O labirinto greco-europeu


Se a falência de um banco americano gerou uma crise mundial, imagine-se o que pode acontecer com o afundar da Grécia.


O futuro da Grécia, do euro e da própria coesão europeia está mais no domínio da fé ou da astrologia do que de outra coisa. A única certeza é que a crise pode extravasar para o resto do mundo, como demonstram as declarações preocupadas de americanos e chineses.

Os desenvolvimentos dramáticos e rudes do confronto tornaram óbvio que da parte da União e de quem nela manda (a Alemanha) houve a intenção de castigar Tsipras e Varoufakis que, em desespero de causa, esticaram a corda até ao limite, acabando corridos de uma reunião do Eurogrupo, o que envergonhou o próprio Juncker. Perante a brutalidade dos seus parceiros inimigos, Tsipras deu o salto em frente, convocou um referendo e apelou ao voto “não às propostas da União”. Esta reagiu e pediu aos gregos para votar “sim”, na esperança de que isso faça cair o governo de Atenas. 

O que aconteceu nos últimos dias demonstra que a Europa (Grécia incluída) e o FMI não têm dirigentes à altura, com a eventual excepção de Draghi. A Europa não tem rumo. Anda só à bolina para não afundar. 

Os sinais de ruptura eram mais do que evidentes há anos. A degradação da economia grega estava à vista. O Syriza (por mau e imaturo que seja) não é causa, mas consequência de políticas anteriores. Acossado, jogou um tudo ou nada que ainda pode ir mais longe se for necessário. Até porque sabe que os tratados não prevêem mecanismos de saída do euro, nem isso será perguntado se o referendo efectivamente se fizer e for válido.

O curioso é que no meio da confusão criada e do limite drástico de acesso a dinheiro imposto aos gregos, já pouco se ligava ontem aos 1600 mil milhões que tinham de ser pagos ao FMI pela Grécia até ao fim do dia. Avançava-se directamente para a forma de viabilizar um terceiro resgate para evitar o caos global, independentemente do governo que estiver em funções. Astutos, os gregos tentavam pôr o FMI fora dessa negociação, procurando centrar o problema só na Europa da União e, se possível, do euro. De passagem fragilizaram uma Christine Lagarde em campanha para a reeleição e envolvida num escândalo francês de financiamento ao sinistro mafioso Bernard Tapie.

A labiríntica situação é muito perigosa. Se a queda de um banco americano gerou uma depressão mundial, imagine-se o que pode advir de uma ruptura na Grécia. Os pessimistas falam de crise planetária, e os moderados de descalabro do euro e da União. Os optimistas, como Cavaco, consolam-se dizendo que sobram 18 países no euro, havendo quem queira entrar. Para Portugal, qualquer abalo pode ser dramático porque os bancos são frágeis e apenas o Estado parece estar precavido para aguentar pagamentos uns meses.

É preciso ter consciência de que, se forem encostados à parede, os gregos podem subir a parada para patamares verdadeiramente explosivos, como questionar a presença na NATO. Por mais absurdo que pareça, este reforçado cenário catastrófico existe e contribuiu para pôr Obama a pressionar Merkel. Washington sabe que a saída da NATO estará logo em cima da mesa se Atenas se virar para Moscovo.

Dada a sua situação geoestratégica, a Grécia é um ponto de convergência de um sem-número de interesses antagónicos. Foi por isso que entrou para a NATO e que a então CEE a chamou para o seu universo. E foi também por isso que a Europa ajudou vezes sem conta os vários governos de Atenas a falsificar as contas que foram apresentando, somando dois tipos de chico-espertismo. Logo a seguir à adesão teria sido possível pôr ordem na governação helénica. Hoje há um preço a pagar pela paz que Atenas assegura num mundo em convulsão permanente. Com ou sem Syriza, é isso que está em causa. E depois do desastre, de pouco servirá apurar de quem é a culpa…

O zelo regulador português 
Depois de lhe terem passado ao lado escândalos financeiros de assombrosa dimensão, o Banco de Portugal anda agora numa azáfama controladora junto das entidades sobre as quais ainda tem competências de regulação. Não podendo meter directamente prego nem estopa nos grandes grupos bancários nacionais que ficaram na alçada do BCE, os operacionais do banco central desunham--se à procura de minudências nas instituições mais pequenas, segundo reportam fontes bancárias. Percebe-se. São esses que podem ser interpelados pelo zelo de certos quadros que, assim, preservam os seus lugares, dado que nem todos podem andar a produzir relatórios de duvidosa utilidade. 

