto se instalaram em Inglaterra, ao cuidado de outros familiares.
Em 2011, a partir do seu quarto, em Brixton, Rob e Paul criaram chinelos a partir de materiais naturais e com tiras entrançadas a que deram o nome de Gandys, já que se inspiraram em Mahatma Gandhi.
O objectivo era angariar fundos para a Orphans for Orphans, associação que entretanto criaram para ajudar outros órfãos.
Só nos primeiros dois anos venderam 150 mil chinelos e conquistaram celebridades como Richard Branson, Jamie Oliver, Jessie J, Stephen Fry ou os One Direction. Opríncipe William recebeu-os no Palácio de Buckingham, onde a dupla apareceu de chinelos.
Em 2014 conseguiram concretizar a segunda parte do seu sonho: a abertura de um lar para órfãos em Goa. Hoje em dia, dizem, “fecharam um ciclo”. “Corremos o mundo com os nossos pais porque eles abdicaram da vida que tinham para nos mostrarem outras culturas e fazerem trabalho de voluntariado. Agora somos nós que o fazemos.” A história de Rob e Paul é contada, na primeira pessoa, num livro agora lançado em Portugal, “Os Miúdos do Tsunami”. (ed. ASA).