Jornalista
Director da Newshold
Escreve à quarta-feira 

O labirinto greco-europeu


Se a falência de um banco americano gerou uma crise mundial, imagine-se o que pode acontecer com o afundar da Grécia.


O futuro da Grécia, do euro e da própria coesão europeia está mais no domínio da fé ou da astrologia do que de outra coisa. A única certeza é que a crise pode extravasar para o resto do mundo, como demonstram as declarações preocupadas de americanos e chineses.

Os desenvolvimentos dramáticos e rudes do confronto tornaram óbvio que da parte da União e de quem nela manda (a Alemanha) houve a intenção de castigar Tsipras e Varoufakis que, em desespero de causa, esticaram a corda até ao limite, acabando corridos de uma reunião do Eurogrupo, o que envergonhou o próprio Juncker. Perante a brutalidade dos seus parceiros inimigos, Tsipras deu o salto em frente, convocou um referendo e apelou ao voto “não às propostas da União”. Esta reagiu e pediu aos gregos para votar “sim”, na esperança de que isso faça cair o governo de Atenas. 

O que aconteceu nos últimos dias demonstra que a Europa (Grécia incluída) e o FMI não têm dirigentes à altura, com a eventual excepção de Draghi. A Europa não tem rumo. Anda só à bolina para não afundar. 

Os sinais de ruptura eram mais do que evidentes há anos. A degradação da economia grega estava à vista. O Syriza (por mau e imaturo que seja) não é causa, mas consequência de políticas anteriores. Acossado, jogou um tudo ou nada que ainda pode ir mais longe se for necessário. Até porque sabe que os tratados não prevêem mecanismos de saída do euro, nem isso será perguntado se o referendo efectivamente se fizer e for válido.

O curioso é que no meio da confusão criada e do limite drástico de acesso a dinheiro imposto aos gregos, já pouco se ligava ontem aos 1600 mil milhões que tinham de ser pagos ao FMI pela Grécia até ao fim do dia. Avançava-se directamente para a forma de viabilizar um terceiro resgate para evitar o caos global, independentemente do governo que estiver em funções. Astutos, os gregos tentavam pôr o FMI fora dessa negociação, procurando centrar o problema só na Europa da União e, se possível, do euro. De passagem fragilizaram uma Christine Lagarde em campanha para a reeleição e envolvida num escândalo francês de financiamento ao sinistro mafioso Bernard Tapie.

A labiríntica situação é muito perigosa. Se a queda de um banco americano gerou uma depressão mundial, imagine-se o que pode advir de uma ruptura na Grécia. Os pessimistas falam de crise planetária, e os moderados de descalabro do euro e da União. Os optimistas, como Cavaco, consolam-se dizendo que sobram 18 países no euro, havendo quem queira entrar. Para Portugal, qualquer abalo pode ser dramático porque os bancos são frágeis e apenas o Estado parece estar precavido para aguentar pagamentos uns meses.

É preciso ter consciência de que, se forem encostados à parede, os gregos podem subir a parada para patamares verdadeiramente explosivos, como questionar a presença na NATO. Por mais absurdo que pareça, este reforçado cenário catastrófico existe e contribuiu para pôr Obama a pressionar Merkel. Washington sabe que a saída da NATO estará logo em cima da mesa se Atenas se virar para Moscovo.

Dada a sua situação geoestratégica, a Grécia é um ponto de convergência de um sem-número de interesses antagónicos. Foi por isso que entrou para a NATO e que a então CEE a chamou para o seu universo. E foi também por isso que a Europa ajudou vezes sem conta os vários governos de Atenas a falsificar as contas que foram apresentando, somando dois tipos de chico-espertismo. Logo a seguir à adesão teria sido possível pôr ordem na governação helénica. Hoje há um preço a pagar pela paz que Atenas assegura num mundo em convulsão permanente. Com ou sem Syriza, é isso que está em causa. E depois do desastre, de pouco servirá apurar de quem é a culpa…

O zelo regulador português 
Depois de lhe terem passado ao lado escândalos financeiros de assombrosa dimensão, o Banco de Portugal anda agora numa azáfama controladora junto das entidades sobre as quais ainda tem competências de regulação. Não podendo meter directamente prego nem estopa nos grandes grupos bancários nacionais que ficaram na alçada do BCE, os operacionais do banco central desunham--se à procura de minudências nas instituições mais pequenas, segundo reportam fontes bancárias. Percebe-se. São esses que podem ser interpelados pelo zelo de certos quadros que, assim, preservam os seus lugares, dado que nem todos podem andar a produzir relatórios de duvidosa utilidade. 

Jornalista
Director da Newshold
Escreve à quarta-feira